2013 novembro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para novembro, 2013

Gato diabólico

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Eu morria de medo, mas adorava ouvir histórias assombrosas em meus tempos de menino. Meu pai contava que meu avô fora homem de coragem e aceitara o desafio de passar uma noite numa casa abandonada de fazenda que se dizia ser assombrada. Nos tempos da escravidão ali morara um fazendeiro muito cruel com seus escravos, muitos deles tendo morrido no local devido aos sofrimentos impostos. Depois da morte do fazendeiro e abolida a escravidão a casa deixou de ser utilizada por ser impossível ficar nela, daí a fama que tinha de lugar pertencente aos mortos no qual nenhum vivo deveria se intrometer.

Lembro-me perfeitamente dos silêncios em meio à narrativa de meu pai, acossando ainda mais a curiosidade dos ouvintes que queriam saber o que, afinal, acontecera ao meu avô na noite que passara na casa. Mas, o final da história não era lá dos mais aterrorizantes. Aconteceu ao meu avô não conseguir pegar no sono de jeito nenhum. Não havendo luz elétrica e ficando na dependência da chama de uma vela, meu avô enfrentou situação peculiar na qual não faltaram ruídos estranhos semelhantes aos de correntes sendo arrastadas. Seriam, talvez, as almas penadas dos negros ali torturados que permaneciam ligados ao lugar de seus sofrimentos. O certo é que foi tamanha a balbúrdia noturna na casa deserta que antes do raiar do dia meu avô decidiu que já se arriscara o suficiente num lugar tomado por acontecimentos inexplicáveis. Segundo meu pai, meu avô afirmou não ter em nenhum momento sentido medo: saiu da casa por prezar sua segurança pessoal dada qualquer impossibilidade de reação caso uma força do outro mundo viesse a afrontá-lo.

No passado os corpos de pessoas mortas eram velados em suas casas, sendo incomum a existência de velórios em cemitérios. Deve ainda ser assim nos interiores desse imenso Brasil. O caixão era colocado no centro da sala e ali permanecia até a hora de saída do enterro, em geral no dia seguinte. Na casa de minha avó, construção antiga hoje substituída por um prédio, havia uma sala enorme que servia a todas as comemorações da família. Mas, ali também se velavam os mortos. Depois, como a família era grande, em geral sobrava para alguém dormir naquela sala, cercado por um biombo que garantia a privacidade. Vi tanta gente dentro de caixões ali que não se ainda hoje, se a casa ainda existisse, gostaria de dormir nela: não seria impossível que durante a madrugada no cérebro do homem que me tornei de repente revivesse o menino temeroso de algum encontro com almas do outro mundo.

Hoje em dia não se fala muito no demônio e o cinema banalizou demais a imagem de Mefistófeles. Crianças habituam-se a demônios com chifres em desenhos animados e não levam a sério o ser do mal cuja missão é atrair os pecadores para o fogo do inferno. Mas, há quem tema as ações do demônio, acreditando que ele possa assenhorar-se de corpos de pessoas e animais. Em muitos credos a prática de exorcismo é comum, vejam-se programas televisivos de algumas religiões nos quais pastores se empenham para livrar pessoas dos demônios que afirmam ter possuído seus corpos.

Está acontecendo num lugarejo da Inglaterra um fato inusitado. De fato, as pessoas do lugar estão atribuindo ao estranho comportamento de um gato características diabólicas. Shiny -assim se chama o diabólico felino – é acusado de ter atacado crianças, adultos e até cachorros. As vítimas assustadas trancam as portas de suas casas e se armam com mangueiras para se defender em caso de ataque do terrível Shiny. Mordidas numa senhora de 90 anos, ataque a uma mulher causando ferimentos que necessitaram de atendimento hospitalar e outras atitudes violentas do gato têm provocado vários chamados à polícia.

Os donos de Shiny afirmam que ele vive na rua e ficou bem manso depois de ser castrado. Acreditam, ainda, que as pessoas atacadas tenham feito algo que provocou a reação do gato. Mas, para a população do vilarejo Shiny não é um gato normal, trata-se de um animal diabólico, sabe-se lá por que razão, talvez por ter incorporado algum espírito maligno.

Casos estranhos

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No novo filme do Superman a destruição de Krypton acontece porque os kryptonianos destruíram o meio ambiente, provocando a explosão do planeta. Jor-El, o pai do nosso Supeman, salvou-o enviando-o a Terra antes da destruição. Mas o bebê não foi o único kryptoniano a sobreviver: um general e seus seguidores que tinham sido punidos sobreviveram e quando essa turma vem à Terra para procurar o kryptoniano criado por um casal de norte-americanos as coisas se complicam. Mas, chama a atenção a incrível tecnologia dos kryptonianos, muito mais avançada que a dos pobres humanos. Naves que se movimentam em velocidades nem sonhadas na Terra, armas incríveis, superpoderes e muita destruição garantem aos espectadores pouco mais de duas horas de excelente diversão.

A existência de seres extraterrestres é assunto inesgotável. Difícil acreditar que existam; também difícil imaginar um universo tão vasto no qual apenas no nosso pequeno planeta exista vida. Há muita gente que garante ter visto naves extraterrestres e alguns juram que foram abduzidos. Os casos de abdução giram em torno de exames realizados em naves para reconhecimento da natureza dos terráqueos e até mesmo contatos sexuais. Talvez jamais venhamos conhecer a verdade sobre esses casos.

Relatos de casos inexplicáveis sempre impressionam. Tenho um amigo que garante ter visto em terra uma nave alienígena durante uma viagem que fez durante a madrugada. Mas, há casos misteriosos sobre os quais nada se pode dizer além de atribuí-los a prodígios de imaginação. Quem se lembra do relato sobre um homem que, numa noite de neblina, parou num posto com seu carro para abastecer e surpreendeu-se na hora de pagar porque não aceitaram o dinheiro dele? Consta que, misteriosamente, ele havia sido transportado para outro país daí suas notas não serem reconhecidas como dinheiro válido no posto em que se encontrava.

O caso do homem que entrou numa nuvem de neblina e saiu em outro país é fantástico demais para que demos crédito a ele. Entretanto, que dizer dessa senhora norte-americana que saiu de casa para ir a uma biblioteca e perdeu-se indo parar no México?  O marido preocupado foi à polícia para informar sobre o desaparecimento. A mulher diz não ter percebido que atravessara a fronteira. Teve seu carro roubado, foi expulsa de um hotel por não pagar a conta e só retornou para casa quatro dias depois.

O caso da mulher que se perdeu a caminho da biblioteca indo parar no México me leva a repensar a transferência de um país a outro do sujeito que parou num posto de serviço para abastecer o carro. Sempre desconfiei de que nesse mundo tudo é possível, quem sabe até a ação de forças desconhecidas que de um instante para outro se manifestem criando fatos inexplicáveis.

O sentido da vida

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Assisti pela TV à palestra de um filósofo. A certa altura ele disse que muita gente se pergunta sobre o sentido da vida. Para muitas pessoas não há sentido numa vida que se passa num planeta pequeno, quase nada mais que um grão de poeira dentro da imensidão do Cosmos. Além disso, como ver sentido numa vida de tão curta duração?

A partir daí o filósofo pergunta se o sentido estaria em habitar um planeta enorme e ter uma vida mais longa. Conclui que não. Explica que para ele a vida ganha sentido diante de um sorriso do filho ou quando reencontra a mulher após dias ausente de casa.

Não há como não se perguntar sobre o sentido da vida quando se chega à velhice. A constatação de que a trajetória anterior vivida quase nada significa diante da proximidade do fim abala as certezas que temos a respeito de quase tudo. A ação do envelhecimento sobre o corpo que se torna passível de crescentes limitações torna-se angustiante quando se chega ao terço final da vida.

Mas, a vida é assim e nisso se resume toda a sua beleza. Realmente a eternidade não nos conviria, pelo menos dentro do sistema de vida que conhecemos. Seria cansativo demais, desestimulante até, saber-se que a vida poderia durar duzentos anos, por exemplo. Afinal, o que teríamos a fazer no segundo século de existência quando já não teríamos a força da juventude?

A vida é um fenômeno fantástico inventado por um cérebro genial, seja ele Deus ou não. No mundo em que vivemos e com o organismo que temos a vida parece ser exatamente cronometrada para que saiamos dela sem queixas pelo menos quanto à duração.

Os biógrafos de Machado de Assis escrevem sobre seus últimos dias de vida, marcados pela doença e o sofrimento. A grande mente do nosso maior romancista entregava-se ao inevitável como o fazem todos os seres humanos. Mário de Alencar, filho do escritor José de Alencar, escreveu que não teve forças para ficar junto de Machado na fase final de seu sofrimento. Mas, as pessoas que na ocasião o acompanhavam relatam que suas últimas palavras foram:

- A vida é boa…

Pois é, a vida é boa e talvez seja esse o maior sentido que possamos associar ao tempo que passamos nesse mundo.

Questão de temperamento

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Você certamente conhece alguma pessoa “esquentada”. Tem gente que vai do zero ao mil em segundos. Trata-se de algo incontrolável que emerge em situações inesperadas. Por vezes um problema pequeno, um detalhe que não chega a merecer atenção funciona como estopim. De repente a pessoa parece sair de si e age muitas vezes irresponsavelmente.

A crise costuma passar depressa. Tive um parente que tinha um temperamento miserável. Explodia, mas logo se acalmava e tornava ser a excelente pessoa que sempre foi. Há casos mais graves que demoram a se resolver. O temperamento explosivo tolhe o raciocínio e leva pessoas a atitudes das quais pode vir a se arrepender depois.

Li num dos livros do grande filósofo político italiano Noberto Bobbio a confissão de que ele tinha temperamento quente, desses sujeitos a chuvas e trovoadas. Grande historiador do pensamento político Bobbio deixou-nos obra esclarecedora contida em vários livros. Professor universitário, senador vitalício, homem dotado de vastíssima cultura ainda assim refém de seu temperamento. Em outras palavras, trata-se de uma característica inata a custo melhorada e parcialmente contida ao longo da existência.

Desconfio que o Ministro Joaquim Barbosa pertença ao batalhão das pessoas que nem sempre conseguem frear a própria impulsividade. Homem franco e correto, diz ele o que pensa, não apelando para subterfúgios. Dada a importância da posição que ocupa e a visibilidade do cargo fica o ministro à mercê de comentários nem sempre favoráveis. No caso da prisão dos mensaleiros a óbvia intenção do ministro foi a de fazer cumprir a lei. Mas, há quem o acuse de tê-lo feito atabalhoadamente. Trata-se de assunto delicado no qual divergem as opiniões de magistrados, advogados e juristas em geral.  O fato é que se espera que qualquer pessoa uma vez condenada receba o mesmo tratamento destinado a todos os presos.

Em todo caso vale lembrar de que mil vezes prefiro um temperamento esquentado a outro de natureza amorfa. Com os esquentados se discute e chega-se a alguma conclusão. Os amorfos são fechados, recolhem-se a acabam dando nos nervos da gente.

A “ordem natural”

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Não há coisa que nos faça pensar mais sobre a brevidade da vida que olhar velhas fotografias. Temo que as fotos digitais contribuam para enfraquecer as memórias fotográficas. Hoje em dia qualquer pessoa dispõe de uma câmera que permite a ela clicar a vontade. Nada parecido com o que ocorria em passado recente quando os filmes das máquinas tinham 12, 24 ou 36 poses. Então era melhor pensar um pouco antes de bater a foto dada a limitação do número de negativos. Agora se fotografa tudo por conta da existência de dispositivos dotados de grande capacidade de armazenamento.

O problema é justamente que fotos digitais ficam armazenadas em HDs, CDs e pen-drives. Nem todo mundo imprime essas fotos porque pode-se acessá-las no computador a qualquer momento. Essa situação é bem diferente daquela em que levávamos os filmes para serem revelados e as fotos escolhidas eram impressas. As minhas fotos antigas estão bem guardadas em caixas as quais procuro quando quero vê-las.

Pois é. O problema começa quando por acaso damos com uma dessas caixas e decidimos dar uma olhada no conteúdo delas. De repente, temos nas mãos fotografias de pessoas já mortas com quem convivemos no passado. Revê-las, ainda que estáticas no papel fotográfico, nos desperta lembranças. É quando revivemos situações das quais participaram pessoas desaparecidas. Lembro-me, por exemplo, da casa de meus pais e de coisas que eram importantes para eles na época em que viveram. A morte colocou fim a preocupações que para eles se figuravam eternas. Empenhados nas questões do dia-a-dia não nos permitimos raciocinar sobre o fato de que, afinal, tudo termina até mesmo a vida.

Queira-se ou não a regra que comanda esse mundo é a “ordem natural” contra a qual nada se pode fazer. Nascimento, vida e morte fazem parte de um pacote que recebemos ao sermos concebidos através da união carnal de nossos pais. A partir daí as águas do rio seguem inexoravelmente o seu curso e nada pode deter a passagem do tempo. No fim das contas talvez o que reste daquilo que somos nada mais seja que uma fotografia amarelecida guardada numa caixa.

Mas, que fazer se essa é a “ordem natural” sobre a qual não podemos interferir?

22 de novembro de 1963

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No início da tarde de 22 e novembro de 1963 desci do bonde que cruzara a Serra da Mantiqueira, desembarcando em Campos do Jordão. Os que hoje ouvem falar sobre Campos como centro do turismo de inverno no Brasil talvez não façam ideia de que, em 1963, a cidade ainda tinha vários sanatórios para internação de tuberculosos. Campos era um grande centro de tratamento da tuberculose. Nada a ver, portanto, com o turismo que só se tornaria a realidade que hoje se conhece décadas depois.

Da estação da Abernéssia fui para o ginásio estadual cujo prédio localizava-se no alto de uma das colinas da cidade. Rapazote de 14 anos de idade eu cursava a quarta série do ginásio, último ano do ciclo que antecedia o que hoje se chama de Ensino Médio.

Entretanto, naquela tarde não teríamos todas as aulas. A certa altura entrou em nossa classe o diretor do ginásio e avisou-nos que as aulas estavam encerradas. Surpresos, guardamos os nossos cadernos e saímos da escola.

Lembro-me muito bem do trajeto de volta da escola. A massa de alunos - os rapazes vestidos como eu de uniforme cáqui - descia apressada, em silêncio só de vez em quando interrompido por alguém que perguntava sobre o quê, afinal, estaria acontecendo.

Quando cheguei à estação vi algumas pessoas no bar, silenciosas e ouvindo atentamente ao rádio. Só então fiquei sabendo que o presidente dos EUA, John Kennedy havia sido assassinado na cidade de Dallas. Era essa a razão pela qual fôramos dispensados das aulas.

Reinava no ambiente a atmosfera de apreensão. Falava-se sobre os desentendimentos de Kennedy com Nikita Kruschev , o Primeiro Ministro da Rússia. Em tempos de Guerra Fria aventava-se a possibilidade de uma guerra nuclear que levaria ao fim do mundo. Especulava-se, também, sobre a participação de Fidel Castro no desencadeamento do atentado que matara o presidente. Muito viva nas memórias, então, as lembranças do episódio da Crise dos Mísseis, ocorrida um ano antes, que quase deflagrara a guerra mundial.

Eram tempos nos quais o mundo parecia grande demais e notícias vindas de tão longe soavam muito ameaçadoras. Não nos dávamos conta de que vivíamos num interior ainda mal servido por estradas e recursos, infinitamente distantes dos centros onde se tramavam os rumos do mundo. O Brasil pertencia ao bloco dos países do terceiro-mundo, atrasados, e o que se discutia por aqui era a urgência de desenvolvimento.

Cheguei à minha casa à noite, após a viagem de retorno no bonde. Na época morávamos num distrito cuja população seria de pouco mais de 500 habitantes. Quando entrei, encontrei meu pai junto ao rádio da sala, ouvindo notícias. Ao lado dele um amigo que vez ou outra anunciava: agora mesmo é que o mundo acaba!

Mas, dormi tranquilamente e, como se sabe, até hoje os homens que mandam não conseguiram acabar com o mundo.

E dizer que são passados exatamente 50 anos daquele dia fatídico em que o mundo tremeu porque um atirador atingiu o seu alvo que desfilava em carro aberto nas ruas de Dallas.

No mundo dos sommelièrs

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Confesso que gosto de um bom copo de vinho em geral bebo à noite. Solto os cachorros contra a política do governo que aplica altas taxas sobre os vinhos importados. Decorre daí que pagamos caro por vinhos que no exterior se classificam em níveis baixos na classificação por pontos. Paralelamente, a indústria nacional de vinhos avança com a colheita de uvas selecionadas no sul do país. Não sei dizer se os melhores vinhos nacionais se equiparam aos vinhos estrangeiros de excelência. Certa vez estive no Chile e fiquei boquiaberto com a variedade de vinhos à venda nos supermercados. Eram de muitos tipos, classificados nas prateleiras segundo a localização das videiras nas vinícolas. Endoidei. Isso sem falar nos preços muito mais acessíveis pelos quais se pode adquirir vinhos excelentes.

Itália, França, Portugal, Alemanha, Argentina e muitos outros países produzem bons vinhos, alguns caríssimos. Acho fantástico o conhecimento de algumas pessoas sobre vinhos. Paladares muito apurados permitem distinguir não só o tipo de vinho como até mesmo a safra à qual pertence. Pessoalmente nunca falei com um sommelière, mas assisto a alguns programas de TV no qual um deles ensina sobre vinhos.

Existe um filme de 1962 estrelado pelos atores Vincent Price e Peter Lorre aqui exibido com o título “Muralhas de Pavor”.  Price é o maior conhecedor de vinhos do mundo e está num restaurante provando-os para identificá-los. Diante de uma roda de entendidos ele recebe doses de diferentes vinhos e diz de qual se trata e o ano da produção. Está exibindo seus conhecimentos quando aparece um bêbado que acaba de ser expulso de uma taverna - Peter Lorre  -  que o  desafia. Seguem-se cenas nas quais Price utiliza requintes exagerados para reconhecer vinhos, primeiro com o olfato, depois com pequenas quantidades na boca, fazendo o líquido circular nas regiões da língua antes de emitir o seu diagnóstico. Lorre não faz nada disso: enche o copo, vira de um só gole e diz exatamente de qual vinho se trata e a safra. Quando termina o desafio, Price leva o bêbado para a sua casa e a partir daí é preciso ver o filme para saber-se o que acontece nessa trama que se apoia nos contos de Edgard Allan Poe.

Talvez pelo calor - e também pelo preço - a cerveja tem preferência dos bebedores nacionais. Em qualquer bar ou barzinho pelo qual se passa pode-se observar nas mesas garrafas de cerveja ou copos de chope. Tenho um conhecido que jura que só se percebe se uma cerveja é boa ou não na primeira garrafa. Segundo ele depois da segunda ou no máximo na terceira qualquer cerveja bem gelada desce bem. Não sei, não. No Brasil tem crescido a quantidade de cervejas artesanais, em geral muito boas. Mas, parece que o meu conhecido não tem razão porque se verifica que muitos bebedores passam a exigir cervejas de melhor qualidade.

Por falar em sommelièrs é bom lembrar de que existem os especializados em cervejas. A boa notícia é a de que uma brasileira recebeu a medalha de bronze - terceiro lugar - num concurso mundial entre sommelièrs de cerveja realizado na Alemanha. Participaram 53 sommelièrs e ela conseguiu a expressiva classificação que talvez até resulte na realização do próximo concurso no Brasil.

Para alcançar a medalha a sommelière brasileira treinou durante 7 meses, bebendo uma noite por semana. Mas, não basta treino para vir a ser sommelière: é preciso conhecimento, senso crítico, capacidade de reflexão e paladar apurado. Para os interessados existem vários cursos que são divulgados pela internet. Um deles, bastante completo, é oferecido pelo SENAC.

Por fim, se beber não dirija.

Mundo trágico

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Não me saem da cabeça as cenas de destruição nas Filipinas. De repente um tufão passa pelo país e arrebenta com tudo o que encontra pela frente. Uma brasileira que veio das Filipinas sintetizou: o que existe lá é só morte.

Morte e escombros. Em toda parte um mundo transformado em montanhas de lixo, pedaços de materiais empilhados formando paisagem desolada. Tudo é triste. Medonhas as cenas dos sobreviventes que simplesmente não têm para onde ir e pedem ajuda pelo amor de Deus.

Nessas horas não há como não se pensar nos avisos sobre as agressões ao ambiente e as terríveis consequências que podem advir do desequilíbrio do ecossistema terrestre. A sociedade mecanizada e animada pelos avanços da tecnologia se transforma num monstrengo cuja força se desconhece. O homem é um ser que, por natureza, gosta de desafiar limites. Está no sangue. Só que a Terra tem mostrado sinais de cansaço diante de tantas agressões. Até onde subsistirá o planeta devolvendo ao homem tudo o que ele precisa para sobreviver?

Não dá para imaginar a situação de se estar em meio a um tufão cuja velocidade dos ventos ultrapassa os 300 km por hora.  Há muitos anos vivenciei o medo provocado pela passagem de um tornado. Estava numa cidade do interior e dormia quando fui acordado por um grande estrondo. A madrugada se tornara clara sob os efeitos luminosos de relâmpagos e raios que pareciam cadenciados em suas sequências. Quando o vento chegou vi, pela janela, parte do telhado da casa vizinha ser levado. Na manhã seguinte árvores enormes estavam caídas nas ruas, arrancadas que foram com raízes e tudo do solo.

Pobres filipinos que agora necessitam da ajuda humanitária de outros países. Nas faces das sobreviventes observam-se sinais de desespero. De um instante para outro o passado dá lugar a um tempo de incertezas diante de uma situação na qual a reconstrução do mundo em que viviam parece ser impossível.

A prisão dos condenados

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A prisão dos condenados do mensalão está dando o que falar. Não mais que derrepente o ministro Joaquim Barbosa expediu ordens de prisão para os condenados. Tapa na boca dos arautos que cornetavam que essa coisa toda ia acabar em pizza. Aliás, bom que se diga que a palavra pizza - o correto é escrever píteça - vai virando sinônimo de Brasil.

Segundo os entendidos o esquema montado por PC Farias não passava de brincadeira perto do caso do mensalão. Color perdeu a presidência por conta das acusações de corrupção em seu governo; PC Farias apareceu morto junto com a mulher, sendo que ainda hoje se distute se ele foi assassinado ou não. Mas, passado não move futuro.Ou move?

Calaram fundo na alma popular as denúncias feitas pelo então Procurador Geral da República Roberto Gurgel. Ele disse que o mensalão foi o maior caso de corrupção na história do país. Em assim sendo a prisão dos condenados era esperada e deveria mesmo ser realizada.

Ficam no ar as imagens de condenados no momento em que se entregaram à Polícia Federal. José Genoino declarou considerar-se preso político. Seu partido emitiu nota sobre o julgamento político de seus membros. Mas…

Para o cidadão comum que não tem acesso aos meandros políticos e jurídicos do caso existem algumas dúvidas que incomodam. Deixando de lado as paixões e partidarismos - na medida do possível - fica mais difícil acreditar na inocência que na culpa. Decorre a afirmação anterior da impossibilidade de se acreditar que se tenham passado oito anos entre denúncias, acusações e defesas tudo não passando de uma grande armação para punir inocentes perseguidos politicamente. No caso do mensalão não ter existido há que se rever a estrutura judiciária do país, inclusive o próprio STF que teria sido enganado por manobras engendradas por hábeis mistificadores.

Como diria o primo pobre:quem sou eu primo para meter a colher num caso de tamanha envergadura. Posso, sim, dizer que me pareceram teatrais demais aquelas cenas do Genoino entregando-se à polícia. Pousou de vítima, gritou vivas ao seu partido e foi em frente como um carrneiro seguindo para o sacrfício. Ainda que venha de fato a ser inocente não era para tanto.

O 15 de novembro

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Terão sido a queda do Império e a proclamação da República acontecimentos fortuítos? Os historiadores são unânimes em apontar o desgaste do Império como causa natural de seu fim. Tragédia anunciada,portanto, de vez que o governo de Pedro II já não atendia às necessidades do país. As velhas instutuições imperiais já não faziam frente à demanda de negócios e interesses de um país que a todo custo precisava romper com o atraso.

Entretanto, os fatos que culminaram com a queda do Império tiveram muito de improviso. Embora a crescente propaganda republicana estivesse em curso os civis não dispunham de força e meios para provocar o fim do Império. Valeram-se do exército que se tornara expoente após a Guerra do Paraguai.

No 15 de novembro o Marechal Deodoro da Fonseca estava acamado. Benjamim Constant, ídolo dos estudantes da Escola Militar, visitou Deodoro em sua casa, colocando-o a par da boataria do dia. Foi assim que Deodoro decidiu-se a ir ao Campo de Santana onde tropas revoltosas situavam-se à frente do prédio onde o Ministro Ouro Preto reunía-se com membros do Ministério. De grande importância foi a recusa do ajudante-de-general Floriano Peixoto de atacar as tropas no Campo de Santana. Entendia ele que lá fora estavam soldados de um mesmo corpo contra os quais seria impossível confrontar-se. Foi assim que, sem encontrar resistência, Deodoro entrou no prédio e depôs o ministério Ouro Preto, último da monarquia.

A República só seria referendada numa sessão pública realizada horas depois. Ao amanhecer do dia 15 de novembro não se sabia nas ruas sobre a queda do Império o que motivou o comentário de que a população recebeu bestializada a notícia. Na ocasião D. Pedro II estava em Petrópolis e voltou ao Rio para entender- se com os republicanos. Mas, a essa altura a República já se tornara irreversível.

Seguiu- se a triste saída da família imperial do Brasil, embarcada à noite para evitar qualquer tipo de protesto. Pedro II deixava o país que amara e governara durante 50 longos anos. Morreria alguns anos depois na Europa, causando espécie a simplicidade com que vivera no continente europeu. Fechava-se um ciclo na história do país que experimentaria toda sorte de confrontos políticos daí por diante.

Foi assim