2021 março at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para março, 2021

O rosto

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Reconhecemos nossos semelhantes através do rosto. Através das expressões faciais é possível identificar o estado de espírito daqueles com quem fazemos contato. Alegrias, tristezas, desespero, depressões, violência, passividade, tudo se reflete na fisionomia. É certo que por vezes tenta-se dissimular o que se passa em nosso espírito. A mulher que chora engole lágrimas para que não se veja seu sofrimento. É possível rir enquanto triste, é possível chorar quando muito alegre. Atores são peritos em incorporar personagens. Deixam de ser quem são para assumir aspectos, posturas e modos insuspeitáveis para quem os conhecem fora de representações. Al Pacino está irreconhecível no papel de Big Boy Caprice no filme Dick Tracy. Big Boy não é ele. Ele não está lá…

Mas, seja como for, o rosto trai o que pensamos, identifica-nos. Não temos, como os atores, equipes de maquiadores capazes de transformar faces a ponto de se tornarem tão diferentes deles mesmos. Por isso, andamos por aí com a nossa boa e surrada cara com a qual enfrentamos o mundo.

Há gente de todo tipo, belas e feias. Um belo rosto favorece, pode abrir portas. Os feios nem sempre contam com o agrado das pessoas. O tempo que passa não perdoa belos e feios. Existe na internet certa compulsão em destruir ilusões. Estão nos sites comparações do tipo “como ele está agora” ou “o triste fim de fulano(a) de tal”. Parece existir certo prazer em arruinar a imagem de pessoas a quem admiramos nas suas juventudes. A quem interessa imagens colocadas, lado a lado, de Alain Delon jovem e agora no período final da vida? E de tantos outros ícones das telas a quem o tempo roubou a beleza? Mas, então, Elizabeth Taylor terminou assim? Aquela velha foi Greta Garbo?

Nos tempos que correm a cada dia se buscam meios para disfarçar a velhice, esconder as tão indesejadas rugas. Cirurgias plásticas devolvem pelo menos parte da juventude perdida. Trata-se de um trabalho insano essa luta contra o tempo que insiste em passar. Daí vermos nas telas da TV faces cujos músculos foram engessados por aplicações de produtos como o famoso Botox. Mas, existem o colágeno, o ácido hialurônico. Mas, pelo amor de Deus, não se trata de criticar quem busca se manter com boa aparência. Muito pelo contrário. Entretanto, existem casos em que algumas pessoas passam a ter, inclusive, dificuldade para mover os lábios…

O rosto é nossa impressão digital. Hoje em dia existem técnicas de reconhecimento facial utilizadas para vários meios. Mas, o que nos comove é o que fica gravado em fotografias nas quais permanecem vivas as faces daqueles que se foram. Guardo em casa fotografias de meus país, avós e de tanta gente com quem convivi. Vez ou outra abro a gaveta e os revejo. Estão lá com seus rostos cheios de vida, a mesma vida que um dia perderam.

O Brasil

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O Brasil brasileiro, do samba, carnaval, mulatas etecetera e tal, nossa pátria, nosso chão, nossa casa, nosso tudo a quem amamos perdidamente, terra maravilhosa de climas tropicais invejáveis, país em que tudo dá, terra de dimensões continentais onde vivem 230 milhões de brasileiros, tudo isso e muito mais, pois esse país de conto de fadas, está mais que mal das pernas.

Quem anda por aí a algumas décadas há de ter notado no semblante das pessoas o desconsolo, a irritação, a revolta, a insatisfação com o que se passa. De repente um manto de incertezas cobre tudo e já não se sabe no quê ou em quem acreditar. Desgastam-se os pilares da República e a crise de confiança estampa-se a céu aberto.

Enquanto isso números inimagináveis de óbitos são diariamente divulgados. Ontem quase 2500 pessoas foram a óbito por conta das variantes do coronavírus. E dizer que não houve preparo, previsão, não se tomaram medidas efetivas para que não perdêssemos entes tão queridos.

Agora é mar, diz a letra do samba. Agora é o barquinho num mar revolto e sem marinheiros com soluções para enfrentar o desastre. Aliás soluções existem, aliás soluções sempre existiram. Daí que nas ruas corre a certeza do descaso com a vida, como se perdas fossem naturais e inevitáveis.

O Brasil brasileiro está a carecer de verdadeiro milagre para prosseguir na sua grandeza tão desprezada. Mas, é numa hora dessas que se faz necessário lembrar-se de que o brasileiro não nasceu para a derrota, não é gente para abaixar a cabeça e conformar-se com o que parece inevitável. Povo que já deu provas de sua força e resistência há que passar por isso, se recuperar.

O Brasil brasileiro tem raça, tem futuro e esperança nas gerações que hão de vir e que farão a grandeza de suas terras.

No mundo dos reis

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Tivemos aqui a família real portuguesa que proporcionou à nossa história dois imperadores. Pedro II governou o país por quarenta anos e ainda hoje existem entre nós adeptos da monarquia. Se bem me lembro há alguns anos foi realizado um plebiscito no qual a população optou por continuar sob as regras do regime republicano.

A monarquia inglesa sempre atraiu a atenção pela tradição, riqueza e longa existência. Os ingleses vivem sob o regime monárquico embora o primeiro-ministro e as câmaras administrem o país. Entretanto, prevalece a mística em torno da família real sendo a vida de seus membros alvo de constante vigilância por parte de órgãos de imprensa. A Inglaterra conta com vários tabloides nos quais, assim se divulga, não é permanente o compromisso com a verdade. Mais vale o sensacionalismo que parece se coadunar com o gosto dos ingleses.

Assim, exceto possível engano, acontecimentos relacionados à família real sugerem, grosso modo, um tipo de reality show. Não há como príncipes, duques e portadores de outros títulos de nobreza se livrarem da curiosidade que cerca suas existências. No alto da hierarquia está a Rainha Elizabeth II, amada pelo seu povo e merecedora de muita consideração pela longa trajetória no trono.

Entretanto, nem sempre os acontecimentos se mostram favoráveis aos membros da família real. Basta lembrar do triste episódio envolvendo a princesa Diana que se casara com o herdeiro do trono, príncipe Phillip, de quem se separou e veio a falecer num acidente automobilístico em Paris. No momento, em pauta a renúncia aos títulos de nobreza pelo filho de Diana, Harry, casado com uma americana de origem negra.

Henry e Meghan, sua mulher, concordaram em ceder entrevista à Oprah Winfrey na TV americana. A entrevista, realizada ontem, era aguardada com preocupação pela corte inglesa e muita curiosidade pública. Esperavam-se críticas aos membros da família real pelo modo como trataram Meghan no período que com ela conviveram. Entretanto, Meghan surpreendeu a todos denunciando racismo por parte da família real. Citou, na entrevista, que, estando grávida, ouviu sobre preocupação da família com a cor da pele que virá a ter a criança.

Não se sabe se a família real responderá aos pontos abordados na entrevista de Meghan. Enquanto isso o caso permanece em aberto, fornecendo muito material para os tabloides e aguçando a curiosidade pública.

Tragédias existem

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Um terremoto de grau 8.1 (o máximo é 9) aconteceu em águas próximas à Nova Zelândia. O país se prepara para a chegada de um tsunami. Populações que vivem no norte do país foram orientadas a abandonar suas casas e refugiar-se em regiões mais altas.

Não será a primeira vez que um tsunami arrasa regiões. Em 2004 tsunami ocorrido no Oceano Índico resultou na morte de 230 mil pessoas; em 2011, no Japão, 1600 pessoas morreram.

Mas, não só de terremotos e tsunamis vivem as tragédias. No momento a humanidade enfrenta tragédia, com grande número de óbitos, provocadas pela pandemia do vírus Covid-19. Em nossos país autoridades sanitárias avisam sobre proximidade do caos que já se instala. Com o número crescente de óbitos diários a tragédia anunciada se corporifica. Em alguns estados opta-se pelo fechamento de tudo. A capacidade de atendimento dos hospitais esgota-se e pacientes morrem enquanto aguardam a vez de serem internados. Com vacinação deficiente e sem política nacional estabelecida para o combate à pandemia espera-se pelo agravamento da crise nos próximos dias.

Destaquem-se ponderações sobre a retração da economia, do número de empregos e a fome que avança nas camadas mais pobres. Essas razões fazem parte do discurso contrário ao lockdown que de fato agravaria a situação. Mas que fazer se o vírus se propaga velozmente e ninguém está a salvo, exceto se conseguir as raras doses de vacina?

Tragédias existem e acontecem. No momento está entre nós acontecimento de grandes proporções que exige dedicação, preparo e solidariedade para ser vencido. Aqueles que perderam entes queridos e os que ainda perderão clamam por medidas efetivas e urgentes para que a tragédia não se alastre ainda mais.

Não custa lembrar que o dever de proteger aos semelhantes também existe.

Tempos de pandemia

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Que o mundo muda não é novidade para ninguém. A história é plena de percalços sejam eles guerras, epidemias e outros males que ceifam inúmeras vidas. No século 14 a Peste Negra, provocada pela bactéria Yersina pestis, provocou a morte de entre 75 e 200 milhões de pessoas na Eurásia. Há mais de 3 mil anos a varíola, agora erradicada, tem atormentado os homens. A epidemia de gripe espanhola, em 1918, provocou a morte de entre 40 a 50 milhões de pessoas.

De lá para cá a ciência evoluiu bastante. Novos arsenais terapêuticos foram incorporados ao dia a dia das populações. Antibióticos, vacinas e outros recursos passaram a ser utilizados minorando o sofrimento. A medicina tem experimentado importantes progressos no terreno de tratamento das doenças.

No momento a humanidade enfrenta as graves consequências da propagação de um vírus surgido na China e que se espalhou em todo o planeta. Seu súbito aparecimento estabeleceu grave crise dado tomar de surpresa os meios habitualmente envolvidos na prevenção e tratamento de doenças. Assim, o Covid-19 e suas variantes mutagênicas seguem driblando autoridades e cientistas que lentamente se aplicam na produção de vacinas. A emergente necessidade de vacinas não tem sido acompanhada pelas quantidades produzidas dadas as limitações de preparo, testes e aprovação necessárias ao estabelecimento de campanhas seguras de vacinação.

Em função disso tudo se instalam situações alarmantes em várias partes do mundo. Em nosso país destaca-se a inoperância de medidas até agora adotadas no combate à epidemia. Variando-se desde o atraso quanto à aquisição de vacinas ao descaso de parte da população que se recusa ao uso de normas de prevenção, fato é que pouco a pouco aproxima-se de um muito possível caos. Hospitais sem vagas de UTI para receber doentes funcionam como termômetro da crise. Também contribuem os problemas gerados no setor econômico sempre afetado quando medidas restritivas ao funcionamento de empresas e do comércio são adotadas. O PIB em queda e alta taxa de desemprego colocam autoridades diante de decisões particularmente difíceis.

Nada do que aqui se escreve é novidade. Todo mundo sabe disso. Importa, entretanto, lembrar de que por mais que tenhamos enfrentado situações difíceis nos últimos 50 anos nenhuma delas teve o peso significativo da atual. Aqui não se trata de simples mudança de rumos, da sempre necessária necessidade de acordo entre partes. Embora isso seja muito importante no momento não se pode esquecer de que, ideologias de parte, existe um inimigo comum que a todo custo precisa ser contido. O Covid-19 transmite-se velozmente, provoca grande número de óbitos e pode-se dizer que, até o momento, está vencendo essa guerra. Urge, portanto, solidariedade entre os homens, acordos entre governos, direcionamentos claros no combate á pandemia. Aqueles que já perderam ou os que ainda perderão entes queridos anseiam por humanidade e profissionalismo dos homens que nos dirigem.

De Marte

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Depois de sete meses de viagem o rover Perseverance pousou, com sucesso, em Marte. Desde então temos a oportunidade de observar fotos e vídeos que nos chegam, finalmente expondo paisagens do planeta vermelho sobre o qual temos tanta curiosidade.

Para nós leigos as imagens revelam nada mais que um grande deserto. Trata-se de um mundo inabitado, sem o menor sinal de que lá exista ou tenha existido algum sinal de vida. Leva-nos a imaginar nosso planeta há bilhões de anos antes do surgimento da vida nos mares primitivos. Certamente a missão em Marte, até agora coroada de êxito, fornecerá preciosas informações sobre o planeta. Cientistas se debruçarão sobre dados recolhidos na missão e muita coisa poderá ser esclarecida.

À ambição humana de explorar e conquistar o espaço tem-se acrescentado a motivação de possível colonização de astros próximos da Terra. Fala-se muito na colonização de Marte o que para nós surge mais como peça de ficção. Entretanto, não se pode negar que os crescentes avanços tecnológicos poderão contornar as dificuldades envolvendo viagens espaciais e mesmo o estabelecimento de colônias fora daqui.

O cinema utiliza com frequência enredos nos quais viagens especiais são rotineiras. Invasão da Terra por alienígenas e catástrofes decorrentes da colisão de grandes meteoros fazem parte do imaginário popular, trazidas com realismo nas telas dos cinemas. De modo que quando recebemos notícias sobre rotas de corpos celestes atravessando o entorno da Terra ficamos, naturalmente, preocupados. Agora mesmo há um grande corpo celeste que deverá passar perto da Terra, por perto entendendo-se milhares de quilômetros de distância.

Das fotografias que nos chegam de Marte impressionam imagens do espaço visto de lá. Aqui vemos o céu com os pés fincados ao mundo em que vivemos. De Marte o que se tem é o mundo inanimado a fazer parte de um universo sobre o qual quase nada se sabe. É desesperador. Há uma solidão profunda nessas imagens, solidão que não se pode entender completamente por que não vivenciada. O silêncio do cosmo que ali se exibe com tanta pujança e indiferença faz-nos sentir nossa pequenez ao extremo. Circunda nosso planeta um universo indiferente à nossa presença, aparentemente consciente de nossa infinita falta de expressão diante de tanta grandeza. Nada mudaria nesse universo caso simplesmente desparecêssemos. A Terra e o próprio sistema solar em nada mudariam a grandeza do universo caso fossem colhidas por um buraco negro. Esse fato torna inevitável a pergunta sobre a razão de vivermos em intermináveis disputas, guerras, desrespeito ao ambiente que nos acolhe etc.

As imagens de Marte são poderosas e didáticas sobre o começo e o fim de tudo.