2010 fevereiro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para fevereiro, 2010

Teremoto no Chile

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Aconteceu um terremoto de grande magnitude no Chile. Os 8,8 pontos na escala Richter superaram os 7,0 pontos do recente terremoto que tantos estragos causou ao Haiti.

As imagens que chegam do Chile dão idéia da dimensão da catástrofe que se abateu sobre a capital, Santiago, e outras cidades. O que se vê, por toda parte, são cenas de destruição: prédios e casas danificados ou que desabaram, viadutos destruídos, grande quantidade de veículos inutilizados e escombros. Pior que isso tudo: até agora 700 mortos, número que, infelizmente, tende a aumentar.

Olho para as imagens de destruição e me sinto abestalhado. Impossível aceitar que uma força sobre a qual não se tem controle entre em ação de repente, ceifando vidas, destruindo obras que tanto demoraram a ser realizadas. Tudo ocorre instantaneamente, sem aviso prévio, ao bel-prazer de movimentos de placas tectônicas que se movem gerando, do epicentro do fenômeno, ondas de desequilíbrio que se propagam por terra e pelas águas oceânicas. A partir daí o desastre torna-se inevitável e o que fica é essa sensação de impotência, a esperança de que pessoas sobrevivam e o país consiga superar a grande tragédia que se abateu sobre o seu povo e território.

E fica a saudade de Santiago, bela cidade que tem a emoldurá-la a Cordilheira dos Andes. Santiago é acolhedora com seus pontos de referência que tanto amamos. Aqui a Catedral Metropolitana, defronte a ela o grande prédio que já foi um luxuoso hotel de tantas recordações. Bem perto, o Palácio de La  Moneda  onde Salvador Allende suicidou-se iniciando-se a ditadura de Pinochet.

Ruas de Santiago, caminhos percorridos a pé em manhãs muito frias, lembranças tão caras agora substituídas por imagens de destruição que, com força e determinação, serão substituídas por outras de reconstrução.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 fevereiro, 2010 às 6:20 pm

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Retratos

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- Fiu,fiu,fiuuuuu.

O menino assovia avisando que o jogo deve parar porque está na hora do trem da Central do Brasil. As crianças correm; um rapazote espigado pega a bola e a segura debaixo do braço com ares de proprietário.

Agora o trem apita e logo a locomotiva aparece puxando os vagões. As crianças estão sentadas na calçada esperando o trem passar.

Logo depois o jogo recomeça e é a vez do sorveteiro gordo passar no meio da criançada empurrando o carrinho.

Faz calor. O sorveteiro segue lentamente até que, de repente, curva-se e cai. Dois homens que passam o ajudam a levantar-se. Um dos homens acompanha o sorveteiro até casa dele, ajudando com o carrinho.

Mais tarde o sorveteiro vai ao médico. Tem os pés inchados e o médico avisa que é problema do coração. A solução é tratar-se em São Paulo, no Hospital das Clínicas.

O sorveteiro pega o trem da manhã para São Paulo. Ninguém vai com ele à estação, nem mulher, nem filhos. No meio da viagem os pés incham demais: ele tira os sapatos e adormece. Quando acorda verifica que alguém roubou os seus sapatos. Descalço, ele desembarca na estação rodoviária e desse modo se apresenta no Hospital das Clínicas.

A última notícia sobre o sorveteiro é a do roubo dos seus sapatos. Um mês depois uma cunhada dele vai a São Paulo procurá-lo no Hospital das Clínicas. Lá é informada de que o cunhado morreu e seu corpo está no IML à espera alguém que o reclame.

Lembrei-me desses fatos hoje de manhã ao encontrar, em meio a velhos papéis, duas fotos. Numa delas vêem-se meninos sentados na calçada esperando a passagem do trem. Na outra está um homem gordo e sorridente junto do seu carrinho de sorvetes.

O sorveteiro era meu tio; a cunhada que foi procurá-lo, minha mãe. Do sorveteiro e dos meninos sentados na calçada restaram essas fotos que tornei a guardar e talvez nunca mais tenha ocasião de revê-las.

As memórias se apagam, lentamente, como as fotos que se desbotam. Do mesmo modo desaparecemos: devagar, desbotando, para sempre.

Escrito por Ayrton Marcondes

27 fevereiro, 2010 às 11:05 pm

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O centenário de Chico Xavier

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Aproxima-se o centenário do nascimento de Chico Xavier que será comemorado no próximo dia 2 de abril. Mais destacado médium espírita do Brasil, Xavier morreu, em 2002, deixando mais de 400 livros publicados e respeitável obra assistencial. Para o seu centenário preparam-se alguns filmes e documentários que brevemente serão lançados.

Os livros de Chico Xavier, segundo suas declarações, não foram escritos por ele mesmo: seriam obras psicografadas, ditadas ao médium por espíritos de pessoas desencarnadas. Um desses espíritos, o médico André Luis, teria ditado a Chico Xavier alguns de seus livros, o primeiro deles com o título de “Nosso Lar”. Em “Nosso Lar” André Luís relata a sua chegada a uma colônia espiritual, logo após a sua morte. A colônia é um lugar onde os espíritos aprendem a trabalhar entre uma encarnação e outra.

“Nosso Lar” é disparado o livro de maior sucesso de Chico Xavier, tendo sido vendidos 1,5 milhão de exemplares da obra. Trata-se de um romance, para se dizer o mínimo, espantoso. Em primeiro lugar há que se levar em conta o modo como Chico Xavier psicografava as suas obras: escrevia num ritmo vertiginoso, mostrando-se fisicamente alijado do  fazia (existem várias filmagens de Chico psicografando). Além disso, não há como negar a “Nosso Lar” o conteúdo extremamente imaginoso, criação consistente de escritor que sabe conduzir a trama que aborda e domina os percalços dos textos que escreve. Por tudo isso, há que se reconhecer em Chico Xavier, senão o médium, senão o homem que conversa com espíritos, um criador dotado de grande imaginação e domínio literário, características que resultaram  nas inúmeras obras que publicou. Aliás, a primeira delas, chamada “Parnaso Além-túmulo” e publicada em 1932, causou grande celeuma nos meios intelectualizados do país ao trazer 256 poemas atribuídos a poetas mortos, entre eles os portugueses Antero de Quental e Guerra Junqueiro e os brasileiros Olavo Bilac e Cruz e Souza.

De Chico Xavier sobressai a figura humana. Sendo verdade que ele foi um grande divulgador do espiritismo e atribuindo-se os seus feitos à mediunidade, nem por isso se apagam os seus atributos pessoais. O fato é que Chico Xavier não foi alguém “comum” em toda a expressão que esse termo engloba. Sua presença física, seu modo de ser e a luz que dele emanava nas mais diferentes situações impunham-se como oriundas de um ser especial e tantas vezes inexplicável. Ainda que não se creia no espiritismo, ainda que se neguem os princípios daquela doutrina, ainda assim Chico Xavier continua a ser um enigma.

Chico Xavier impressionou muito a todos que o viram e dele se aproximaram. É difícil descrever o impacto dele sobre os mais variados tipos de pessoas, independentemente de suas classes sociais. O fato é que dificilmente alguém conseguiria classificá-lo como mistificador. Acompanhava-o uma espécie de aura, algo entre o humano comum e o venerável, a simplicidade absoluta que só se encontra na verdadeira grandeza. O que ele terá sido de fato talvez jamais cheguemos a saber. Talvez, de forma simplista e cedendo à necessidade de classificar o inclassificável, possamos apenas defini-lo com uma palavra: iluminado.

É isso: Chico Xavier foi um iluminado, assim as coisas continuam em seus devidos lugares e podemos dormir em paz.

O Brasil financia Cuba

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De que os brasileiros com tendências políticas mais à esquerda mantêm intactas as suas simpatias por Cuba não restam dúvidas.

Para ficar no mínimo não vale mais a pena recordar as diferenças entre a Cuba dos sonhos, a idealizada, e a real. Tanto se escreveu sobre o assunto que se trata, a essa altura, de letra morta. O que é simplesmente é e ponto final.

O jornal “El País” de terça-feira noticiou a chegada do presidente Lula a Cuba classificando-o como “velho aliado”. Dizia o jornal que o presidente do Brasil está comprometido com o símbolo da revolução cubana e parece sempre disposto a dar a mão ao país.

 Na visita a Cuba Lula visitou as obras do porto de Madel, há 50 km de Havana, cuja construção o Brasil financiou, emprestando R$ 550 milhões. Segundo o “El País”, o porta-voz de Lula, Marcelo Baumbach, informou que o Brasil aprovou créditos a Cuba no valor de US$ 1 bilhão e novos acordos estão para ser negociados. Há interesse do Brasil em projetos para recuperar a rede hoteleira de Cuba e a Petrobrás pensa em construir no país uma fábrica de lubrificantes.

Nos últimos dias os jornais brasileiros exibiram fotos de Lula com Raul e Fidel Castro. Infelizmente o apoio brasileiro a Cuba não passa por nenhuma exigência relacionada a direitos humanos. Aliás, no dia da chegada de Lula a Cuba, morreu o preso político Orlando Zapata, após 85 dias de greve de fome em protesto pelas condições da prisão, fator determinante de seu péssimo estado de saúde.

Embora se esperasse, o presidente do Brasil não se pronunciou sobre a morte de Zapata. Posteriormente irritou-se dizendo que não recebeu nenhum pedido de grupos de direitos humanos para que intermediasse a questão. E o assessor internacional do presidente, Marco Aurélio Garcia, encerrou o caso dizendo:

- Há problemas de direitos humanos no mundo inteiro.

Cascata de maus exemplos

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Está nas livrarias um livro que ensina aos jovens como se tornarem os piores alunos em suas escolas. Na parte final do livro existem páginas pretas seladas, nas quais são descritas, com minúcias, ações do tipo retirada da bacia de privada, soltura dos parafusos de cortinas e outras barbaridades que contribuirão para o almejado título de “pior aluno”.

Não me perguntem o nome do autor do livro, o título e a editora que o publicou. Eu me nego a divulgá-los. Aliás, para ser sincero, nunca vi o livro. Quem o folheou e leu algumas das suas páginas foi uma professora, minha amiga, que ficou estarrecida com a natureza da publicação.

Enquanto isso, rolam em Brasília acontecimentos nada exemplares. Agora o vice-governador do Estado, Paulo Octávio, renuncia ao cargo de governador, dias após substituir o governador José Roberto Arruda que está preso. Paulo Octávio e Arruda são suspeitos de comandar o mensalão do DEM - esquema de caixa dois de campanha eleitoral – e distribuição de propinas.

E agora retorna ao noticiário o Sr. José Dirceu, acusado de estar envolvido em negócio de internet aberta: uma empresa sediada nas Ilhas Virgens, a Star Overseas, pagou R$ 1 pela sua participação numa empresa chamada Eletronet. Consta que a Eletronet é falida, mas graças a Dirceu, será transformada no eixo central de uma rede nacional de acesso a internet. Detalhes sobre a negociação podem ser encontrados nos jornais de hoje.

Assim, a vida continua plena de situações descabidas e nada exemplares. Talvez estejamos todos errados ao interpretar mal o autor do livro que ensina estudantes a serem os piores de suas escolas. Talvez ele os esteja preparando para as situações a que assistimos a cada dia.

A sorte dos apostadores

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De vez em quando o assunto sorte vem à baila. Há quem não acredite na existência de sorte, preferindo classificar tudo como simples acaso. Circunstâncias inesperadas favorecem a uns e prejudicam outros, só isso, nada mais que isso, nada a ver com sorte.

Tive um parente, já falecido, que terá sido uma das melhores pessoas a quem conheci. Sujeito lhano, solidário, exemplar. Entretanto, ficou conhecido por ser azarado. De fato, com ele aconteciam coisas absurdas e inesperadas. Era do tipo que se um pássaro defecasse sobre uma multidão as fezes cairiam justamente sobre cabeça dele. O pior: ele sabia disso, tinha plena consciência do seu azar e contava sempre com a possibilidade de um resultado desfavorável. Foi assim em concursos públicos de que participou. Num deles a escolha final ficou entre ele e outra pessoa. Não deu outra: ele não foi escolhido.

Escrevo sobre esse assunto porque até agora não entendi bem o mistério que envolveu a sorte dos jogadores que apostaram na Mega-Sena, numa lotérica do Rio Grande do Sul. Eles participaram de um bolão que foi premiado. O prêmio de mais de 53 milhões de reais seria dividido entre os apostadores, cabendo a cada um cerca de 1,3 milhão de reais.

Imagino a alegria desses sortudos ao saberem do resultado da loteria. Dois deles deram uma grande festa para comemorar. Todos foram dormir ricos e felizes. Mas, infelizmente, a alegria durou pouco: a lotérica não repassou o jogo para a Caixa Econômica Federal e o sorteio ficou sem ganhadores.

Essa é a tal história de uma riqueza que durou muito pouco. Vinte e poucas pessoas tiveram que enfrentar a decepção de terem sido ricas temporariamente e sem fazer uso de um só tostão das suas fortunas. Agora se iniciam as démarches com a participação de advogados etc. Mas o dinheiro mesmo…

É de se perguntar como fica a sorte num caso desses. Os apostadores tiveram a sorte de participar de um bolão vencedor, mas não ganharam de verdade. Esse é um tipo incomum de meandro da sorte, uma zona de meio-termo perigosa demais para autoconfiança das pessoas.

Na verdade não sei bem o que achar. Daí que prefiro ficar com uma frase que minha mãe proferia quando se defrontava com situações duvidosas:

- A sorte, como a vida, é muito caprichosa.

Das tentações

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No primeiro domingo da quaresma o padre leu a parte dos evangelhos que trata de tentação de Cristo. Como se sabe Ele se recolheu ao deserto onde jejuou por quarenta dias. Ao final desse período o Diabo resolveu tentar o filho de Deus.

Foram três tentativas. Na primeira delas, sabendo que Jesus tinha fome, o Diabo O incitou a produzir pães; na segunda o Diabo levou Jesus ao mais alto dos montes e ofereceu a Ele posse de tudo à sua vista; na terceira o Diabo conduziu Jesus ao alto do templo de Jerusalém e o desafiou para que Ele se jogasse de lá, pois, sendo o filho de Deus, os anjos impediriam a sua queda.

Jesus rebateu as três tentações do Diabo. Na última foi muito claro com o Anjo Caído, dizendo a ele:

- Não tentarás ao senhor teu Deus.

Após a leitura o velho padre tirou os óculos e os colocou sobre o missal. Depois fez sinais aos coroinhas que imediatamente o compreenderam e foram executar as funções de rotina. Então o padre empertigou-se, afastou-se do pequeno púlpito e desceu os três degraus de escada que o separavam dos fiéis, a essa altura sentados nos bancos da igreja.

O padre demorou-se a falar. Quando o fez estendeu o braço, percorrendo com o indicador em riste as faces dos fiéis. Após esse gesto, algo ameaçador, o padre perguntou:

- Quem aqui pode dizer que nunca sofreu uma tentação?

A resposta foi o silêncio. O padre sorriu e desafiou:

- Que levante o braço aquele que nunca sofreu uma tentação.

Mais uma vez o padre sorriu desta vez com ares de vitória. Entretanto, não se conteve e acrescentou:

- Ninguém, não é?

Foi quando entraram em função os fatores aleatórios que cercam as imprevisibilidades: uma senhora, provavelmente com mais de 80 anos de idade, levantou o braço direito.

De repente, surgia no meio da multidão uma mulher que jamais sofrera uma tentação e talvez jamais caíra em pecado. A sua presença reduziu o ímpeto do padre. O seu aparecimento era de todo inesperado, senão impossível. Quantas vezes não teria o padre, anos a fio, realizado o mesmo sermão, usando os mesmos gestos e palavras sem que alguém se declarasse isento de tentações?

A velhinha manteve o braço levantado enquanto conseguiu. O padre perdeu-se num arrazoado curioso invocando a teoria das probabilidades para explicar a ocorrência de um evento único e raro, mas não impossível. Em seguida, não convencido de suas próprias palavras, desenvolveu a tese de que em muitas ocasiões escapa-nos a natureza dos nossos pecados daí sermos capazes de negar tê-los cometido. O mesmo se poderia dizer sobre as tentações e blá, blá, blá.

Quando a missa terminou, fiquei na porta esperando pela tal velhinha que jamais fora tentada. Depois de algum tempo, lá veio ela com seus passos claudicantes. Seu rosto revelava muita firmeza e seriedade. Ao passar por mim tive a impressão de que sorria levemente, nada mais que um breve arrepio nos cantos dos lábios, sinais talvez de uma galhofa praticada com muita precisão.

Tive muita vontade de perguntar a ela como seria a vida num mundo sem tentações. Nada de olhar pessoas do sexo oposto com outras intenções, nada de tantas coisas que nos tentam e convidam ao pecado.

Mas, creio que ela não responderia. Saiu da igreja no mesmo passo e com as suas certezas. Não vi direito, mas tive a impressão de que antes de desaparecer a velhinha levantou mais uma vez o braço, dessa vez, não tão alto, mas em nível suficiente para referendar o primeiro e definitivo gesto.

De novo as Malvinas

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Quando se iniciou a disputa entre a Grã-Bretanha e a Argentina pelo território das Ilhas Malvinas os brasileiros ficaram muito divididos. De um lado a Inglaterra com a sua velha mentalidade colonialista; de outro a Argentina com quem sempre tivemos rusgas. Acresça-se a isso o fato dos argentinos nos tratarem com ares de superioridade - coisa que hoje, felizmente, deixou de acontecer - e a rivalidade futebolística que apaixonou e apaixona os dois lados.

Assim, a questão entre a Grã-Bretanha e a Argentina mais parecia um jogo de futebol em que a raiva fazia muita gente pender mais para o lado dos ingleses, a essa altura já convertidos em nossos fregueses dentro das quatro linhas.

É bom destacar bem esse “fregueses” porque nem sempre foi assim. Basta lembrar a temerária excursão da seleção brasileira pela Europa, dois anos antes da Copa de 58. Naquela ocasião, quando a seleção nacional desembarcou em Londres foi recebida com a seguinte manchete pelos jornais ingleses: “O circo chegou”. E o “circo” tomou um baile da seleção inglesa, perdendo por 4 X 2.

As Malvinas estavam sob domínio inglês desde que foram tomadas à força, em 1833. Considerando o arquipélago como parte de seu território a Argentina decidiu recuperá-lo, em 1982, invadindo as ilhas. A reação do governo da primeira-ministra inglesa, Margaret Tatcher, foi o envio de uma força naval com um destróier, dois navios de superfície e três submarinos atômicos. Assim, iniciou-se a guerra que ocorreu entre os dias 2 e 14 de junho de 1982. Ao final, a Grã-bretanha recuperou as Malvinas que estão sob seu domínio até os dias atuais.

Quando circulou por aqui a notícia de que a força naval inglesa saíra da Inglaterra, muita gente vibrou achando os argentinos, com a sua mania de superioridade, receberiam uma lição. Pouco depois, o presidente dos EUA, Ronald Regan, dava o seu apoio aos ingleses. A esse ponto, finalmente entendeu-se que a coisa era séria não se tratando de um jogo ou das velhas rivalidades com a Argentina. Para onde tinha ido a tal “Doutrina Monroe”, a tal “América para os americanos”? Desde então os brasileiros passaram a se preocupar com os seus irmãos argentinos: era ao continente que os ingleses atacavam.

O pior momento foi quando os ingleses afundaram o cruzador argentino General Belgrano, com 1093 tripulantes, dos quais mais de 300 morreram. Nesse dia houve grande tristeza no Brasil. A loucura de um governo ditatorial argentino expusera o país a um confronto absurdo contra potências estrangeiras.

Agora os ingleses anunciam que pretendem explorar petróleo nas ilhas Malvinas. O governo de Cristina Kischner reage, exigindo licença prévia para toda embarcação que transitar entre Argentina e as ilhas.  A intenção é dificultar a chegada de equipamentos à região de exploração de petróleo.

Na época da guerra tinha-se, na Argentina, um governo militar enfraquecido que usou a invasão das Malvinas como pretexto para se manter, exacerbando o nacionalismo com ações militares. Hoje, a situação é diferente, mas deve-se considerar que para o governo de Cristina Kischner uma onda de amor ao país é muito bem-vinda.

Resta saber como se comportará o Brasil na nova situação envolvendo o domínio das Malvinas. Como se sabe, o Ministério das Relações Exteriores não tem se destacado pela habilidade em suas escolhas. Isso se depreende das recentes tendências de choque como os EUA - em relação à recuperação do Haiti - e o apoio do Brasil ao governo do Irã. Aliás, nada tem adiantado os apelos internacionais para que o presidente Lula cancele a sua visita a Teerã o que dá mostras das atuais tendências da chancelaria brasileira.

Resta torcer para que, desta vez, a diplomacia fale mais alto e se encontrem soluções pacíficas para a questão das Malvinas.

De quem se fala

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Do cantor Elton John que disse o seguinte sobre Jesus: era um gay superinteligente que entendeu os problemas dos outros.

De uma revista da Índia que publicou uma imagem de Jesus, tendo um cigarro na mão direita e uma lata de cerveja na mão esquerda.

Do PT. Na convenção do partido foi estabelecido um plano radical de governo  para Dilma Roussef, caso seja eleita. Entre outras medidas estão a adoção da reforma agrária, a taxação das grandes fortunas e a redução da jornada de trabalho.

De Tiger Woods que fez um pronunciamento transmitido por todas as emissoras de TV dos EUA. Tiger desculpou-se por ter traído a mulher. O país quase parou durante os quase 15 minutos do pronunciamento de Tiger: a Bolsa de Valores de Wall Street apresentou redução dos negócios durante o período.

Do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que foi cassado pela Justiça Eleitoral. Kassab é acusado de ter recebido doações ilegais durante a sua campanha para a prefeitura.

Eta mundo louco, você não acha?

Um homem sério

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O novo filme dirigido pelos irmãos Coen – Um homem sério – é dessas produções que deixam o expectador em dúvida: estará assistindo a uma obra-prima ou trata-se de uma história banal que o obriga a um esforço do tipo “fazer parte dos que são capazes de ver algo mais intelectualizado”.

Que o filme é pretensioso, isso não se pode negar. Sua grandeza está no fato de isolar um microcosmo e dele retirar observações (lições?) que refletem a natureza do homem, um ser perdido diante da complexidade das coisas que o cercam.

No caso, o microcosmo é uma comunidade de judeus, imbuída de seus valores e verdades expressos na Torá e na sabedoria dos rabinos mais velhos. O protagonista é um professor universitário de física - Lawrence Gopnick, vivido por Michael Stuhlbarg – cujo mundo se desmorona a cada passo. Os coadjuvantes são a mulher do professor que o abandona por um amigo judeu, um irmão do professor, desajustado e viciado em jogo, e os dois filhos do professor, um rapaz e uma moça alienados sobre que acontece em sua família e no mundo. O cenário é o Meio-Oeste norte-americano durante a década de 60.

O que os irmãos Coen oferecem ao bom e sério professor Lawrence é uma sequência de acontecimentos sobre os quais ele não tem força ou possibilidade de intervir. Implícito aos acontecimentos está o empenho de um homem sério em descobrir por que as coisas são como são e a razão profunda do desmoronamento de seu mundo. Tudo dá errado para Lawrence e sua missão é procurar na sabedoria ancestral de sua religião explicações para o seu infortúnio.

Como não poderia deixar de ser Lawrence nada consegue. Os irmãos Coen servem-se de uma sátira aos judeus para dizer o óbvio: inexistem respostas. Ainda assim, o que importa é não estar sozinho, é crer nos valores ancestrais que garantem lógica ao cotidiano e à vida. É preciso continuar, apesar de tudo. É preciso que os valores sejam preservados apesar de sua evidente inutilidade. Por isso, e só por isso, o filho de Lawrence é iniciado nos segredos judaísmo, ainda que a ele escapem o significado profundo dos ritos de que participa. O que verdadeiramente importa ao rapaz é recuperar o rádio tomado pelo professor, durante uma aula, para que possa pagar o dinheiro que deve a um colega de escola. E isso o processo de iniciação garante a ele: o mais sábio dos rabinos devolve a ele o rádio e os vinte dólares que escondera junto ao aparelho. Só o dinheiro pode salvar o rapaz de uma surra.

Também é o dinheiro a tentar subverter a seriedade de Lawrence. A polpuda quantia passada a ele por um aluno para que o aprove funciona como tentação permanente. De um lado o dinheiro, de outro a virtude e a seriedade que poderão ser corrompidas com o simples gesto de mudar uma nota. Será um ato isolado que ninguém jamais descobrirá. Lawrence se renderá?

“Um homem sério” mereceu duas indicações ao Oscar 2010. Trata-se de um bom filme que não chega a ser um grande filme. O humor corrosivo dos irmãos Ethan e Joel Coen por vezes se arrasta entre narrativas secundárias cuja supressão não afetaria a trama principal. Há quem tenha classificado o filme como genial. “Um homem sério” não chega a tanto. É bom cinema, traz assinatura de grife e talvez por isso esteja sendo um pouco mais valorizado do que deveria ser.