2016 dezembro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para dezembro, 2016

Gente

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Viera visitar a filha e o genro e não gostara da cidade onde moravam. “Cidade pequena”; “Aqui não tem mulher de aluguer, como pode isso?”

Homem simples, falava “aluguer” mesmo, carregando no “r”.

Reclamava do médico que o operara. Cirurgião gástrico. “Tirou tudo da minha barriga, me deixou oco por dentro”.

À noite podia ser visto vagando nas poucas ruas da cidade. Ansiava por encontrar alguma de saia que acalmasse seu apetite sexual. Busca infrutífera tornava à casa do genro e continuava a reclamar da falta de mulheres. A filha, paciente, o reprimia com alguma doçura. O pai era velho. Mania de velho. Mania de velho viúvo. Era o tempo em que se podia ser velho sem culpa e falar o que viesse na boca.

O velho trabalhara a vida toda numa fábrica. O empresário construíra uma cidadezinha de casas iguais nas quais moravam os funcionários da fábrica. Dava-lhes moradia gratuita, pagava salários em dia e produzia bastante.

Foi numa dessas casinhas iguais que o velho fizera a festa do casamento da filha. Na igrejinha o padre realizara a cerimônia, abençoara o casal. Depois a festa na casa do pai da noiva. Festa simples. Festa pobre. O pai da noiva - o velho - colocara no quintal um moedor de cana. Dali saia a garapa, única bebida servida na festa.

Mas, o tal cirurgião gástrico que deixara o velho oco por dentro, na verdade não tirara tudo. Tanto que, depois, o câncer progrediu. O velho reclamava de dores na barriga, dizia que o médico não fizera direito o serviço nele.

O velório foi simples. Também diferente. As pessoas não choravam, sorriam. Vez ou outra alguém se lembrava de “alguma” do velho e os presentes chegavam a rir.

Mais tarde a filha dizia: meu pai morreu feliz.

Escrito por Ayrton Marcondes

27 dezembro, 2016 às 5:17 pm

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A Rua 25 de março

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O governo americano publica listagem incluindo lugares onde há pirataria e comércio de produtos falsificados. Como não poderia deixar de ser Ciudad del Este, cidade paraguaia vizinha de Foz do Iguaçu, é citada como grande centro de contrabando, pirataria e venda de coisas falsificadas.

Destacam-se na listagem americana conhecidos pontos de comércio na cidade de São Paulo como o Brás e a Rua 25 de março. São locais para onde convergem diariamente multidões em busca de produtos a preços inferiores aos praticados em shoppings. Nesta época de natal, por exemplo, o afluxo de pessoas à 25 de março tem sido grande, embora menor que o do ano anterior fato explicado pelo período recessivo no país.

Talvez as pessoas que vivem em São Paulo não façam ideia da projeção desses centros de compras no restante do país. Há poucos anos estive a trabalho numa cidade do interior da Paraíba. Se bem me recordo precisei de um cortador de unhas e me aventurei numa feirinha localizada próximo à praça central da cidade. Na ocasião fui acompanhado - e conduzido - por um rapaz que, solicito, fez questão de me explicar que “o lugar não era uma 25 de março”. Estranhando que ele falasse sobre a conhecida rua de São Paulo perguntei se já estivera na capital paulista. Respondeu-me que não, mas adoraria vir à cidade para conhecer a 25 de março.

Bem, o fato é que para aquele rapaz a rua 25 de março significava um grande sonho de consumo. Tanto que, a partir daí, o rapaz crivou-me com muitas perguntas sobre o assunto. Estivera eu na 25? Como era o comércio de lá? E assim por diante.

Em pouco tempo falávamos sobre uma Miami encrustada bem no centro de São Paulo. Aliás, contou-me o rapaz que todos os produtos à venda na feirinha ou os comercializados pelos ambulantes eram originários da 25. Viagens semanais de sacoleiros à São Paulo garantiam o fluxo de produtos à cidade do interior da Paraíba.

Do rapaz guardei os olhos agudos e a enorme curiosidade. Não sei se acaso o sonho dele de conhecer a 25 terá se realizado. Imagino que talvez uma visita à famosa rua possa decepcioná-lo. Afinal, são lojas e lojas e uma multidão correndo de porta em porta.

Visita de parente

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Morávamos num lugarejo cuja população não ultrapassava quinhentas almas. Lá todo mundo conhecia todo mundo. De certo modo as cosias se passavam com em uma numerosa família.

Há quem pense que a vida em lugarejos do interior tenha algum tipo de padrão. Bobagem. As pequenas comunidades abrem espaço para que as pessoas se mostrem como realmente são. Não por acaso comportamentos estranhos tenham lugar em público e sejam tomados como “normais”. Do imigrante italiano que come gatos ao sacristão que insiste em dobrar os sinos da igreja em plena madrugada tudo parece se resolver com um simples “ele é assim”. Comportamentos estranhos tornam-se aceitáveis.

Pois certa ocasião recebemos em nossa casa visita de um primo, sobrinho de minha mãe. Meu pai recebeu bem o rapaz que passou o dia conosco. Durante o almoço a conversa foi animada e na despedida enfatizou-se o “volte sempre”. Bom sujeito o sobrinho - disse meu pai.

Entretanto, na manhã seguinte viemos a saber que o tal que nos visitara fizera pesquisa na comunidade antes de vir à nossa casa. Amigos contaram que o rapaz perguntara sobre nós, se éramos gente de bem etc. Só depois de receber boas informações sobre os parentes aventurou-se a encontrar-se com os tios.

Nem precisaria dizer que meu pai ficou fulo da vida. Aproveitou-se para dizer à minha mãe que a família dela…. Jurou dar um sopapo no tal sobrinho na primeira vez em que o encontrasse. Ficou nisso.

Eram os anos 50 do século passado. Na revista em quadrinhos “ O Pato Donald” publicara-se “A volta do Zé Carioca”. O Zé é um papagaio muito engraçado criado por Walt Disney quando esteve no Rio. Em sua volta ao Rio o Zé chegava confiante porque tinha um parente que era presidente. No fim da história Zé Carioca descobre que parente não passa de “presidente” de um pequeno bloco carnavalesco. Enfim, nada da boa vida que o Zé esperava ter no país.

Li que cientistas descobriram ligações entre neurônios cerebrais que justificam o fato de guardarmos fatos associados na memória. Assim, toda vez que nos lembramos de alguma coisa torna-se inevitável que nos lembremos de outra a ela associada. Eu olhava para um pequeno aquário quando soube do assassinato de Bob Kennedy daí que a toda vez que fala sobre a morte do político lembro-me daquele aquário.

Pois bem de algum modo a visita do primo arquivou-se na minha memória ligada à historinha da volta do Zé Carioca. Talvez os meus neurônios tenham trabalhado a ideia de que o rapaz fizera a pesquisa sobre nós após ler que Zé Carioca fora ver parentes e dera com os burros n´água.  Embora ache isso muito improvável, o fato é que as duas coisas para mim ficaram ligadas e não há como dissociá-las.

O peso das malas

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A Anac e as companhias aéreas querem cobrar dos usuários de voos pela bagagem que carregam. Até agora a regra é levar uma mala de 23 kg em voos internos ou pela América Latina e duas de 32 kg nas viagens mais longas.

Pergunta-se se ao cobrar pelas bagagens os preços das passagens serão reduzidos. Ninguém acredita nisso. Resta aos usuários de aviões torcer para que os deputados federais não concordem com as pretensões das companhias aéreas, não aprovem a mudança sem considerar como tudo será estabelecido.

Um amigo que sempre sai do Brasil me disse que não gosta de viajar porque as malas da mulher dele são pesadas demais e cabe a ele carregá-las. Na ocasião estávamos em meio a um grupo de velhos conhecidos e todos concordaram com o fato de que “mala de mulher é o bicho”. Falou-se que elas levam de tudo, excesso de roupas que nem chegam a ser usadas. Sapatos, botas, casacos…. Enquanto isso aos pobres maridos cabe uma mala na qual a maior parte do espaço é utilizada para acomodar coisas que não couberam na mala da mulher….

É padrão que em reunião de homens o assunto seja mulher. Daquela vez as queixas não ficaram só em relação às malas. A conversa alongou-se para espaços em guarda-roupas, utensílios domésticos a até certa sensação de que na verdade os homens não são donos de suas próprias casas. É ela que manda na casa - disse um. Ao que os outros assentiram.

Em assuntos como esse o melhor é não dar palpite. Depois, não se pode generalizar. Essa coisa de “toda mulher é assim” carece de sentido. Entretanto, quanto ao peso das malas não deixa haver alguma verdade e quem vos diz isso é um velho carregador dos pertences da família.

Já quanto a pagar pelo peso das malas em viagens aéreas há que se ter bom senso e estabelecer regras claras. Há pouco tempo em viagem a Foz do Iguaçu tive que pagar pelo excesso de peso da bagagem. Tinha adquirido a passagem numa promoção, a valor bem acessível. No balcão da companhia aérea fui informado de que deveria pagar a taxa baseada na tarifa mais alta do percurso. Seriam 0,5% da tarifa por cada kg em excesso. A surpresa aconteceu quando verifiquei que o preço por carregar 20 kg em excesso era muito superior ao valor da passagem que havia pago. A explicação: no caso do peso cobra-se pela tarifa mais alta e o valor cheio da passagem de Foz de Iguaçu para São Paulo era de exatamente R 6500,00….

Ora por esse valor de passagem para um voo de cerca de uma hora eu poderia ir e voltar aos EUA e ainda sobraria dinheiro. Disse isso à moça que fazia o meu check in.  Inútil. Era o preço. Restou-me pagar e sair dali fuzilando de raiva.

Por razões como a apontada creio ser necessário o estabelecimento de regras claras para que os viajantes não se vejam em situações desagradáveis e mesmo sejam explorados. Passagem comprada, quase na hora do voo e portando bagagens a serem despachadas o cidadão fica à mercê das imposições das companhias aéreas. Saber de antemão quanto pesará no bolso levar uns quilinhos a mais seria muito bom.

Como nunca antes?

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Pensar sobre a história do Brasil dá arrepios. Estabilidade mesmo talvez apenas a do Segundo Reinado. Tanto que monarquistas de carteirinha ainda acham que só a monarquia salvaria o país.

Não me lembro de ficar muito desesperado na época em que a inflação de dois dígitos era altíssima. Era o inferno, mas inferno com alguma lógica. Não havia a desconfiança nos homens que dirigiam o país. Podiam errar, mas a corrupção - que deveria existir - não vinha a público.  A culpa era da dívida externa, do FMI, dos americanos…

Hoje em dia jogamos o tal “resta um” embora talvez não venha a restar ninguém. A primeira delação de um executivo da Odebrecht fez tremer o país. Consta existirem mais 76 funcionários da construtora para esclareceram as falcatruas que envolvem a classe política. Restará pelo menos um? A ver o resultado do jogo.

O Brasil é um país formal regido pela informalidade. O “por fora” enriquece a minoria que tem acesso aos mais variados contratos públicos. Nada no que se toca permanece. Estruturas de belas aparências estão corroídas por dentro. Chegou-se ao limite.

Há quem diga que é preciso recuperar a esperança. Na Wikipédia lê-se que “a esperança requer uma certa perseverança - i.e., acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário”. Mas como perseverar se a cada manhã as notícias de hoje são piores que a de ontem?

O rei está nu. Levantaram-se as cortinas que escondiam a podridão. O ano termina melancolicamente. Avisam-nos de que a queima de fogos na praia será menor que a da última passagem. Por economia, por falta de dinheiro.

Às vezes penso que o país só sobrevive - e sobreviverá - por conta da natureza de seu povo. O brasileiro não é um sujeito triste. Sabe como ninguém rir da própria desgraça e só a fome o derruba de verdade. É da fome que temos medo. O resto vamos levando.

Previsões

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Que dirão os astrólogos e numerólogos sobre o futuro imediato do Brasil? 2017? O que se fala por aí é que não se precisa de videntes para saber no que essa confusão geral vai dar. País atolado é país atolado e ponto final.

Você acredita em videntes? Sou da opinião de que os videntes têm papel importante nas nossas vidas. Em situações difíceis ouvir de alguém ligado ao futuro que as coisas vão melhorar ajuda muito a pegar no sono. Não importa se a pessoa que fala está a improvisar sobre possibilidades futuras.

Nunca acreditei em bolas de cristal, nem em mentes abertas ao que poderá acontecer. Difícil acreditar que alguém possa enxergar o que ainda não aconteceu. Como prever?

Quando menino se dizia alguma bobagem minha mãe me repreendia advertindo sobre o perigo de algum anjo dizer “amém”. Se anjos dizem “amém” o fato está consumado. Meu protesto incluía a pergunta de por que o anjo nunca diria “amém” caso eu afirmasse que ganharia na loteria. Então anjos só dizem “amém” para coisas ruins?

Conheci uma vidente famosa que fazia previsões para gente importante, empresários, artistas etc. Perguntei a ela se suas previsões costumavam se realizar. Explicou-me que desde pequena descobrira-se capaz de ver coisas não acessíveis ao comum dos mortais. Tanto que em certa época colaborara com a polícia na investigação de crimes de difícil solução. Essa atividade custara-lhe caro. Era levada a ambientes nos quais ocorreram crimes horríveis para neles exercer suas aptidões de sensitiva. Segundo afirmou essa atividade era extremamente extenuante. Ao retornar à casa quedava-se prostrada por mais de um dia. Entretanto, ajudara a solucionar muitos crimes.

Certa ocasião a vidente que me referi propôs que consultássemos o meu futuro. Embora não acreditasse na validade disso acabei topando. Confesso que algumas coisas que a vidente me disse naquela ocasião vieram a ocorrer anos depois, aliás para minha surpresa.

Em todo final de ano surgem na mídia videntes conhecidos que fazem previsões sobre o período vindouro. Mortes, tragédias, conquistas e muitos outros fatos são narrados e datados para quando acontecerão. Não me consta que tenham boa média de acertos.

Enfim, resta-nos esperar pelo que os videntes de plantão preverão para o próximo ano. Quem sabe nos animarão com algumas boas doses de ilusão.

Morrer em paz

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Ferreira Gullar pediu à mulher que o deixasse partir em paz. Que não o submetessem a procedimentos para prolongar a vida. Queria evitar o sofrimento inútil, morrer com dignidade.

Por razões profissionais estive presente no momento da morte de muita gente. Ao lado do leito vi de perto o último suspiro de pessoas cuja vida não se prolongaria dadas suas condições de saúde. Nem todas morreram em paz. Muitas delas não queriam morrer.

Suponho que a morte em paz exija desapego à vida pelo menos no curto período que antecede o fim. Talvez tudo se passe ao ritmo de missão cumprida. Ou ao simples cansaço de tudo, aceitando-se a morte como epílogo ao que quer que seja.

Ainda hoje, passados tantos anos, impressiona-me a morte de minha mãe.  Esquálida, consumida pela doença, restrita ao leito no qual as feridas pelo corpo a impediam de acomodar-se, sofrendo, ainda assim agarrava-se à vida e ao mundo do qual não queria se despedir. Quando já não havia mais o que fazer, quando todo tratamento revelou-se ineficaz, parecia-nos que ela se recusava a partir. Constrangidos pelo sofrimento dela tornáramo-nos espectadores de uma peça de duração incerta cujo fim, entretanto, era previsto. Mas, a situação se prolongava demais.

A circunstância da morte de minha mãe deu-se de modo imprevisto. Certa noite abordou-nos uma velha senhora que, segundo disse, costumava visitar leitos de pessoas muito doentes para rezar por elas. Ao ver a minha mãe essa senhora nos disse que enquanto ficássemos ao lado de dela não morreria porque não se desligaria dos filhos. Ora, era uma explicação inusitada, difícil de acreditar. Em verdade não deixávamos a mãe nunca sozinha, havia sempre um de nós ao lado do leito. Mas acreditar em que se saíssemos ela morreria?

Em primeiro lugar levantava-se uma questão. Afinal, queríamos que ela morresse? De minha parte confesso que sim. Apesar da dor da perda parecia-me egoísmo sustentar situação na qual minha mãe sofria tanto, sem qualquer perspectiva de melhora. Enfim, também cansados e atônitos diante de situação tão difícil, decidimos sair do hospital para passar a madrugada em casa.

Creio que mal tivemos tempo de chegar à casa. Soubemos que, pouco depois que saímos, minha mãe enfim faleceu.

Tempos depois tive que retornar ao hospital em busca de documentos e perguntei sobre aquela senhora que nas madrugadas visitava os doentes terminais para orar por eles.  Estranhamente ninguém soube dizer nada sobre ela. Pessoas que há muito trabalhavam no setor em que minha mãe estivera internada me garantiram jamais ter passado por lá alguém que visitasse e orasse pelos pacientes moribundos.

Escrito por Ayrton Marcondes

6 dezembro, 2016 às 1:08 pm

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O último grito

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Tragédias marcam, impressionam. Sabemos que podem acontecer, mas preferimos pensar que não. Então, quando acontecem, instala-se o desespero diante do incompreensível. A morte nunca é benvinda, nem mesmo quando ela nos parece a melhor solução como em casos de pacientes terminais. Afinal, é ela, a caveira com a foice que se ocupa em ceifar vidas. Com a morte não existe acordo possível.

De um momento para outro divulga-se que a equipe da Chapecoense simplesmente desapareceu. Jogadores, comissão técnica, médicos, jornalistas que participavam de um voo a Medelín morreram num acidente aéreo. A alegria pela próxima disputa de um título sul-americano subitamente é substituída pelo desconsolo provocado pelo imponderável.

O Brasil se comove. A cidade de Chapecó paralisa-se. O mundo recebe a notícia com estupefação. O esporte mundial declara-se em luto. Nada, absolutamente nada, pode ser feito para remediar acontecimento imprevisível, absurdo. Por toda parte dor, muita dor.

Nos meios de comunicação especialistas buscam razões para o acidente aéreo. Ouvimos hipóteses enquanto assistimos cenas pungentes do resgate de corpos. A imagem do avião espatifado numa região montanhosa faz-nos pensar nos últimos momentos dos passageiros ao se perceberem perdidos. Como será estar diante da morte, em situação que se reconheça como irreversível?

Mas, em meio a tamanha desgraça eis que a morte houve por bem poupar umas poucas testemunhas. Uma delas, um comissário de bordo, milagrosamente salvo, relatou ter ficado em posição fetal, daí ter saído praticamente ileso. Entretanto, disse que no momento da queda os passageiros entraram em desespero, ficaram em pé, gritando e assim morreram.

Sempre penso nos segundos que antecedem o momento final de uma tragédia, o instante no qual nada mais pode ser feito e fica-se à mercê de uma situação sobre a qual perdeu-se o controle. Imagino que no grande desespero do momento não exista tempo para qualquer tipo de reflexão. Trata-se do encontro com a morte não anunciada e de repente presente. Resta ao homem o grito. O último grito.