O Pato Donald at Blog Ayrton Marcondes

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Visita de parente

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Morávamos num lugarejo cuja população não ultrapassava quinhentas almas. Lá todo mundo conhecia todo mundo. De certo modo as cosias se passavam com em uma numerosa família.

Há quem pense que a vida em lugarejos do interior tenha algum tipo de padrão. Bobagem. As pequenas comunidades abrem espaço para que as pessoas se mostrem como realmente são. Não por acaso comportamentos estranhos tenham lugar em público e sejam tomados como “normais”. Do imigrante italiano que come gatos ao sacristão que insiste em dobrar os sinos da igreja em plena madrugada tudo parece se resolver com um simples “ele é assim”. Comportamentos estranhos tornam-se aceitáveis.

Pois certa ocasião recebemos em nossa casa visita de um primo, sobrinho de minha mãe. Meu pai recebeu bem o rapaz que passou o dia conosco. Durante o almoço a conversa foi animada e na despedida enfatizou-se o “volte sempre”. Bom sujeito o sobrinho - disse meu pai.

Entretanto, na manhã seguinte viemos a saber que o tal que nos visitara fizera pesquisa na comunidade antes de vir à nossa casa. Amigos contaram que o rapaz perguntara sobre nós, se éramos gente de bem etc. Só depois de receber boas informações sobre os parentes aventurou-se a encontrar-se com os tios.

Nem precisaria dizer que meu pai ficou fulo da vida. Aproveitou-se para dizer à minha mãe que a família dela…. Jurou dar um sopapo no tal sobrinho na primeira vez em que o encontrasse. Ficou nisso.

Eram os anos 50 do século passado. Na revista em quadrinhos “ O Pato Donald” publicara-se “A volta do Zé Carioca”. O Zé é um papagaio muito engraçado criado por Walt Disney quando esteve no Rio. Em sua volta ao Rio o Zé chegava confiante porque tinha um parente que era presidente. No fim da história Zé Carioca descobre que parente não passa de “presidente” de um pequeno bloco carnavalesco. Enfim, nada da boa vida que o Zé esperava ter no país.

Li que cientistas descobriram ligações entre neurônios cerebrais que justificam o fato de guardarmos fatos associados na memória. Assim, toda vez que nos lembramos de alguma coisa torna-se inevitável que nos lembremos de outra a ela associada. Eu olhava para um pequeno aquário quando soube do assassinato de Bob Kennedy daí que a toda vez que fala sobre a morte do político lembro-me daquele aquário.

Pois bem de algum modo a visita do primo arquivou-se na minha memória ligada à historinha da volta do Zé Carioca. Talvez os meus neurônios tenham trabalhado a ideia de que o rapaz fizera a pesquisa sobre nós após ler que Zé Carioca fora ver parentes e dera com os burros n´água.  Embora ache isso muito improvável, o fato é que as duas coisas para mim ficaram ligadas e não há como dissociá-las.