2012 outubro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para outubro, 2012

Jornal da Tarde

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Fecha hoje o “Jornal da Tarde” do grupo “Estado”. A publicação deixará de aparecer nas bancas a partir de amanhã. Foram 46 anos de vida iniciados no dia 4 de janeiro de 1966.

Não leio o “Jornal da Tarde a bastante tempo, mas fui leitor assíduo da publicação durante muitos anos. Estudante em São Paulo - mesmo depois, já trabalhando na cidade - interessava-me a leitura de jornal mais dinâmico e fácil de ler. Hoje em dia reclama-se muito da vida na capital com seu ambiente sufocante,  trânsito parado, poluição etc. Parece-me que sempre foi assim. A cidade nunca atingiu um tamanho no qual pessoas, carros e ruas se equilibrassem. Basta lembrar que na década de 60, por exemplo, não existiam tantos carros como hoje mas, em compensação, não havia a Av. 23 de Maio e muitas outros caminhos abertos depois. Assim, a minha vida em São Paulo era de muita correria e o “Jornal da Tarde” caia como uma luva em relação às minhas necessidades de informação. Nunca é demais acrescentar  que também não dispúnhamos de computadores, internet e outras parafernálias. O telefone em casa era um luxo pelo qual se esperava durante um ou dois anos para que viesse a ser instalado, sendo opção comprá-lo em revenda por preço exorbitante.

Mas, ao jornal. Bem feito, elegante e ousado. A diagramação surpreendia num tempo de jornais maçudos nos quais o equilíbrio entre textos e fotos privilegiava o texto. Isso não quer dizer que ao “Jornal da Tarde” faltasse o bom texto jornalístico: profissionais muito competentes e excelentes repórteres faziam um jornal vibrante e de leitura agradável.

Das primeiras páginas do “Jornal da Tarde” algumas ficaram na memória. Inesquecível aquela do menino chorando após a derrota do Brasil na Copa de 82. Eu a vi na manhã do dia seguinte ao jogo quando passei pelo Viaduto do Chá. O menino chorava por todos nós, pela incompreensível derrota de uma formidável seleção de futebol. Paolo Rossi fizera três gols e calara uma nação preparada para a festa. O grande time do técnico Telê Santana naufragara diante de uma Itália não mais que operosa.

O menino chorando éramos todos nós. Momento grande de jornalismo grande, aventura de um fotógrafo que soube captar o momento exato da tristeza nacional e trazê-lo aos nossos olhos.

Lembrando-me da Copa de 82 e do nosso sofrimento me pergunto por que não é mais assim. Hoje em dia a seleção é derrotada na Copa e não ligamos tanto. Os tempos são outros. Outros? Talvez o sentimento de nacionalidade já não seja o mesmo. Crianças já não aprendem o hino nacional. Não se trata mais da pátria de chuteiras tão proclamada no passado. Talvez seja preciso devolver ao país as lágrimas choradas, a foto do menino chorando que o jornal que hoje se extingue nos trouxe e ficou para sempre.

Vai deixar saudades.

Ofensa a ministro

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Um rapaz desconhecido ofendeu a um ministro do STF. A cena aconteceu no momento em que o ministro compareceu à seção eleitoral para votar e o rapaz, que ali trabalhava, não só chamou-o de Liberandowski como recomendou que ele desse um abraço em seu amigo Dirceu. Cena tosca em se tratando de um ministro que atua na corte superior do país.

O fato fez lembrar a ofensa de Euclides da Cunha ao Ministro da Guerra ao tempo do Império, conselheiro Tomás Coelho. Visitava o ministro a Escola de Guerra e os alunos haviam preparado ato de protesto. Na hora em que estavam perfilados diante do ministro ninguém se moveu e Euclides decidiu dar um passo à frente, jogando ao chão a espada de cadete que tinha em mãos. Tal ato de insubordinação motivou julgamento em Conselho de Guerra, resultando na expulsão de Euclides, por esse meio desligado do Exército.

Segundo biógrafos de Euclides da Cunha ele sempre se negou a pedir desculpas pelo ato praticado na Escola de Guerra. Já o rapaz que ofendeu o ministro do STF arrependeu-se. Escreveu carta e levou-a a casa do ministro. No texto pede desculpas pelo ato impensado de diz ter sido influenciado por jornalistas. No fim pede ao ministro que seja seu amigo.

Euclides da Cunha morreu em 1909, como se sabe, atingido por tiros do aspirante Dilermando de Assis. Interessante a leitura do jornal “Correio da Manhã” dos dias 16 e 17 de agosto de 1909. Nessas edições as reportagens sobre a morte de Euclides enfatizam o seu valor para as letras nacionais e retratam como anormal o estado de saúde do escritor que passaria por longa crise nervosa. Nenhuma alusão á possibilidade de traição da mulher de Euclides fato que o teria levado ao tiroteio que resultou na sua morte.

Viagem ao passado

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Assisti a um interessante programa na TV sobre a possibilidade de viagem ao passado. Explicava-se o “buraco de minhoca” um tubo com duas bocas ligadas a uma garganta. Sendo ele transponível a matéria pode viajar de uma boca a outra, passando pela garganta. A ideia é representada por um verme andando sobre uma maçã. Se ao invés de dar toda a volta para chegar ao outro lado ele cavar um túnel chegará ao ponto final mais depressa. Do mesmo modo um hipotético túnel poderia ser usado para se chegar ao outro lado do universo viajando-se mais rápido que a luz, ou seja, em menos tempo do que a luz levaria para percorrer o espaço normal.

Como se vê os “buracos de minhoca” permitem viajar de um lugar a outro sem passar pelos locais intermediários. Isso significa a possibilidade de viajar no tempo ou percorrer milhares de anos-luz em tempo muito inferior ao registrado nos relógios da Terra. A Teoria da Relatividade de Einstein diz que quando um objeto viaja em velocidade próxima ou igual à da luz o tempo se desacelera. O clássico exemplo é o de dois indivíduos, um que fica na Terra e outro que viaja em nave espacial. No momento da partida o tempo é igual para ambos. Entretanto, devido à velocidade próxima à da luz para o astronauta o tempo passará mais devagar que para o indivíduo que ficou na Terra daí ele envelhecer menos. Em outras palavras, após viagem de poucas horas o astronauta encontrará, ao voltar, o individuo que ficou na Terra envelhecido em alguns anos.

 O fato é que embora matematicamente possíveis não existem meios de fabricar ou ter acesso a “buracos de minhoca”. Caso isso se torne possível estará dado o passo para a construção das chamadas “máquinas do tempo” que permitirão viagens ao passado e ao futuro. Por enquanto viajar no tempo é assunto da ficção científica. O cinema utiliza o tema em filmes de ficção, alguns deles muito interessantes.

Ao assistir ao programa sobre viagens ao passado me perguntei a que ponto da minha vida gostaria de retornar. Curiosamente a primeira coisa que me ocorreu foi voltar a uma manhã de 1965 para encontra-me no momento em que ligava o rádio e ouvia, pela primeira vez, a voz de Paul MacCartney  cantando  a música Michelle que ele acabara de lançar no disco Rubber Soul. Depois me vieram instantes de pessoas já desparecidas que gostaria de reencontrar ainda que só por um instante.

Apagão

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Deixo claro que detesto apagões. Trauma de infância, talvez. Criado em lugarejo, fronteira entre São Paulo e Minas Gerais, recebíamos a energia da Companhia Sul-Mineira de Eletricidade. Eram frequentes os desalinhos das linhas de energia pelo que, por vezes, perduravam por meses quedas de fase. Você sabe como é a luz provida por apenas uma fase? Pois é uma luz fraquinha, mortiça, melancólica, desesperadora. Os chuveiros não esquentam a água para o banho, o rádio – ah o velho rádio – não funciona e vive-se num mundo de ontem que ainda hoje, infelizmente, persiste em muitos lugares do país.

Agora, o que não se perdoa, não se entende, é que no  novo século, neste 21 que já vai indo, de repente falte a energia e o mundo fique mergulhado na escuridão. Com hidroelétricas e cabos ligando regiões distantes, como é que de repente falta luz e empresas parem, vidas corram riscos nos hospitais, sinais de trânsito deixem de funcionar, elevadores fiquem parados e todo mundo sofra porque não há energia e só a bandidagem se ufane porque pode praticar crimes sob a luz de velas?

Não é possível, não? Mas, é sim. Acaba de acontecer um enorme apagão que atingiu 11 estados mostrando que o sistema elétrico do país não é nem um pouco confiável. A falha aconteceu na linha de transmissão entre Tocantins e Maranhão, gerando um efeito cascata que deixou no escuro milhões de pessoas no Norte e no Nordeste. Aí começaram a suspeitar de sabotagem para, no fim das contas, o próprio governo vir a público reconhecer que o sistema não é confiável, que a confiabilidade precisa ser restituída.

Entrevistado, o Prof. José Goldenberg falou sobre a falta de opções e, principalmente, dos descuidos quanto à manutenção. Grandes empresas pronunciaram-se sobre os prejuízos em relação à produção. Capitais como Salvador e outras grandes cidades ficaram no escuro, estabelecendo-se o caos em serviços e transportes.

E dizer que esse foi o terceiro caso de grandes proporções ocorrido no país num prazo de cinco semanas. Eu que não gosto da escuridão espero que as autoridades resolvam os problemas. E não adianta me dizerem que as hidroelétricas ficam longe daí dependermos de muitos cabos que trazem a energia aos aglomerados urbanos. Para ser franco esse é um problema a ser considerado por quem é do ramo. Nós só queremos luz.

Liberdade de ir e vir

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Eu tinha um parente que nos anos 50 e 60 do século passado ia e vinha com alguma frequência ao exterior. Naquela época ouvíamos LPs de jazz gravados pelos grandes nomes do gênero e mal fazíamos ideia de como se passavam as coisas nos EUA. De repente aparecia o rapaz, vindo de New York, contando sobre um show que assistira num clube de jazz daquela cidade. Era um tipo bem de vida, bem arrumado, cosmopolita, cidadão do mundo como, aliás, sempre foi ao longo de sua vida.

Não me lembro bem da primeira viagem que fiz ao exterior, mas terá sido pouco antes dos meus quarenta anos de idade. Até então não tinha viajado porque escravo do trabalho, em outras ocasiões para não gastar etc. Confesso, porém, que iniciadas as viagens nunca mais deixei de fazê-las. Fui muitas vezes aos EUA, em especial a New York cidade apaixonante e que talvez não tenha concorrente igual no mundo. New York é mesmo um mundo a parte, pleno de oportunidades e novidades que encantam com sua atmosfera de filme.

Paris, Londres, Buenos Aires, o mundo é vasto e adorável para se passear. Falo sobre isso porque jamais senti na pele uma proibição para sair do país. Daí que imagino a tão falada Cuba na qual só agora os cubanos contarão com uma flexibilização da legislação migratória. A grande novidade é que a partir de 2013 os cubanos poderão sair do país, embora ainda continuem a existir algumas restrições. Além disso, o governo está admitindo o retorno de pessoas que fugiram do país. Àqueles cuja fuga tenha acontecido há 16 anos será prmitido voltar a residir no país.

Em fevereiro deste ano completaram-se exatos 50 anos do estabelecimento do bloqueio continental imposto a Cuba pelos EUA. O bloqueio significou embargo financeiro, econômico e comercial ao país com tremendos reflexos sobre a economia e vida dos cubanos. O embargo foi consequência da Crise dos Mísseis de Cuba quando a Rússia, em retaliação aos EUA, instalou mísseis nucleares na ilha. Esse episódio foi o mais tenso do período da Guerra Fria e quase deflagrou uma guerra mundial.

Noticia-se que desde 1959, quando Fidel castro assumiu o poder, cerca de 2 milhões de pessoas saíram de Cuba. Retornarão? Só o tempo nos dirá como as coisas se passarão a partir de agora na ilha dominada pelos irmãos Castro.  Enquanto isso, ficamos com as imagens de Havana com seus carros antigos e a história conturbada do país sob interminável ditadura.

Enterrado vivo

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Leio sobre um homem que compareceu ao próprio velório em cidade do interior da Bahia. A tantas os parentes velavam o corpo e eis que surgiu o morto, bem vivo, na sala fúnebre. Familiares haviam reconhecido o corpo, mas enganaram-se. Não era ele. Desfeita a confusão o morto foi identificado e entregue à sua verdadeira família.

Tempos atrás assisti a um filme que de vez em quando se repete na TV paga. O título do filme esclarece magnificamente a trama que se vê na tela: “Enterrado Vivo”. De fato o espectador convive por mais de uma hora com um sujeito encarcerado dentro de um caixão tentando, desesperadamente, conseguir socorro através de contatos telefônicos. Grande parte do tempo ele está no escuro o que representa grande economia de cenários. O filme é inquietante dada a situação em que se encontra a personagem, mas cansativo porque o problema não se resolve. O espectador fica preso até o final apenas por querer saber no que vai dar aquilo tudo. O homem enterrado vivo safa-se ou não? Quem quiser saber tem que assistir ao filme.

“Enterro Prematuro” é o título de um fantástico conto de Edgar Allan Poe. Nesse conto toda atmosfera de terror que envolve a situação de alguém encarcerado num caixão e ainda com vida é expressa em voltagem máxima. Poe cita casos de esqueletos encontrados em cemitérios em posição diferente das que foram enterrados e, se bem me lembro, evoca a catalepsia que consiste num estado de paralisia que é confundido com a morte. Não sei dizer se hoje em dia, mas no passado havia quem se preocupasse com estados de catalepsia, temendo ser enterrado vivo. Entre nós muitos são os casos narrados de pessoas que se suspeita tenham sido enterradas ainda com vida. Anos atrás se divulgou que um famoso ator de teatro, precocemente morto, teria sido enterrado ainda vivo, fato  que, segundo se afirma, foi comprovado tempos depois quando houve necessidade de abrirem o caixão onde estavam os seus restos.

Não havendo certeza sobre enterros de pessoas vivas o melhor é ficar com a história da volta de um sujeito que afinal não foi. Consta que ele vive longe da família e surpreendeu-se ao saber que era tão estimado pelos parentes. Trata-se de final edificante para acontecimento que não deixa de ser estranho.

Mensalão

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O Supremo Tribunal Federal (STF) condena José Dirceu e a cúpula do PT por formação de quadrilha. O fato é inédito porque a condenação atinge os até hoje inatingíveis criminosos de colarinho-branco. A condenação de dez réus pelo crime de formação de quadrilha foi estabelecida por 6 A 4. Quatro ministros, portanto, não concordaram com os argumentos em favor da condenação. O que se diz é que criminosos de colarinho-branco estão, a partir de agora, no mesmo patamar que pobres, pretos e prostitutas.

Por outro lado os condenados se reúnem e protestam inocência. Alegam a seu favor o passado de lutas em prol do estabelecimento da democracia no país. Presos e perseguidos, alguns torturados durante o regime de exceção no país, os condenados veem no julgamento do STF ameaça à democracia e indícios de que condenações devidas a perseguições políticas poderão acontecer a partir de agora.

O que pensar nesse momento em que serão definidas as penas aos condenados e alguns deles poderão cumpri-las em regime fechado? Em primeiro lugar está a impossibilidade de que todas essas escabrosas acusações tenham sido inventadas. Não seria possível enganar a tanta gente com a invenção de acusações do naipe das que foram feitas. Há que se confiar, ainda, que os magistrados que constituem a suprema corte do país sabem o que fazem acostumados que são à rotina de julgamentos importantes. Não bastasse a experiência pessoal louve-se o esperado alto nível de conhecimento jurídico de cada um deles. Não é qualquer um que se torna juiz do STF isso a despeito de possíveis interesses políticos na nomeação de um ou outro magistrado. No caso atual é sempre bom repetir que a maior parte dos magistrados que julgam o mensalão foi indicada ao tempo em que o PT ocupava o governo central do país.

Mas, quanto aos condenados, o que dizer? Não se pode negar a eles o valor do passado de lutas, o sacrifício pessoal que afetou dramaticamente suas vidas e a de muitos outros que desapareceram acusados que foram da prática de atos extremistas. Entretanto, é de se supor que os atuais condenados tenham sido vítimas da febre de poder que pode acossar aqueles que, após muita luta e sonhos, passam, finalmente, a ocupar altos cargos na estrutura da República. A convicção de que tudo vale quando estão em jogo interesses partidários ou de governos possivelmente serviu como base para a prática dos crimes que atualmente são julgados.

A história é rica em personagens que militam em busca do poder, mas que se permitem desmandos quando conseguem chegar a ele. Pode até ser que os atuais condenados do mensalão acreditem em suas inocências baseados em atos do passado e de seus princípios ideológicos tantas vezes radicais. De todo modo nada disso os torna inocentes por práticas que, no entendimento do STF, ofenderam a lei.

Dúvidas crescentes

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Não tenho lido romances. Nos últimos que li o gênero me pareceu cansado. Talvez tenha sido porque escolhi autores cujas narrativas não me dissessem respeito ou, de algum modo, não aguçaram as dúvidas crescentes que me atormentam. O passar do tempo funciona como abismo do qual não emergem respostas. Defino o tempo depois dos 60 anos de idade como época de incertezas. Você simplesmente não sabe o que o aguarda a partir de então. As velhas questões ressurgem irrespondíveis. Deus? Vida após a morte? Religião? Crenças nos tais valores universais que a cada instante são desrespeitados? E quanto à duração da vida? Até quando estarei aqui?

Daí que tenho me dedicado a textos de filósofos, embora me pareça que também eles teorizaram muitas vezes em vão. Entretanto, dessas leituras não há como não se dissociar a vida dos filósofos das obras que escreveram.  Há o Platão da Academia, o Aristóteles do Liceu e por aí vai.  Embora os dados biográficos disponíveis de Platão e Aristóteles nem sempre sejam confiáveis o que mais transparece do que se sabe sobre eles é o fato de que a virtude sobre a qual falavam nem sempre se coadunava com a vida prática que levavam. Se a nossa atenção for deslocada para Sêneca, grande defensor de valores éticos e estoico, fica difícil compreender a grande fortuna que amealhou em vida e mesmo sua estreita ligação com o tirano Nero quando imperador romano.

Crianças fazem perguntas simples as quais não sabemos responder, coisas sobre existir e não existir, para onde vamos após a morte etc. Creio que na velhice essas mesmas perguntas retornam e nos atormentam. A inteligência humana aprimora-se e quer respostas. No fim morremos sem saber e fato é que até hoje ninguém retornou para nos dizer como as coisas se passam no outro mundo. O resto é especulação. Aliás, especular é o que mais fazemos quando as dúvidas de sempre nos obrigam a pensar.

Os filhotes de papagaio

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O que mais me impressionou nas últimas horas? Bem, não foi a imagem do atentado no Líbano no qual morreram algumas pessoas e mais de 80 ficaram feridas.  Nem de longe foi o último capítulo da novela que, segundo corre por aí, paralisou o país. Final com redenção da protagonista mau caráter que, aos 47 do segundo tempo, salvou aqueles a quem prejudicou ao longo de todos os capítulos. Nem mesmo foi a entrevista do marqueteiro da campanha de Lula que recebeu a módica quantia de R$ 11 milhões no exterior, mas que foi absolvido pelo STF porque disse desconhecer a origem do dinheiro.

Você pode até achar que se trata de um exagero, mas o que mais me cutucou, mais doeu, foi a fotografia de 40 filhotes de papagaio encontrados numa caixa dentro do porta-malas de um carro. Para além do crime ambiental, muito além, está a imagem daqueles pobres seres espremidos na caixa, alguns deles olhando para cima como a se perguntar sobre o quê, afinal, estava acontecendo a eles.

Há quem possa ver nisso fato de menor importância porque ali estavam só uns filhotes de aves e tantas morrem na natureza, não é assim? Mas, não! A cena dos filhotes no porta-malas remete a horrores praticados não só contra animais, mas ao próprio homem. Trata-se de algo em que o interesse escuso sobrepõe a noção de humanidade que, enquanto seres pensantes, temos por obrigação manter e praticar.

Creio que nunca será completamente esclarecida a questão sobre a inteligência dos animais. Pesquisas em geral apontam que algumas espécies são mais bem dotadas que outras, nenhuma delas chegando o mais perto que seja da inteligência humana. Entretanto, quem convive com animais muitas vezes se torna capaz de jurar que alguns deles são de fato inteligentes.

Pois olhe que eu torço para que os papagaios não tenham nenhuma inteligência, embora sejam tão ativos e até capazes de pronunciar palavras graças às suas desenvolvidas siringes. Torço porque só assim aqueles filhotes não teriam noção da lamentável e sufocante situação em que se encontravam.

Pobres filhotes!

Hormônios proibidos

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Então não tem jeito mesmo, a velhice é inexorável, não há como combatê-la, muito menos como evitá-la. A partir de agora fica proibida a administração de hormônios a pessoas que têm níveis normais deles no sangue. Também fica proibido o uso de vitaminas, antioxidantes, procaína e outras substâncias prescritas com a finalidade de barrar o envelhecimento. Evidentemente os hormônios serão permitidos quando comprovada a falta deles no organismo. Enfim, retardar, prevenir o envelhecimento ou tentar revertê-lo através de medicamentos tornam-se medidas terapêuticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Há quem não se incomode com a velhice, mas muita gente não vê com bons olhos o último estágio da vida. Os homens parecem se preocupar um pouco menos que as mulheres com a aparência na velhice. A indústria de cremes, cosméticos de todo tipo e tratamentos de pele floresce a cada dia, prometendo retardar os sinais do envelhecimento. Isso sem falar nas cirurgias plásticas que renovam aparências, nas aplicações de botox e outros procedimentos que surgem e custam muito dinheiro aos que optam por realizá-los.

Em todo caso a medida do CFM é acertada e louvável. Afinal, para que submeter pessoas a tratamentos de eficácia não comprovada, alguns deles com consequências danosas ao organismo?

Entretanto, ao ler a notícia da proibição não pude deixar de pensar na questão da esperança. Acompanha a proibição, inevitavelmente, a perda de uma ilusão. A verdade é que muita gente não se importa em deixar-se enganar quanto à possibilidade de retardar o envelhecimento. O tratamento representa sempre uma esperança, não é?

Lembro-me de uma história que me foi contada por um de meus antigos professores. Dizia ele que num asilo de cegos o diretor teve a ideia de substituir os olhos retraídos dos cegos, cujo aspecto era horrível, por olhos de vidro que melhorariam a aparência de todos.  A ideia foi acolhida, aprovada e realizaram-se as cirurgias. No começo tudo foi muito bem até que os cegos apresentaram alterações de comportamento, alguns se tornaram violentos, outros beiravam a loucura. A explicação para o fato era simples: enquanto tinham os olhos os cegos mantinham a esperança no milagre de tornar a ver. A substituição por próteses de vidro tirou deles a esperança, daí os tristes episódios então presenciados.

Não sei se a história é verdadeira. Louve-se ainda uma vez a medida do CFM, proibindo a prescrição de medicamentos ineficazes, alguns até perigosos. Fica a torcida para que algo realmente eficaz venha a ser descoberto no sentido de retardar o envelhecimento.