Jornal da Tarde at Blog Ayrton Marcondes

Jornal da Tarde

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Fecha hoje o “Jornal da Tarde” do grupo “Estado”. A publicação deixará de aparecer nas bancas a partir de amanhã. Foram 46 anos de vida iniciados no dia 4 de janeiro de 1966.

Não leio o “Jornal da Tarde a bastante tempo, mas fui leitor assíduo da publicação durante muitos anos. Estudante em São Paulo - mesmo depois, já trabalhando na cidade - interessava-me a leitura de jornal mais dinâmico e fácil de ler. Hoje em dia reclama-se muito da vida na capital com seu ambiente sufocante,  trânsito parado, poluição etc. Parece-me que sempre foi assim. A cidade nunca atingiu um tamanho no qual pessoas, carros e ruas se equilibrassem. Basta lembrar que na década de 60, por exemplo, não existiam tantos carros como hoje mas, em compensação, não havia a Av. 23 de Maio e muitas outros caminhos abertos depois. Assim, a minha vida em São Paulo era de muita correria e o “Jornal da Tarde” caia como uma luva em relação às minhas necessidades de informação. Nunca é demais acrescentar  que também não dispúnhamos de computadores, internet e outras parafernálias. O telefone em casa era um luxo pelo qual se esperava durante um ou dois anos para que viesse a ser instalado, sendo opção comprá-lo em revenda por preço exorbitante.

Mas, ao jornal. Bem feito, elegante e ousado. A diagramação surpreendia num tempo de jornais maçudos nos quais o equilíbrio entre textos e fotos privilegiava o texto. Isso não quer dizer que ao “Jornal da Tarde” faltasse o bom texto jornalístico: profissionais muito competentes e excelentes repórteres faziam um jornal vibrante e de leitura agradável.

Das primeiras páginas do “Jornal da Tarde” algumas ficaram na memória. Inesquecível aquela do menino chorando após a derrota do Brasil na Copa de 82. Eu a vi na manhã do dia seguinte ao jogo quando passei pelo Viaduto do Chá. O menino chorava por todos nós, pela incompreensível derrota de uma formidável seleção de futebol. Paolo Rossi fizera três gols e calara uma nação preparada para a festa. O grande time do técnico Telê Santana naufragara diante de uma Itália não mais que operosa.

O menino chorando éramos todos nós. Momento grande de jornalismo grande, aventura de um fotógrafo que soube captar o momento exato da tristeza nacional e trazê-lo aos nossos olhos.

Lembrando-me da Copa de 82 e do nosso sofrimento me pergunto por que não é mais assim. Hoje em dia a seleção é derrotada na Copa e não ligamos tanto. Os tempos são outros. Outros? Talvez o sentimento de nacionalidade já não seja o mesmo. Crianças já não aprendem o hino nacional. Não se trata mais da pátria de chuteiras tão proclamada no passado. Talvez seja preciso devolver ao país as lágrimas choradas, a foto do menino chorando que o jornal que hoje se extingue nos trouxe e ficou para sempre.

Vai deixar saudades.



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