2018 dezembro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para dezembro, 2018

Keith Richards

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O alarme fora dado algumas horas antes: não deveríamos beber água pelo risco de contaminação por radioatividade. Não dava para entender. E a água dos filtros, a engarrafada? Estavam todas proibidas até que recebêssemos nova orientação.

Nesse ínterim eu me encontrei com o japonês. Não o via há décadas. Bom papo, o japonês ensinava história numa universidade. No passado me ajudara durante trabalho de escritura de um livro. Inteirara-me de alguns preceitos do marxismo os quais, na opinião dele, faltavam no meu texto.

O encontro com o japonês foi ótimo. Falávamos sobre a notícia da contaminação radioativa quando, ao avistar um ônibus que se aproximava, ele me disse: vem aí o Keith Richards.

Ora, estávamos numa praça onde o ônibus estacionou e algumas pessoas rapidamente o cercaram. Queriam ver o Richards. Não me recordo de quantos segundos precisei para vencer a minha resistência e postar-me defronte a porta do ônibus que se abrira. Afinal, que me interessava ver o Keith Richards em carne e osso?Aliás, por que estaria ele na minha cidade, justamente ali?

Do ônibus começaram a descer seguranças, uns caras fortes, vestidos de preto, todos com vastos bigodes. Mais pareciam clones um do outro. Entre nós um estremecimento: em pouco o grande ídolo surgiria.

Mas, em vão esperamos. Keith Richards nunca saiu daquele ônibus. Quanto ao meu grande amigo, o japonês, desparecera misteriosamente. Foi quando acordei. Sentado na cama pensei sobre criações em sonho e o modo de como somos levados a mundos paralelos onde fatos estranhos acontecem.

Mas, no fundo, eu estava mesmo é com sede. Levantei-me, fui até a cozinha e enchi um copo com água. Ia bebê-lo quando me lembrei da ameaça radioativa. Estaria eu, ainda, dormindo, sonhando?

Despertei pela manhã inseguro. Afinal, por onde andara durante a madrugada?

Depois do natal

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Depois do natal

Fim de ano. Entre o natal e o ano novo um intermezzo de nem sempre fácil travessia. É quando paramos para fazer as contas, erros e acertos, prós e contras etc. Esse balanço nem sempre resulta agradável.

Impossível, no natal, não refletir sobre tantos outros que já vivemos. As coisas podem se complicar justamente no momento da ceia. Quando nos sentamos à mesa e observamos as faces de nossos convivas eis que se assoma uma ponta de desengano. Onde os convivas do passado, aqueles com quem estivemos naquele ano, naquele natal? E o primo João de quem tanto gostávamos, ele que nos fazia rir com seu besteirol tão bem preparado, ele que foi levado por um câncer quando ainda tinha só 39 anos?

O natal consiste de reunião feliz da qual participamos com entes queridos. Mas, existe outro natal, o dos ausentes, das cadeiras vazias ao nosso lado, natal de memórias sobre tantos que pela nossa vida passaram e outros que da mesma vida já se foram. Basta-nos fechar os olhos para imergir em natais passados, outras mesas, outros comes bebes e, principalmente, outras pessoas, os tais ausentes cuja falta tanto nos pesa.

De repente, eis-me menino com minha irmã a correr pela casa onde morávamos, empunhando pincéis e tinta para dar um jeito nas paredes, tudo isso porque era natal e precisávamos da cor, da beleza que tanta falta nos fazia. E na rua defronte à nossa casa, deslizando sobre o chão de terra batida, aquele negro alto, o cabo Chico, homem sem nariz cuja voz parecia nascer espremida pelo ar que a ele faltava, bêbado e louco, quase dançando, pobre e, entretanto, feliz porque era natal.

Para onde foram todos? Onde as gentes de outros natais, onde as pessoas a quem amamos? Estará, ainda, passado já mais de sessenta nos, o cabo Chico deslizando, naquela rua, perdida no tempo, reprisando cena que só sobrevive na minha memória, neste natal?

Na madrugada sento-me à mesa e observo as cadeiras vazias. De repente, percebo que não estou só. Eles vão chegando devagar, silenciosamente ocupam seus lugares. Em pouco estamos juntos, novamente. Ali estão minha mãe, meus irmãos… Eles me olham sorridentes, felizes. É mesmo o natal.

Escrito por Ayrton Marcondes

30 dezembro, 2018 às 8:03 am

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O Brasil dos brasileiros

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Refiro-me ao Brasil consoante nosso entendimento enquanto filhos dessa terra. A famosa frase atribuída a Tom Jobim está muito em alta: o Brasil não é para principiantes. Talvez seja melhor acrescentar: nem para os veteranos.

Não é o caso de gastar tempo, cintando as incongruências às quais estamos habituados. Tanta disparidade acontece que vão se tornando “normais”, peças do cotidiano. Quem acompanhou, no dia de ontem, a efervescência ocorrida entre membros do Poder Judiciário sabe, perfeitamente, ao que nos referimos. Este é um país que sobrevive, heroicamente, a toda sorte de desastres.

A quem vive por aqui existe a certeza de que tudo é possível. Tudo pode acontecer, inclusive após autoridades estarem no quase recesso. Como afirmou um jornalista, aos 45 do segundo tempo…

O problema é que estamos cansados. A mesmice do noticiário avisando-nos sobe atos destemperados, violência, corrupção, esgota-nos. O brasileiro de hoje é um sujeito que não tem em quem confiar. Está-se no território da suspeita. Sobre tudo paira pelo menos uma ponta de desconfiança. Que dizer de um país no qual o presidente em exercício, prestes a deixar o governo, é acusado pelo Ministério Público de favorecer empresa portuária da qual suspeita-se seja ele mesmo o proprietário? Que dizer de uma corte superior na qual há muito desapareceu o colegiado e as diferenças de posicionamentos de seus membros escancara-se à opinião?

Eis que se aproxima o natal. Em pouco adentraremos o novo ano. Nesse período em que as pessoas buscam se encontrar resta-nos torcer para que se inaugure uma nova época de entendimento e paz. Desnecessário dizer que não se tem muita esperança nisso dado o permanente conflito de interesses reinante entre os que nos dirigem. Mas, não custa ter um pouco de fé no bom-senso dos homens.

Paul McCartney

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Foi num aniversário de criança que ouvi de um amigo sobre a presença de extraterrestres entre nós. Na época George W Bush era o presidente dos EUA e são de domínio público algumas medidas consideradas inadequadas tomadas por ele.

Pois, lá pelas tantas e com umas cervejas no bucho, o amigo me confidenciou que Bush era extraterreste. Tinha certeza disso o amigo, aliás ele não estava sozinho ao afirmar isso dado que muita gente acreditava nesse fato. Explicou-me que os extraterrestres haviam colocado Bush no governo do país mais poderoso do mundo com a única intenção de enfraquecer os humanos. A “Guerra ao Terror” empreendida por Bush após o 11 de setembro teria sido urdida por mentes avançadas de seres que não viviam na Terra. Que eu considerasse as invasões ao Afeganistão e ao Iraque cujos resultados foram tão duvidosos.

Confesso ter, na ocasião, achado que o meu amigo andava com os parafusos meio soltos. Para começar seria preciso admitir a existência de vida inteligente fora de nosso planeta o que, aliás, não é difícil. Mas, a partir daí supor que seres de outras paragens espaciais estivessem por traz de acontecimentos como o ataque às Torres Gêmeas e as consequentes invasões decretadas pelo governo Bush… Não seria mais fácil a esses tão evoluídos povos do espaço invadir de vez a Terra e colocar em prática seus planos de dominação ou mesmo extinção dos terráqueos?

Não me recordo se cheguei a contrapor argumentos à afirmação do meu amigo. Aliás, depois dessa ocasião, não mais o revi. Entretanto, a partir daí passei a considerar o fato de que entre nós, de fato, possam existir pessoas senão diferentes, talvez extraterrestres. Será?

De tempos em tempos surgem no mundo pessoas de tal modo diferenciadas que, não há como negar, aparentam não pertencer ao comum dos mortais. Exemplo? Hoje mesmo se anuncia que o ex-Beatle, Paul McCartney, virá novamente ao Brasil onde se apresentará a seus milhares de fãs. O fato é que não se pode considerar McCartney como um sujeito comum. Sua incrível trajetória no mundo da música, suas composições que até hoje cantamos, o fato de ter feito parte da maior banda de rock de todos os tempos, a parceria dele com John Lemon, enfim tudo… Em que categoria de seres humanos se enquadra o gênio de Paul McCartney?

Não ouso dizer que Paul McCartney seja um extraterrestre. Mas, na esteira do raciocínio do meu amigo, essa hipótese não pode ser descartada por mais improvável que venha a ser. Dirão que é pura loucura com o que não posso deixar de concordar. Mas…

Será que existem mesmo extraterrestres entre nós?

João de Deus

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Quem vai a Abadiânia vive experiência incomum. O lugar é frequentado por muita gente que para ali se dirige por conta dos milagres de João de Deus. Não são só brasileiros: na Casa de Dom Inácio - lugar onde João de Deus atende aos que o procuram - ouvem-se várias línguas. São visitantes oriundos de vários países em busca de resolução para seus males, muitas vezes doenças graves e até incuráveis.

João de Deus atende a essas multidões que se organizam em intermináveis filas. Ninguém fica sem ser atendido, pertença à primeira vez em visita ao centro ou se já tenha estado ali mais vezes.

A rotina do centro é a mesma em todos os dias. As pessoas, vestidas de branco, aguardam a chegada do médium, seguindo um ritual de orações cadenciadas por membros do grupo de João que ali trabalham. Ao chegar João ocupa-se de cirurgias, algumas delas com intervenções nas quais os presentes veem correr sangue. João não deixa de lembrar aos presentes sua condição de simples veículo para a ação de espíritos. Repete que não cura ninguém, quem cura é Deus. Avisa que ninguém deverá desistir dos tratamentos recomendados pelos médicos. Depois disso, segue para sua cadeira na qual se senta e passa a atender as pessoas das filas.

Estive em Abadiânia por conta do câncer de minha filha. O progresso da doença e a ineficácia do tratamento realizado segundo a medicina tradicional levaram-me a buscar outras soluções. Confesso ter ficado profundamente impressionado com o que presenciei na casa de Dom Inácio. Reúnem-se ali, a cada dia, cerca de mil pessoas, movidas pela fé. Não há como negar a existência de um clima salutar do qual pode se ressaltar o lado bom dos seres humanos. Corre em Abadiânia uma energia positiva que chega a ser palpável. Não há como ficar de fora dessa atmosfera de verdadeiro transe do qual passa-se a fazer parte quase inconscientemente.

Em Abadiânia ouvem-se relatos de verdadeiros milagres conseguidos através da participação mediúnica de João de Deus. Ouvi de um russo, traduzido por intérprete, a história de um câncer que, segundo os médicos, o mataria em menos de três meses. Sua cura, considerada impossível, teria se dado após a visita ao centro. Esse milagre, considerado impossível, teria assombrado aos médicos que tratavam o russo. Impossível, segundo eles, que da noite para o dia nos exames laboratoriais se obtivessem resultados normais, sem vestígios da grave doença que o levaria à morte.

Sempre avesso a fatos dessa natureza vi-me em cheque diante de tantos depoimentos. O fato é que se pode enganar a uns tantos, durante algum tempo. Mas, é digno de nota o fato de João manter trajetória de mais de 40 anos de atividades, fazendo a mesma coisa e contando com a confiança de milhares de pessoas.

Entretanto, repentinamente esse mundo de fé e tantas curas estremece. De repente, vozes se erguem contra João de Deus. Mulheres vêm a público para acusá-lo de assédio sexual. Trata-se de narrativas constrangedoras, nas quais o médium não teria nenhum constrangimento em se aproveitar de momentos de fraqueza dos que os procuram para satisfazer-se sexualmente. Da noite para o dia os depoimentos se avolumam. O caso ganha projeção na mídia. Autoridades se organizam para verdadeira maratona de coleta de novos depoimentos.

Abadiânia se cala. Vivendo à sombra do médium e mantendo negócios em torno das romarias de visitantes, empresários locais certamente temem o fim de suas atividades. Sem João de Deus Abadiânia deixará de ser o polo que atrai aqueles que buscam solução e cura para seus males.

Por meio de seu advogado João de Deus rechaça veementemente as acusações que a ele fazem. Além do que se coloca à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.

Os próximos dias certamente nos trarão novidades sobre o assunto.

Contradições

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O Rafael sempre foi um bon vivant. Para ele o tempo parece não ter passado. Mora há anos no mesmo bairro, encontra-se com velhos amigos, frequenta o barzinho de sempre e, aos 70 anos, continua namorador.

O Rafael sempre foi fiel às suas convicções. No tempo da ditadura fez parte de grupo contrário ao regime. Acabou sendo preso e nunca se abriu sobre o que ocorreu a ele durante o período de reclusão.

Depois da abertura, em 1985, o Rafael filiou-se ao PT. De lá para cá sempre apoiou o partido. Um tanto extremado faz parte do contingente que acusa de golpe a demissão da Dilma e de perseguição a prisão do Lula. Sobre esse assunto nem adianta discutir com ele. Atribui à direita - sempre ela - as mazelas do país. Queria Lula - ou Haddad - no poder para que os pobres fossem atendidos em suas necessidades. Mas, as urnas o traíram e agora teima em garantir que nada, nada mesmo, pode se esperar do novo governo.

Mas, quem conhece o Rafael sabe que, no fundo, ele é um grande amante da vida boa. Mulheres, bares, viagens… Trabalho só na proporção para garantir os trocos para suas aventuras.

Tempos atrás eu disse ao Rafael que quando fazemos sessenta anos as coisas se passam dentro da normalidade. Não sente muito a chegada da sexta década de vida. Entretanto, completei, o diabo é quando se alcança os setenta. A partir daí o corpo começa a dar sinais de algum esgotamento e a energia deixa de ser a mesma de antes.

Pois hoje eu me encontrei por acaso com o Rafael que foi logo dizendo que tem pensado muito em mim. Mais especificamente ele tem se lembrado do que eu disse a ele sobre a chegada aos setenta. Pela primeira vez vi no grande namorador sinais de que a idade pesava a ele. Aliás, ele mesmo me confessou que hoje em dia se sente cansado e seu ânimo não anda lá essas coisas. Garantiu-me que o cansaço não é só físico. Falou-me sobre os tempos atuais nos quais toda sorte de problemas nos roda. Uma problemada que não dá folga - garantiu. Assuntos de serviço, de família, de dinheiro, más notícias, violência etc. Está-se perdendo a graça de viver.

Não há como não concordar com o Rafael, ainda mais nesses tempos tão bicudos. Mas, há algo que considero estranho, talvez até mesmo uma contradição - eu disse isso a ele. Trata-se do fato de que, em meio a essa avalanche de pressões, de algum modo a sensibilidade pessoal tem-se agigantado. Coisas pelas quais passávamos incólumes hoje em dia podem até mesmo levar-nos às lágrimas. Contei a ele sobre o fato de ter, ao acaso, sintonizado na TV um canal no qual se apresentava uma pianista japonesa a executar Mozart. Ainda moça, mas brilhante, a pianista se apresentava com tal empenho, sensibilidade e perfeição que, quando dei por mim, notei que lágrima escorriam pelo meu rosto. Talvez a rudeza do mundo que nos cerca nos imponha a necessidade de permitir inesperados extravasamentos de sensibilidade a atestar-nos que continuamos humanos, apesar das adversidades.

Ou apenas a velhice seja a razão de tudo isso?

Orlando da Mata

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Não se nega que entre idosos exista o receio de ficarem sozinhos. A morte de um dos parceiros de um casal deixa aquele que sobrevive em situação quase sempre complicada. São inúmeros os casos de pessoas que se veem obrigadas a viver na casa de filhos, isso em geral contra suas vontades. Há também os casos de recolhimento a abrigos onde os velhos são cuidados até que a morte os leve.

Cada família terá histórias a contar sobre o destino de entes queridos após atingirem idades nas quais já não conseguiam cuidar de si próprios. Ainda que tratados com muito amor a situação de dependência por si só se torna razão de sofrimento para pessoas idosas.

Conheci uma senhora que se manteve solteira até os 50 anos. Terá sido o receio de enfrentar a velhice sozinha que a levou a aceitar a proposta de casamento de um militar aposentado, sujeito de bom aspecto e de muita saúde.

Assim, casaram-se. Eis que o tal - chamava-se Orlando da Mata - revelou-se bom marido e companheiro. Cuidava bem da esposa e era dado a viagens e passeios. Entretanto, tinha lá suas esquesitices. Uma delas, a de ser adepto do nudismo. Pois esse Orlando jamais se vestia quando estava em sua casa. Fosse alguém visitá-lo teria que se entender com ele tão nu como fora nascido.

Para a mulher esse modo de ser figurava-se inaceitável. Pior ainda nas ocasiões em que ele frequentava campos de nudismo e insistia com ela para que também se apresentasse nua.

No correr dos anos perdi contato com essas pessoas. A essa altura, decorridos tantos anos, é certo que já tenham morrido. Não sei quem terá falecido primeiro, deixando o parceiro sozinho, de vez que não tiveram filhos.

Em todo caso, vale recordar que o Orlando da Mata era um bom sujeito. Naqueles anos em que o som estereofônico era novidade, ele ficava horas ouvindo músicas. Tinha grande prazer em detectar a divisão de instrumentos nas caixas de som e elogiava muito os avanços da tecnologia naquela época.

Eu era um rapazote quando, certo dia, minha avó me mandou levar uma vasilha à casa do Orlando da Mata. O homem que me recebeu à porta estava nu. Entreguei a vasilha à mulher dele que estava na cozinha. Na volta dei com aquele sujeito pelado, sentado no sofá da sala, ouvindo seu som estereofônico. Essa a imagem que guardei do Orlando, peladão convicto.

Escrito por Ayrton Marcondes

4 dezembro, 2018 às 11:02 am

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Pobre América

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A velha história de que Colombo teria descoberto também o Brasil não encontra eco entre os bons historiadores. Cabral é o homem que aportou em Porto Seguro e iniciou a civilização europeia por essas plagas. Isso a despeito dos índios que já viviam aqui desde tempos imemoriais.

Mas, a América do Sul foi descoberta e, desde então, prossegue como continente subdesenvolvido em comparação com a Europa e América do Norte. Mas, não custa recordar que esta é a nossa terra, a qual amamos, e da qual temos orgulho. Vivemos no Brasil, país de enormes recursos. A grandeza continental do país, a beleza de suas regiões e um povo que, de norte a sul, fala a mesma língua, faz-nos crer que avançaremos rumo a melhoras tão sonhadas pela população.

Mas, à América. Hoje a América do Sul cobre-se de vergonha. Eis que sobre ela pesa ofensa inaceitável. Como se sabe, no futebol disputa-se o título da Taça Libertadores da América. Neste ano a partida final deverá ser entre dois clubes argentinos, o Boca Juniors e o River Plate.

A rivalidade entre as duas equipes é conhecida. Em conjunto, ambos os times contam com mais de 70% da torcida argentina. No primeiro jogo, realizado no estádio da Bombonera, houve empate. O segundo jogo, marcado para o Monumental de Nunes, campo do River, não chegou a ser realizado. Ao se aproximar do estádio o ônibus do Boca foi atacado por torcedores adversários e a partida foi suspensa.

A partir daí o que se viu foi uma sucessão de desencontros até se concluir que o jogo não poderia ser realizado na Argentina. Nesse caso, os países vizinhos da América do Sul possuem estádios de alto nível e poderiam abrigar a tão esperada contenda. Mas eis que os dirigentes da CONMEBOL determinaram que o jogo venha a ser realizado… em Madri.

Ora, eis que se considera que a América do Sul nem mesmo reúne condições para sediar um jogo que decide a Taça Libertadores da “América”. Absurdo. Em primeiro lugar o jogo deveria ser realizado mesmo em Buenos Aires. Que as autoridades argentinas se ocupassem da segurança e criassem condições para a realização da partida. Entretanto, caso isso se revelasse de todo impossível, eis que a lógica nos impõe a realização do jogo na própria América do Sul, nunca na Europa ou na Ásia.

Pobre América.