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Orlando da Mata

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Não se nega que entre idosos exista o receio de ficarem sozinhos. A morte de um dos parceiros de um casal deixa aquele que sobrevive em situação quase sempre complicada. São inúmeros os casos de pessoas que se veem obrigadas a viver na casa de filhos, isso em geral contra suas vontades. Há também os casos de recolhimento a abrigos onde os velhos são cuidados até que a morte os leve.

Cada família terá histórias a contar sobre o destino de entes queridos após atingirem idades nas quais já não conseguiam cuidar de si próprios. Ainda que tratados com muito amor a situação de dependência por si só se torna razão de sofrimento para pessoas idosas.

Conheci uma senhora que se manteve solteira até os 50 anos. Terá sido o receio de enfrentar a velhice sozinha que a levou a aceitar a proposta de casamento de um militar aposentado, sujeito de bom aspecto e de muita saúde.

Assim, casaram-se. Eis que o tal - chamava-se Orlando da Mata - revelou-se bom marido e companheiro. Cuidava bem da esposa e era dado a viagens e passeios. Entretanto, tinha lá suas esquesitices. Uma delas, a de ser adepto do nudismo. Pois esse Orlando jamais se vestia quando estava em sua casa. Fosse alguém visitá-lo teria que se entender com ele tão nu como fora nascido.

Para a mulher esse modo de ser figurava-se inaceitável. Pior ainda nas ocasiões em que ele frequentava campos de nudismo e insistia com ela para que também se apresentasse nua.

No correr dos anos perdi contato com essas pessoas. A essa altura, decorridos tantos anos, é certo que já tenham morrido. Não sei quem terá falecido primeiro, deixando o parceiro sozinho, de vez que não tiveram filhos.

Em todo caso, vale recordar que o Orlando da Mata era um bom sujeito. Naqueles anos em que o som estereofônico era novidade, ele ficava horas ouvindo músicas. Tinha grande prazer em detectar a divisão de instrumentos nas caixas de som e elogiava muito os avanços da tecnologia naquela época.

Eu era um rapazote quando, certo dia, minha avó me mandou levar uma vasilha à casa do Orlando da Mata. O homem que me recebeu à porta estava nu. Entreguei a vasilha à mulher dele que estava na cozinha. Na volta dei com aquele sujeito pelado, sentado no sofá da sala, ouvindo seu som estereofônico. Essa a imagem que guardei do Orlando, peladão convicto.

Escrito por Ayrton Marcondes

4 dezembro, 2018 às 11:02 am

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A parenta

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A parenta casou-se quando já não acreditava mais fosse possível. Beirava os 50 quando conheceu o sujeito falante pelo qual logo se derreteu. Era um tipo espigado, entrado nos sessenta, cabelos ralos e muita energia. Militar aposentado gastava o tempo em sua casa, ouvindo música, ou em visitas no interior. Mas, morava na capital de onde dizia que não se mudaria de jeito nenhum.

O apartamento em que moravam ficava no quinto nadar de um prédio localizado na esquina de rua movimentada, Naquela época ainda circulavam os bondes na cidade. O problema era o ruído do trânsito. Ainda mais porque, nas madrugadas, os bondes continuavam a dobrar a esquina. A parenta reclamava. Não conseguia dormir. O marido explicava que nada se poderia fazer dado que os trilhos eram fixos e por eles seguiam os bondes.

Mas, o tipo espigado, o falante, o marido, bom sujeito, tinha lá suas esquisitices. A parenta casara-se sem saber que o tipo era nudista. Tamanha aversão tinha a roupas que de modo algum se vestia quando em casa. Sempre peladão com a mão no bolso - era como ela o descrevia.

Certa ocasião fui visitá-los, na verdade para entregar a ela encomenda enviada pela minha avó. No quinto andar, diante da porta, apertei a campainha. Logo o marido a abriu, recebendo-me com um largo sorriso. Estava completamente nu. Convidou-me à sala, sentamo-nos e logo veio a parenta. Dizer que estávamos constrangidos é pouco. Eu, então rapazote, estranhava ter diante de mim aquele homem nu. A parenta parecia envergonhada. Ainda assim conversamos o suficiente e logo me despedi. Confesso que me senti aliviado quando alcancei a rua.

Mais tarde soube que os dois não foram muito felizes. A parenta de modo algum concordava com ele sobre frequentar campos de nudismo. Mulher nascida na primeira metade do século 20 e filha de pai austero causava-lhe espanto o nudismo. Longe dela a naturalidade com o que o marido encarava o assunto. E frequentar praias de nudismo era tudo para ele.

Outro dia passei pela rua onde moraram. Lembrei-me de nosso encontro quando fui entregar a encomenda enviada pela minha avó. Veio-me a imagem daquele homem completamente nu sentado à minha frente. Já não me constrange.

Escrito por Ayrton Marcondes

8 janeiro, 2017 às 9:05 pm

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