2014 agosto at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para agosto, 2014

A dança dos números

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Depois da tragédia que retirou da corrida presidencial o pernambucano Eduardo Campos o mundo da política virou de cabeça para baixo. Marina Silva foi indicada como substituta de Campos e seus dois concorrentes mostram-se atônitos. Marina cresce em pesquisas e nas simulações aparece com grande possibilidade de vencer as eleições no segundo turno. Aécio Neves do PSDB passa por momento difícil agora que está em terceiro lugar nas pesquisas e distante de Marina Silva, a segunda colocada.

Ainda hoje nos ressentimos do triste destino de Eduardo Campos. Talvez para mim a morte dele se pareça mais incompreensível porque o avião no qual viajava caiu aqui perto do lugar onde trabalho. De tudo o que então se passou guardei o que disse o dentista chamado para ajudar na identificação dos restos mortais de Campos: era impossível reconhecer a arcada dentária tal como ficaram os corpos depois do acidente. Enfim, poucas horas antes o homem falava ao país em entrevista no Jornal Nacional, forte, lúcido e cheio de esperanças para, na manhã seguinte, ser transformado num corpo sob análise no IML.

Mas, a vida continua. É do homem o espírito guerreiro, a vontade de conquista, muitas vezes e infelizmente a ânsia de dominação. De modo que bem depressa a figura de Eduardo Campos vai sendo esquecida dado que mortos devem ficar onde estão, ou seja, no passado. E começa a corrida com a divulgação de pesquisas que deixam o eleitorado alarmado. Inicia-se a dança de números que ora favorecem, ora pioram, as projeções dos candidatos.

O que está na boca do povo é mais que a surpresa da ascensão de Marina Silva. Afinal, quem é mesmo essa Marina Silva e do que é realmente capaz? Até agora não se tem respostas concretas em relação ás dúvidas que cercam a personagem Marina Silva. Terá ela, caso venha a ser eleita, capacidade e experiência para vir a dirigir o país? Não se sabe.

As engrenagens políticas são complexas e sabe-se que só uma pessoa não consegue ter nas mãos todo o poder disponível. Entretanto, a história muitas vezes desmente a afirmação anterior. Há casos em que se elege alguém para a presidência mesmo não se pondo muita fé em sua pessoa. George W. Bush é um bom exemplo disso. Gozava-se muito o Bush na imprensa. Mas foi bem ele que decidiu atacar o Iraque buscando armas de destruição em massa que simplesmente não existiam. Cabe a ele responsabilidade sobre os desdobramentos políticos e sociais ainda sem soluções à vista no Oriente Médio.

Mas, que venha bem a Marina Silva que subitamente transforma-se numa esperança das mudanças de que o país tanto necessita. Mulher de força ela é, isso não se pode negar. Sair das condições em que saiu e chegar aonde chegou demonstra determinação e capacidade de liderança.

Em breve saberemos no que tudo isso vai dar. Enquanto isso resta-nos acompanhar a dança dos números publicados pelo IBOPE e pelo DATAFOLHA.

Nini Carabina

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Trabalhava na faxina e reclamava da coluna que doía sempre. Sergipana de raça, não se arrepiava do serviço, completava o turno com a missão cumprida. Dia após dia levava a vida da gente pobre que mora longe e pega três ônibus para chegar no serviço, outros três para voltar à casa.

Nem bonita, nem feia, baixinha, atarracada, Nini nascera portadora desse mistério que têm algumas mulheres, justamente o tal jeitinho pelo qual os homens se apaixonam. Mulher direita e honesta Nini teve o primeiro marido que veio a morrer. Seguiu-se o segundo, um sujeito apaixonado e algo ciumento que a tantas vinha procurá-la no serviço para ver como iam as coisas.

Esse segundo era um sujeito bem composto. Homem simples, trajava sempre um paletó de modo que parecia sempre bem arrumado. Depois se soube que na verdade não se casara com a Nini de vez que já era casado e vivia com mulher e filhos. Nunca se conheceu que a Nini se importasse em ser a “outra” de modo que a situação parecia a ela normal.

Então aconteceu do segundo vir a morrer subitamente. Outra vez sozinha não muito tempo depois Nini acertou-se com o terceiro, desta vez com casamento no papel. Ainda vive com esse terceiro e diz que não pretende enterrá-lo, agora será ela a ir primeiro.

Eu não via a Nini há alguns anos até que hoje ela apareceu para um abraço. Essa Nini que me quer bem pareceu-me não ter envelhecido, ela que está muito bem nos seus 63 anos. Contou-me que teve ao todo sete filhos, tem vários netos e até bisnetos. Orgulha-se que três dos filhos se diplomaram em faculdades e nenhum dos outros trabalha em serviços básicos. Deu muita sorte com o segundo marido que era homem de posses. Teve um filho dele e, com isso, parte na herança. Comprou um terreninho, construiu um sobradinho e mora lá com o atual marido. Recebe a aposentadoria e uma pensão gorda que o segundo deixou para ela.

Não reclama de nada. Ano passado visitou a família em Sergipe, viagem de avião porque hoje em dia não se usa mais o ônibus. Depois me abraçou e foi-se, talvez para nunca mais nos vermos.

Mulher inteligente a Nini. Imigrante sergipana chegou a São Paulo com uma mão na frente, outra atrás. Lutou muito e criou os filhos. Orgulha-se do que conseguiu às duras penas.

De Nini guardo a imagem de uma mulher vencedora, dessas que caso tivesse oportunidades teria ido bem mais longe. Mas, nasceu pobre e sua formação não passou do nível primário.

Ah, ia me esquecendo do “Carabina”. Ganhou o apelido pelo modo como segurava o esguicho durante a rotina de limpeza. Para ela o esguicho era uma arma, daí o “Nini Carabina”.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 agosto, 2014 às 12:15 pm

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Civilizações desaparecidas

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Estranho o olhar sobre civilizações desaparecidas. Não se trata impunemente o contato com ruinas de cidades antigas. A ausência de vida num lugar onde floresceu uma civilização evidencia o contraste entre a sensação de eternidade e a precariedade da existência. Você consegue imaginar que a cidade onde mora, a sua rua e sua própria casa possam ter-se transformado, daqui a mil anos, num monte de ruínas totalmente desabitadas? O mundo em que vivemos, a nossa civilização, tudo aquilo em que acreditamos, absolutamente tudo, para sempre acabado?

Há alguns anos estive em Chichén-Itzá, na península de Yucatan, México. Não pude evitar a profunda estranheza provocada pelo lugar em meu espírito. Naquela cidade antiga floresceu entre 250 e 900 anos d.C. uma civilização maia que desapareceu. Até hoje se discutem as razões da destruição dos maias que talvez tenha ocorrido em função de vários fatores, destacando-se a seca, doenças, invasões etc. Mas, os maias deixaram em Chichén-Itzá sinais de uma avançada civilização. Não pude evitar o espanto causado durante a visita ao centro de astronomia através do qual os maias observavam os céus. Eles tinham escrita e calendários elaborados com precisão. Construíram pirâmides e mesmo um estádio para esportes. Enfim, ali viveu um povo culturalmente avançado que simplesmente desapareceu.

A ideia de um mundo finito no qual deixaremos de existir, a possibilidade de que depois de um tempo uma civilização futura encontre sinais de nossa passada existência realmente incomoda. Quer dizer que toda essa loucura à qual nos entregamos diariamente na vida em sociedade, os valores que professamos e as nossas realizações podem desaparecer. Imagino povos do futuro excursionando em ruínas do mundo no qual vivemos tal como fazemos hoje em dia em Chichén-Itzá e outros lugares.

Agora arqueólogos acabam de divulgar a notícia de que encontraram duas cidades maias nas selvas do sudeste mexicano. Nas duas cidades os cientistas acharam prédios que podem ter sido palácios, pirâmides - uma delas com 20 metros de altura - e praças. Estima-se que o auge das cidades tenha ocorrido entre 600 e 1000 anos d.C.

Sempre penso sobre a existência pregressa de civilizações tão avançadas quanto a nossa, extintas a milhares de anos. Movimentos geológicos  e camadas sucessivas de terra poderiam ter soterrado ruinas de modo que nunca encontramos sinais da existência delas. Dirão que não existe a possibilidade de que tal tenha acontecido. Entretanto, considerando-se o tempo de existência do planeta contado em bilhões de anos sabe-se lá o que teria realmente acontecido a 4 bilhões de anos, por exemplo. Lendas como a da existência da Atlântida poderiam ser verdadeiras? Segundo Platão (428-347 a.C) a Atlântida foi destruída por um acidente natural 9000 anos antes do tempo em que ele viveu.

Há um programa de TV no qual se destaca o fato de que civilizações antigas poderiam ter sido ajudadas por extraterrestres que forneceram a elas recursos aos quais de modo algum teriam acesso. A demonstração de obras consideradas impossíveis de serem realizadas em épocas pregressas e outros sinais é tomada como prova da passagem de extraterrestres pelo nosso planeta.

Será?

Infidelidade partidária

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Daqui a mês e meio estaremos elegendo o presidente da República. Os arranjos partidários, tantas vezes mal costurados, encobrem divergências nada simples. Ideologias avessas elegem pontos em comum diante da necessidade de formar blocos com possibilidades de vitória nas urnas. Alhos e bugalhos misturam-se entre avalanches de abraços e largos sorrisos nesse tempo em que tudo se faz para amoldar-se às regras do jogo. Depois das eleições os nós feitos às pressas se revelarão insustentáveis. Governantes sob a pressão de bases aliadas heterogêneas farão o que puderem para sustentar a precária união. Nesse ponto falarão mais alto os favorecimentos, as liberações de verbas, o empreguismo que corrompe a estrutura governamental.

Quando as alianças se esgarçarem demais e a convivência de aliados de ocasião se mostrar impossível terá início a dança de partidos. Dissidentes mudarão de cores e o jogo da política ferverá com acusações e respostas nada convincentes.

Tem sido assim, infelizmente. Acostumamo-nos a isso. A fidelidade na política brasileira não passa de peça de retórica. Mas que dizer da fidelidade partidária e ideológica dos eleitores? Pois é. O fato é que o homem que vota e quer a melhora das condições de vida no país acaba se perdendo em meio à confusão que vem de cima. Como escolher entre os aliados de véspera que agora se digladiam não poupando esforços para trazer à luz deslizes que os opositores escodem a sete chaves?

O Brasil tem ministérios demais, partidos em demasia, tudo além da conta, tudo além das necessidades. Partidos políticos funcionam para muita gente como cabides nos quais penduram e investem seus interesses. Por isso, nós aqui do baixo clero comparecemos às urnas para votar sem a certeza da escolha certa, de que nossa atitude é de fato republicana.

Até o momento não sei em quem vou votar. Você já se decidiu? Confesso que votei no Mário Covas no primeiro turno e no Lula no segundo contra o Collor. Aí o Collor foi eleito e deu no que deu. Depois votei no Fernando Henrique. Paro por aí. Como se vê os votos que julguei conscientes na verdade formam um embaralhado. Poderia me desculpar dizendo que voto depende de motivações de momento, direcionado que é pela necessidade de escolha entre as opções que se apresentam. Mas, não há como negar que a dança dos políticos contribui para que nós, eleitores, sejamos infiéis, não importa se por necessidade.

Admiro na política dos EUA a existência de apenas dois partidos. Todo mundo sabe o que pensam e fazem os políticos de cada lado. Ao eleitor resta escolher o partido que corresponde aos seus anseios sobre o modo de administrar o país.

Ainda não consegui entender bem as diferenças entre as propostas dos três postulantes à presidência da República. Enquanto isso o país segue navegando em águas turvas.

Alô, alô marciano

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Lembra-se da música? Começava assim: “Alô, alô marcianos, aqui quem fala é da Terra, pra variar estamos em guerra, não imagina a loucura…” A voz era da Ellis Regina. Ouvíamos com o copo de cerveja na mão, dentro das madrugadas. Isso mesmo: dentro. Naquela época não fazíamos nada sem imersão total. A turma se conectava em encontros diretos, “face to face”. Não havia celular, nem internet, nem ficar em casa bebendo sozinho e falando com os amigos pelo Skype. Marcava-se o encontro - que logo virava um fuzuê - na casa de alguém da turma e bola pra frente até começarem aquelas discussões etílicas nas quais ninguém cedia nem um passo em posições por mais absurdas que fossem.

Nós nos amávamos tanto. Em que ponto nos perdemos? Aquele “não se perca de mim, não desapareça”, do Caetano, que cantávamos juntos não deu em nada? Onde aqueles ombros nos quais chorei tantas mágoas e me pareciam eternos? Onde os amigos inseparáveis, de tanta vida juntos, eles que davam cor ao mundo cinzento no qual errávamos?

A turma sumiu. Alguns se desossaram nessa ação impiedosa da morte que não perdoa, nem avisa. Uns poucos ainda não se permitiram morrer e, como eu, erram por aí dentro desse mundo a cada dia mais incompreensível. Mundo em que não se sabe quando um bando de visigodos enfurecidos de repente pode surgir do nada, atacando-nos. Mundo no qual bigas romanas correm despachadas nas ruas, levando na raça tudo que encontram pela frente, atropelando, matando. Mundo de céus povoados por pterodáctilos gigantes com asas de metal, voando por toda parte, vez ou outra alçando-se de campos asfaltados para não chegarem a lugar nenhum, despencando-se e condenando a um fim trágico seus passageiros.

Alô, alô marcianos. Aqui quem fala é um terráqueo, pedindo ajuda. Help. Vocês precisam atender a esse chamado com urgência. A confusão aqui é enorme, ninguém se entende. Não temos mais o Flash Gordon que combatia o terrível imperador Ming. O Superman se mandou da Terra e agora aposentou-se na Nova Kripton. Com nenhum super-herói de plantão os homens estão se matando. Não demora voltaremos à idade da pedra.

Alô, alô marcianos, a Terra está em perigo, apareçam.

Help.

Fora da lei

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Nesse mundo que a cada dia parece menor tem gente que simplesmente consegue desaparecer. São casos que se equiparam a roteiros de filme. O sujeito falsifica documentos, atravessa as fronteiras e desafia a capacidade das polícias internacionais. Como pode um cara procurado pela polícia de seu país e pela Interpol viver comodamente em algum lugar sem despertar suspeitas?

Talvez o ex-médico Rogério Abdelmassih possa responder, dar um curso ou mesmo publicar um livro sobre esse assunto. Condenado a quase trezentos anos de prisão o cara simplesmente sumiu. É bom que se diga, o ex-médico estave preso. Aí um ministro do STF entendeu que ele deveria ser solto. Passeava o condenado por aí quando recebeu a notícia de que deveria ser novamente preso. Então ele desapareceu. Sumiu! Nos últimos três anos o que se ouvia eram declarações sobre a impunidade no país, destacando-se o desaparecimento de Abdelmassi.

E ele nem aí com o peixe, como se dizia no passado. Até que há dois dias foi preso em Assunção. Ele estava lá, levando vida de gente rica. Morava num bairro chique, morava numa bela casa e tinha dois carros caros. Vida de nababo. Enquanto isso as 37 mulheres de quem ele abusou em seu consultório davam jeito nas feridas delas.

Foram essas mulheres que foram esperar o ex-médico no aeroporto. Elas fizeram um fuzuê, feridas no espírito, mas felizes porque o meliante finalmente vai pagar pelos crimes que cometeu.

O Abdelmassih que desembarcou em Congonhas tinha cara de um velho respeitável. Se você não o conhecesse ao vê-lo poderia jurar que tratava-se de gente boa. Mas, sob a pele de cordeiro e gestos comedidos habita um ser frio dominado pela sua tara. Aquele homem de cabelos brancos era o cara que abusava das mulheres em sua clínica quando elas estavam dopadas em razão da necessidade de algum procedimento médico. Muitas delas relatam ter acordado encontrando o ex-médico em cima delas.

Agora Abdelmassih está no presídio de Tremembé de onde espera-se nunca mais venha a sair. Mas, cumprir a pena ou mesmo vir a morrer não calará em nossos espíritos a indagação sobre o tipo de desvio que levou esse homem a práticas tão odiosas. Por que um dos médicos mais respeitados e bem sucedidos do país fez o que fez?

Na minha infância dizía-se que nesse mundo tem gente que nasce com o diabo no corpo. Vida afora essa gente praticaria o mal sob as ordens do Cão.  É muito possível que a crença no Cão não passe de uma inclinação para o mal apenas natural em algumas pessoas. Se for mesmo assim Abdelmassih terá sido e continua a ser um fiel representante dessa estirpconosco devotos do mal.

Mulher de boleiro

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O título acima me causa estranheza. Primeiro tem essa coisa de chamar jogador de futebol de boleiro. Devo estar muito desatualizado, mas desde quando o sinônimo ‘boleiro” passou a ser usado? Para mim “boleiro” sempre foi o cara que fazia bolos. Mas, tem, também, esse significado de jogador que faz graça com a bola diante do adversário.

Mas, quanto a “boleiro’ vá lá, tudo bem. Agora o que acho estranho mesmo são as referências a “mulher de boleiro’. Explico: a mulher do boleiro é assunto dele, interesse dele. Então, fica esquisito essa história de as mulheres de boleiros serem distinguidas pela beleza, corpo bonito etc.  A pergunta: “quais as mais belas mulheres de boleiros?” está na internet. Segue-se que você fica conhecendo as mulheres de craques de futebol, levando-se em conta a posição em que joga o marido. Lá está Shakira - mulher do zagueiro Pique -, Clarice Alves - mulher do lateral Marcelo -, Alex Curran - mulher do meio-campista Gerrad -, e por aí vai. Você pode admirar as mulheres dos boleiros, quem sabe sentir inveja deles ou até apaixonar-se por uma delas.

Não estou dizendo que isso seja errado, só afirmo que é estranho. Talvez porque eu seja de um tempo em que a mulher do outro é mulher do outro. Mais: com mulher do outro não se mexe, melhor dizendo: é bom não se meter. Então, nada de admirar a mulher do outro, se o fizer que seja secretamente.

Pois conheci um cara que não era boleiro, nem nada, um sujeito até mais pra feioso que casou-se com um mulherão. O Tal era até meio afetado porque perdera a mãe quando bebê e fora criado pela irmã. De modo que tinha ele lá os seus trejeitos, mas se querem saber, o bicho era bem macho. E quando se casou os amigos se espantaram com a mulher dele e, sabe como são os homens, ficava-se naquele ‘como é que pode um mulherão desses…?”.

Não havia se passado um ano e um admirador secreto que se achava o rei da cocada branca aventurou-se. O admirador era próximo do Tal e até arriscou-se a fazer comentário sobre a mulher dele, coisa que não foi bem recebida. Pra encurtar a conversa o admirador tentou cantar a mulher do Tal. Sabe no que foi parar essa história? Pois o Tal meteu uma bala no coração do admirador. Como se disse então, fez um “tec” nele.

De modo que o melhor é não gastar olhos na mulher dos outros, essa a regra. Mas, falando sobre esse caso das mulheres dos boleiros, um amigo me perguntou se eu por caso já vi algum desses maridos protestar por exibirem as esposas deles. Mais: no fundo aquela mulherada gostava de ver-se entre as belas.

Ouvi o que o meu amigo disse e só consegui comentar: talvez. Como eu ia dizendo, essa coisa toda é muito estranha. Verdade que o mundo mudou, hoje em dia parece que tudo vale. Mas, será mesmo que os boleiros gostam de ver as mulheres deles assim expostas aos olhares do mundo? Será que se trata do tal preço a pagar pela fama?

Sei lá.

A força do acaso

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A notícia do desaparecimento de Eduardo Campos ainda não foi digerida tal o impacto que vem causando. O caso do acidente aéreo acontecido ontem desafia a credulidade. É difícil aceitar que o político que horas antes fora visto no “Jornal Nacional”, sendo entrevistado e mostrando tanta vitalidade, de repente estivesse entre os escombros do avião que caiu em Santos. O abrupto desligamento do mundo, a morte implacável e as dúvidas sobre as razões do acidente impressionam e fazem-nos refletir sobre a precariedade da vida.

Confesso que Eduardo Campos precisou morrer tragicamente para eu prestasse a devida atenção nele. Até então ele figurava como um político do nordeste que aspirava governar o país. Mais um, portanto. Mais um membro da vasta galeria de políticos que tantas promessas fazem para depois esquecê-las. Seria isso.

Atribuo a responsabilidade pela forma de ver contida no parágrafo anterior à política que hoje se pratica no país. A classe política de tal modo tem se comprometido em deslizes inaceitáveis que a figura do político está em crise. A partir daí torna-se difícil separar o trigo do joio. Como acreditar que alguém esteja realmente interessado em melhorar o país, em colocar interesses públicos acima dos interesses pessoais?

É nesse ponto que o avião cai e Eduardo Campos morre. E só aí, só nesse momento, ficamos sabendo dos excelentes governos de Campos em Pernambuco, de sua coragem, de sua liderança e honestidade. Só aí se percebe que tínhamos à mão um candidato no qual apostar, uma força política jovem e vigorosa que talvez pudesse colocar alguma ordem na difícil situação pela qual passa o país.

A comoção gerada pela morte súbita de Eduardo Campos tem sua razão de ser. A morte do político nordestino faz-nos pensar. Sua ausência confere aspectos novos à disputa eleitoral porque mexe com a cabeça dos eleitores. Não se trata dos arranjos partidários que se seguirão, nem da indicação de quem deverá substituir Campos na corrida eleitoral. Trata-se do diálogo entre o eleitor e a urna, do peso da responsabilidade do voto.

A morte de Eduardo Campos golpeia fundo a indiferença pelo voto e o descrédito pelo novo presidente, seja lá ele quem for.

O dia da morte

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Há pouco caiu uma areronave sobre um prédio da cidade. De onde estou dá para ver uma nuvem de fumaça preta. O noticiário informa que a aeronave bateu na cobertura de um prédio e depois despencou sobre uma casa próxima, ao lado. Até agora sabe-se que há feridos e duas vítima fatais.

Impressionante a velocidade com que a notícia do acidente se espalha. A quebra da ordem e da monotonia da cidade interiorana faz medo. De repente começa a circular a notícia de que a aeronave é um Cessna no qual viajava o candidato a presidente Eduardo Campos, procedente do Rio e a caminho de São Paulo. Ainda não se sabe sobre a situação de Eduardo Campos.

Ouço um homem raciocinar sobre o estranho sorteio que premia um determinado lugar para que algo tão inesperado aconteça. Por que aquele lugar? Por que justamente aquelas pessoas estariam ali para serem envolvidas no acidente?

Nesse momento noticia-se que Eduardo Campos faleceu no acidente. Incrível que tenha sido ele e aqui tão perto. A morte do político mudará o cenário da disputa presidencial. Mas, que perda irreparável. Era um político jovem - 49 anos – e deixa mulher e cinco filhos. Não há como não sentir na própria pele a extensão de uma tragédia como essa.

Sempre me vem à cabeça a imagem da pessoa que acorda na manhã do dia em que vai morrer. Essa pessoa segue sua rotina matinal, toma o café da manhã e segue em frente. Não completará o dia porque a morte o espera a meio caminho.

Com Eduardo Campos a sorte foi madrasta. Não era o momento em que deveria morrer dado estar em campanha, percorrendo o país em busca de apoios e votos. Mas, se há algo que sabemos sobre a morte é que ela não respeita nada. Age quando e do jeito que quer. Ceifa vidas indiscriminadamente. Hoje, infelizmente, escolheu Eduardo Campos e as pessoas que o acompanhavam.

Fugindo da ribalta

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Morreu o ator Robin Williams, mundialmente conhecido por seus papéis em cinema, teatro e televisão. Dotado de grande poder interpretativo Williams tinha uma legião de fãs os quais atraia aos cinemas quando do lançamento de seus filmes. Excelente na comédia, forte no drama pode-se dizer que Williams pertenceu ao time dos grandes atores, não por acaso sendo premiado com o Oscar.

A imagem que temos de atores se traduz na conclusão de que suas personalidades são as mesmas com que nos acostumamos a vê-los nas telas. Se me perguntassem como seria Robin Williams na vida real eu, sem dúvida, responderia tratar-se de um sujeito de bem com a vida e muito alegre, afinal esse é o modo ao qual me acostumei a vê-lo em filmes. Como imaginar uma pessoa soturna ou mesmo problemática quando quem estava em pauta era Robin Williams?

Talvez por isso a notícia da morte do ator norte-americano, mais que provocando surpresa, causou espanto. Há fortes indícios de que ele tenha se suicidado. Além disso, fica-se sabendo que Williams lutava contra o alcoolismo e era extremamente deprimido. Somando-se a isso queixas de falta de dinheiro e as recentes atuações em filmes menos expressivos tem-se um quadro sugestivo das razões que teriam conduzido o ator ao gesto extremo.

O problema é que o suicídio não bate com a trajetória do ator Robin Williams. Esse último papel desempenhado por ele no mundo real, caso venha a ser confirmado, parece ser menos real que outros nos quais nos fez acreditar embora se tratassem de ficções.

Em acontecimentos como o da morte de Robin Williams sempre me lembro do precoce desaparecimento da grande cantora Elis Regina. Ela lotava teatros em seus shows, mas dela dizia-se que ao fim do espetáculo chegava a hora de ir para casa sozinha, enfrentado a solidão. Teria sido numa dessas noites que ela ingeriu grande quantidade de calmantes e faleceu. Mas, para mim que a vi de perto em memorável apresentação, para mim que tive a sorte de presenciar a força daquela belíssima voz, o capítulo final da vida de Elis mais parece um conto de fadas escrito com mau gosto.

Robin Williams contava que certa vez uma mulher tocou em seu braço num aeroporto, pedindo a ele que fizesse algo engraçado. É como se o ator tivesse que estar sempre ligado, interpretando. Obviamente, em sua vida particular Williams não se comportou o tempo todo como ator. De modo que seu surpreendente desaparecimento nos choca porque ocorrido em trágica circunstância e acompanhado de aspectos negativos que não esperávamos.

Robin Williams fugiu da ribalta, sem se despedir. Talvez o tenha feito de caso pensado e não por simples impulso. De todo modo enganou-se porque nós que o admirávamos tanto contávamos com ele. Há no homem comum um sentimento de posse em relação aos ícones de seu tempo, talvez venha daí a tristeza pela perda de Robin Williams.