2019 junho at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para junho, 2019

O “não” à vacinação

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Vacina faz mal à saúde. Há crianças que, após serem vacinadas, contraíram a doença. Existem inúmeros paralíticos em consequência de terem sido vacinados contra poliomielite. E por aí vai. Aliás, a terra é mesmo plana. E a chegada do homem a Lua foi uma ficção engendrada pelo cinema americano. Acrescente-se que o ataque às torres gêmeas, em New York, foi de fato realizado pelos próprios norte-americanos.

Muita gente acredita em coisas como essas. E não vacinam suas crianças. Fui criança nos anos 50 do século passado. Tive sarampo, caxumba e outras doenças então tão comuns na infância daqueles tempos. Depois vieram as vacinas. Fui vacinado contra varíola e nunca adquiri a doença. As crianças de minha família que nasceram mais tarde foram vacinadas e não tiveram as doenças infecciosas comuns na infância. Entretanto, na última campanha de vacinação contra gripe a adesão da população ficou abaixo do esperado

Agora certas doenças, como o sarampo, voltam à baila. Há casos de sarampo, inclusive em adultos. Um conhecido, adulto de cinquenta e poucos anos, teve caxumba. Em regiões do país a febre amarela apresenta-se com número significativo de casos.

Mas, afinal, o que está acontecendo? O problema se liga ao desconhecimento e à desinformação. Lembram-se de quando se dizia que não se deveria tomar Coca-Cola por que os americanos colocavam coisas nelas para nos tornarmos favoráveis a eles? Eram os tempos da Guerra-Fria. Pois muita gente acredita nos fakes que correm na internet contra a vacinação. Daí que os incrédulos não vacinam seus filhos, achando que com isso os protegem contra um mal ainda maior. Em consequência, as epidemias avançam.

O Ministério da Saúde informa que as vacinas usadas em crianças de menos de dois anos de idade têm tido queda desde 2011. Segundo o ministério há razões para isso, podendo ser citada que a eliminação de certas doenças no país contribua para a falsa ideia de que a vacinação tenha deixado de ser necessária. Também contribui a resistência da vacinação, embora não saiba o peso desse fator na queda verificada.

Assim, por exemplo, com o sarampo que não existia mais no país. Eis que a doença retorna devido à queda de vacinação contra essa doença. E que não se enganem: a criminosa divulgação de fakes contra a vacinação terá como resultado o recrudescimento de epidemias e vítimas fatais ocorrerão. É tempo de realização de campanhas de esclarecimento da população para que crianças cresçam sadias e não sejam afetadas por graves doenças que, em muitas casos, poderão roubar-lhes a vida.

Azar e sorte

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Há quem diga que azares sempre antecedem períodos de sorte. Existem pessoas que convivem com o azar durante toda a vida. São os tais azarados. Para esses nada parece dar certo. Tudo em que o azarado se mete acaba dando errado. Um conhecido comprou um ponto comercial no qual funcionava uma lanchonete de grande movimento. Não mudou uma só linha no negócio. Nenhum detalhe foi modificado. Três meses depois e sob a gerência do novo dono a lanchonete estava à mingua. Dirão que o conhecido não tinha tino comercial. Mas, se não foi a primeira vez… Fracassara em outras tentativas, nem sempre por culpa dele. Aliás, não foi ele quem começou com uma loja de roupas a qual, inexplicavelmente, foi destruída por incêndio? Perda total era com ele. Um bem-acabado espécime do tipo azarado.

Convivi com pessoa de minha família conhecido pela falta de sorte. Meteu-se em tantas coisas que não deram certo que seria inútil citá-las. Mas, para que se tenha ideia, certa ocasião peguei carona com ele numa viagem pela Via Dutra. Era um dia bonito, céu azul, impecável. Nenhuma nuvem. A certa altura um caminhão deslocou uma pedra do asfalto. Naturalmente a pedra veio a atingir o para-brisa do carro no qual viajávamos. Vidro estilhaçado, fomos obrigados a parar, retirando cacos de dentro do carro e os restos que haviam ficado presos no para-brisa. Ao retomarmos a viagem recebíamos na face o forte vento provocado pelo deslocamento do carro. Como reclamei o parente me contestou, dizendo: não reclame, afinal o céu está limpo e não está chovendo.

Mas, era ele, o azarado. Minutos depois eis que o céu, repentinamente, é coberto por nuvens negras. Não demorou a chover. Sem o vidro no para-brisas, recebíamos as gotas de chuva com a força de pequenas pedras que colidiam em nossas faces. Quem não tem sorte não tem. Pronto.

Mas, a sorte existe? Certa vez perguntaram isso ao pintor Pablo Picasso. A resposta de Picasso é conhecida: “toda vez que a sorte me procurou me encontrou trabalhando”. Mas, é inegável a ocorrência de períodos em que tudo dá certo para algumas pessoas. Uma coisa chama outra, como se diz. Há gente que parece nascer predestinada. Trazem do berço uma estrela cuja luz parece nunca se apagar. Sorte? Acaso? Não se sabe. Mas, acontece. Um rapaz que saiu de sua cidadezinha no interior veio a São Paulo para tentar a sorte. De formação primária era a ele difícil arranjar emprego. Foi salvo por um bilhete de loteria. Aliás não foi só essa vez que teve o bilhete de sua posse premiado. Também teve sorte ao aplicar o dinheiro. Uma gleba de terras que comprou por quase nada, no interior, foi revendida, anos depois, por uma fortuna. Quando morreu o sortudo tinha até apartamento até em Manhattan.

Azar e sorte talvez não existam. O melhor é dizer que acontecem bons e maus momentos. Atribuir a esses momentos a condição de azar ou sorte, nomear sortudos e azarados faz parte do cotidiano, embora não exista certeza absoluta sobre isso. Mas que tudo isso é muito esquisito, lá isso é.

Escrito por Ayrton Marcondes

28 junho, 2019 às 12:56 pm

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Imigração

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Toda sorte de problemas relacionados à precariedade das condições de vida leva milhares de pessoas a atravessar a fronteira entre EUA e México. A busca pela vida em um país rico no qual oportunidades de trabalho existem é o motor da aventura à qual se arriscam os imigrantes.

No mês de fevereiro deste ano 76 mil pessoas atravessam a fronteira. É esse número elevado de imigrações que leva o presidente americano a exigir a construção de um muro. Além disso, Trump ameaça o México com sanções econômicas caso o governo mexicano não haja no sentido de impedir a imigração. Para responder a essa exigência o México deslocou para a região fronteiriça 15 mil soldados.

A fronteira entre México e EUA tem mais de 3 mil km. Nos EUA os democratas se opõem à construção do muro. Mas, enquanto se discute o movimento de imigração ilegal prossegue. Daí que crianças acabam sendo separadas de seus pais e recolhidas ao que muitos consideram como verdadeiros campos de concentração.

Quanto a esse assunto as opiniões são divididas entre os americanos. Há quem destaque que sem imigrantes o país não conta com gente para a realização de serviços básicos. Outros chamam a atenção para o fato de que com os imigrantes há elevação de taxas a pagar. Duas irmãs têm opiniões opostas sobre a imigração: para uma a pergunta sobre quem vai lavar o carro dela prevalece. Para a outra será ela a pagar mais pela imigração desenfreada.

A travessia da fronteira é, entretanto, perigosa. Pessoas desaparecem, muitas delas vítimas de coiotes enganosos que cobram para levá-las ao outro lado e não o fazem. Outras são presas e devolvidas aos seus países após serem recolhidas a prisões nos EUA.

A imigração é um problema de difícil solução. O risco à vida dos que se aventuram nas travessias é alto. Hoje está publicada foto de um pai e sua filha, mortos dentro de um rio. A menina tem o braço em torno do pescoço do pai. O sonho americano custou a eles a própria vida.

Canudos de plástico

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De que a utilização de objetos de plástico deve ser coibida não restam dúvidas. O meio ambiente agradece a todas as medidas de proteção adotadas em relação a ele.

Nesta semana o prefeito de São Paulo proibiu o uso de canudos de plástico na cidade. Num programa de rádio os locutores ironizaram o destaque dado à medida governamental. Para eles houve excesso de publicidade num ato de nem tanta repercussão. Acrescentaram que, entretanto, problemas de maior monta permanecem esquecidos. Citaram a poluição dos rios que cortam a cidade, a precariedade do sistema de água e esgotos, a falta de medidas contra as frequentes enchentes nos períodos de chuva e assim por diante.

Segundo pesquisa realizada, em 2015, pela revista Science a humanidade gera 275 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano. Destes entre 5 e 12 milhões de toneladas chegam aos oceanos.

Nos oceanos são enormes os danos causados pelos plásticos. Para começar afetam dramaticamente a vida dos seres marinhos. Alguns tipos de plástico podem liberar substâncias cancerígenas. Também é fato que o lixo plástico pode aumentar a resistência de corais a doenças.

A utilização de canudos de plástico é muito grande no mundo. A suspensão de seu uso, embora não sejam eles o principal problema, tem o mérito de chamar a atenção das pessoas em relação à necessidade de proteção do ambiente, conscientizando-as.

Pode ser que a medida do prefeito não precisasse de tanto aparato, mas isso não impede que tenha sido muito útil na prevenção da poluição ambiental.

Transitoriedade

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Não há como não observar a imaginativa perenidade da vida que ocupa a mente dos homens. Os amanhãs são e serão sempre eternos. Não importa que, a cada dia, se recebam notícias sobre a morte de alguém. Morrem celebridades. Morrem conhecidos. Morrem familiares. Ninguém escapa. Mas, aos que ficam a vida continua a parecer eterna.

Passaram-se dez anos do desparecimento de Michael Jackson. Não importa que sua imagem continue viva na mente de milhares de fãs em todo o mundo. Michael era bom demais no que fazia. Excelente. Proprietário de características que o levaram ao topo e não sem razão. Impossível esquecê-lo cantando, dançando com aqueles passos que se eternizaram. Mas, como os demais humanos cero dia foi traído pela morte que o colheu sem aviso prévio.

Sobre Michael falava-se muito quando ainda era vivo. Fala-se ainda hoje. Para além de seu lado musical havia outro Michael com relações nunca bem explicadas com crianças. Havia, ainda, o Michael, ainda menino, fazendo parte do Jackson Five. Havia o homem que fez de tudo para branquear a pele. Existia o artista que se dopava com medicamentos contra dor. Aliás, sua morte foi explicada pelo uso abusivo de comprimidos de combate à dor.

Mas, hoje celebram-se os dez anos da inesperada morte de Michael Jackson. O desaparecimento do cantor leva-nos a refletir sobre a transitoriedade de tudo. Tudo passa. Tudo se converte em passado. Os problemas que enfrentamos hoje fazem-nos olvidar aqueles que tivemos em outras épocas. Hoje, no Brasil, discutem-se caminhos para o país, tendências do novo governo, necessidades de reformas, crise econômica, desemprego e outros que tais. Quem estiver vivo daqui a alguns anos se lembrará desse período tão difícil e que terá passado. Assim como nos lembramos dos governos militares, da redemocratização, da inflação galopante, do sequestro do dinheiro, do Plano Real e assim por diante. Muitos atores de fatos históricos dos quais nos lembramos passaram. Assim como passarão os atuais protagonistas dos fatos que hoje presenciamos.

A transitoriedade da vida incomoda. Os acontecimentos passados se acumulam como escombros em nossas memórias. Mas, como se disse, tudo passa. Até eu. Até você. Por mais que tenhamos o hábito de nos pensarmos eternos.

Acidentes

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Tememos acidentes. Quando ocorrem suas consequências podem ser terríveis. Thomas de Quincey escreveu e publicou o livro “Do assassinato como uma das belas artes” (On murder considered as one of the Fine Arts). Quincey recomenda apreciação estética dos assassinatos numa palestra a um clube de cavalheiros. Se um incêndio acontece, por exemplo, fato consumado, que se observe dele o lado belo. A sátira de Quincey foi bem recebida em seu tempo - a obra foi publicada em 1827. Até hoje recebe a atenção dos leitores.

Mas, a realidade não é assim. Grandes acidentes nos levam a ponderar sobre o sentido da vida. A morte simultânea de muitas pessoas é inquietante. Que fator teria reunido mais de 200 pessoas num mesmo voo do qual não restou um único sobrevivente? Que dizer de aviões que desapareceram sem deixar vestígios? Para onde foram as 239 pessoas que viajavam pela Malasya Airlaines num voo sobre cujo final até hoje restam dúvidas?

Que estranha coincidência reúne diferentes veículos num acidente de trânsito? Por que estariam justamente naquele lugar, naquele instante, aquelas pessoas cujas vidas seriam roubadas num acidente envolvendo vários veículos?

Perguntas sem resposta que desafiam a nossa compreensão. Elas retornam nesta manhã quando recebemos a notícia de grave acidente, ocorrido na noite de ontem, na estrada que liga o Vale do Paraíba a Campos do Jordão. Na pista de descida da serra, pouco além do trevo para Santo Antônio do pinhal, um ônibus turístico desgovernou-se. Seguiram-se colisões com cinco veículos e uma moto. Após o que o ônibus despencou ribanceira abaixo. O saldo foram 10 mortos e muito feridos.

Naquela estrada, naquele lugar, naquele instante. Pessoas do litoral que passaram o dia divertindo-se em Campos naquele trecho encontraram a morte. A reação dos familiares é de estupefação. A nossa de alerta num momento em que se discute abrandamento das leis de trânsito. O assunto não mereceria nem menção dado estar ligado a segurança das pessoas que circulam em nossas estradas. Mas, que fazer se vivemos novos tempos nos quais propostas estranhas aparecem a toda hora, desafiando nossa capacidade de entendimento?

Amigos

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São passados quase 50 anos, ainda assim reconheço de pronto a voz ao telefone. É ele o grande e velho amigo Júlio que me liga assim, de repente, sem nenhuma cerimônia. E vai logo me dizendo as bobagens que nos falávamos ao tempo de companheiros na faculdade. É bem como se tivéssemos nos encontrado ainda ontem num bar desses aí, tomando juntos a indispensável cerveja.

Nem pergunto como o Júlio terá conseguido o meu telefone. Com alguém em comum, certamente. Mas, como se também dos outros me afastei, afinal a vida propõe rotas fazendo-nos pensar que as escolhas são nossas. Ficam para trás os amigos, pessoas a quem amamos ou até odiamos no passado. Até que um dia o telefone toca e o passado entra em casa com toda força e impertinência, cobrador de conjunturas esquecidas que são revividas num único segundo.

O Júlio pergunta sobre o quê, afinal, tenho feito nos últimos 50 anos. A resposta exigiria a confecção de um tratado no qual erros se sobressairiam aos fugazes acertos. Como dizer a ele, que surgiu assim do nada, que… Se estou bem, sou casado, tenho filhos, netos, bem ou mal de vida? A quantas vai a minha saúde? Fumo?

Tento responder à inquisição, passando por alto em aspectos dos quais nem sempre me lembro bem. Não preciso perguntar, mas o Júlio me informa sobre sua vida e atividades nas quais ainda se empenha muito. Faz parte dele o senso de ajuntamento de pessoas em torno de alguma missão seja ela qual for.

Depois que desligo jogo-me na poltrona, fecho os olhos e me entrego a refazer o mundo desfeito de meus tempos de faculdade. Voltam-me imagens dos colegas de turma, todos ainda jovens, figuras com o aspecto que tinham na última vez que os vi. Imagino o aspecto que teriam agora, envelhecidos. Sobrepor a imagem atual àquela dos verdes anos não será tarefa fácil caso os reencontre. Aliás, será que seria capaz de reconhecer os antigos companheiros agora que o tempo passou tão densamente e minha memória deles teima em apagar-se?

O que o Júlio quer é reunir a turma. Nas palavras dele: os sobreviventes. Ele explica que, embora eu não saiba, muitos dos nossos já se mandaram desta vida. Sobramos nós, uns tantos, resistentes. Então devemos nos encontrar enquanto ainda há tempo. A cada ano novas baixas acontecem e chegará o dia em que do nosso exército não restará nenhum soldado.

O Júlio disse tudo isso e outras coisas das quais já me esqueço. Ligará depois para dizer a ocasião do encontro ao qual, segundo ele, tenho obrigação e comparecer. No fim perguntei a ele se de fato conseguirá a adesão dos antigos companheiros. Ele respondeu que sim, nem que tenha que ir buscar um a um sem suas casas.

Pensei em dizer ao Júlio que na verdade eu não constava da lista de sobreviventes. Inútil. Como se vê estou irremediavelmente engajado.

Mortos que falam

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O assunto é a previsão de que daqui há cem anos será enorme o número de mortos que continuarão vivos no Facebook. Já acontece. Pessoas morrem, mas parentes e amigos continuam a alimentar o Facebook delas como se ainda estivessem vivas. Mensagens, fotos, vídeos, a vida segue adiante por via digital.

Manter a vida além de seus limites é sonho acalentado por muita gente. As poucas décadas de vida passam depressa. Quando menos se espera eis que estamos envelhecidos. Velhos mesmo. A poderosa máquina humana sucumbe, progressivamente, à passagem do tempo. Muitos demoram a dar-se por achados. Fazem de tudo para preservar a face de uma juventude que se foi. Mas, o tempo não pára. O desgaste também não. Até que chega o tal dia, imprevisível, no qual a sorte terá sido lançada.

Ainda assim nos aferramos à vida. Como se ela não fosse passageira. Trazemos no peito curiosa sensação de eternidade. Aceitar que não somos eternos pode ser fácil. Mas dificilmente praticável. É preciso saber que existe amanhã para se viver bem o hoje.

As gerações se sucedem. Enquanto ativas seus partícipes agem segundo a lógica do dia-a-dia. Acertos, erros, paixões, desenganos, ódios, crenças, tudo fundido no modo de ser de cada um. Então, nos parece que estaremos, sempre, imersos na circunstância que nos afeta. O fim de tudo é certo, mas para que considerá-lo se há uma vida a trilhar e somos tão fortes?

Lembro-me da casa de minha avó. Da sala grande passava-se à copa na qual uma grande mesa servia como ponto de encontro para o almoço. Ali se reunia a família. Nas noites, em torno da mesa apinhavam-se pessoas no tradicional jogo de vísporas. Alguém cantava os números, os jogadores marcavam os acertos nas suas cartelas com grãos de milho. A cada rodada uma voz se erguia: bati. Era o ganhador. Logo iniciava-se outra rodada.

Todas aquelas pessoas estão mortas. Nenhuma delas sobreviveu. Suas faces podem estar vivas na minha memória e, talvez, na de algumas poucas pessoas, meninos naquela época. A própria casa de minha avó deixou de existir. No lugar dela hoje ergue-se um prédio de apartamentos nos quais vivem famílias que nada sabem sobre o passado do lugar. A vida é assim. Haverá o dia em que mesmo estes novos inquilinos terão desaparecido, substituídos por outros e assim por diante.

Os que se sentavam à mesa da casa de minha avó não sobreviveram digitalmente. Não havia facebook, nem internet. Entretanto, desconfio que caso fossem consultados sobre a possibilidade desse tipo de sobrevivência futura teriam passado ao largo.