2015 maio at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para maio, 2015

Voltagens humanas

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Conhecidos filósofo diverte-se ao responder a um repórter sobre a necessidade de certos humanos cada vez mais entesourarem dinheiro. Perguntava o repórter sobre o que faz alguém que já roubou milhões seguir roubando. Se o sujeito já conseguiu muito mais do que seria capaz de gastar durante sua vida inteira por que roubar mais?

As causas desse apetite insaciável serão muitas. Para o filósofo trata-se de uma fome invencível. Cita ele pessoas que enriqueceram e continuam a trabalhar cada vez mais, embora não seja preciso. Quanto aos roubos lembra de que roubar envolve compulsões difíceis e até impossíveis de controlar. Acrescenta que se o homem vivesse sem leis, sem barreiras, acabaria se entregando às facilidades e ao crime.

Assunto controverso. Entretanto, a pergunta do repórter é pertinente. Caramba, pra que roubar tanto? Hoje mesmo foram presos na Europa seis membros da FIFA envolvidos em desvios milinários. Um brasileiro proprietário de empresas ligadas ao esporte concordou em devolver U$ 151 milhões - isso mesmo, cento e cinqüenta e um milhões de dólares, ou seja, pouco mais de R$ 475 milhões - mais delação premiada em troca de não ser preso. Entre os homens da FIFA presos hoje está o ex-presidente da CBF.

A notícia nada mais é que seguimento de uma avalanche de informes sobre roubos de enormes quantias. Propinas, desvios etc fazem parte do cotidiano. A incrível roubalheira da Petrobrás mais  parece um saco sem fundo ao qual todo dia se acrescentam mais e mais milhões.

Interessados politicamente têm comparado as atitudes dos grandes ladrões da República a pequenos atos a que estamos expostos. Quando você diminui a velocidade de seu carro no radar depois de trafegar acima do permitido estaria cometendo uma infração do mesmo porte dessa turma de ladrões. O que interessaria é o ato de cometer a infração, não importando a dimensão dela. O homem faminto que rouba um litro de leite para o filho seria tão criminoso quanto o que desvia milhões. Ou seja, para todo mundo o que falta é a oportunidade. Se você pudesse por a mão nuns milhõeszinhos sem que ninguém percebesse, não faria isso?

É possível que arrazoados assim possam convencer muita gente. A distinção entre o certo e o errado cada vez mais se embaralha na cabeça das pessoas. Mas, não custa lembrar de que nem todo mundo é bandido. Aliás, proporcionalmente o número de bandidos é diminuto.

Cada ser humano tem a sua voltagem.

Pegando no sono

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Li sobre pesquisa a respeito das horas de sono nos dias atuais. Dorme-se menos que o necessário. Vida atribulada, correria, compromissos etc. Vários fatores interferem no necessário descanso, contribuindo para stress, nervosismo e efeitos indesejáveis à saúde.

Impressionou-me a informação de que muita gente custa a pegar no sono devido a alguns fatores insuspeitos. Relata-se que o hábito de olhar para o vídeo de computadores, tablets, etc, acaba gerando na retina uma espécie de claridade que custa a desaparecer. A pessoa que já na cama ainda utiliza esses equipamentos está fadada a demorar mais para conciliar o sono depois de apagar a luz.

O problema para adormecer muitas vezes está ligado ao que nos vem à cabeça no momento em que a colocamos no travesseiro.  Coisas corriqueiras, assuntos pendentes e mil outras preocupações povoam a mente de modo que corre-se o risco de passar muito tempo nessa situação até o momento em que o cérebro realmente desligue. Isso sem falar na dificuldade de tornar a dormir quando sucede acordar-se durante a madrugada. Nessas ocasiões é preciso muita concentração para isolar pensamentos e voltar a dormir.

De tempos para cá tenho usado técnica que muito tem-me ajudado a conciliar o sono. Não sei se você já leu o alentado romance “Graça Infinita” do americano David Foster Wallace. São cerca de 1000 páginas realmente inebriantes. A trama se desenvolve em torno da família Incandeza cujo patriarca - James Incandeza - cometeu suicídio depois de fazer um filme que devido ao excessivo entretenimento, levava os espectadores à morte. Dos três filhos de James o mais velho, Orin, é ídolo do futebol, o segundo, Mário, um rapaz que possui deformidades físicas e algumas mentais e o terceiro, Hal, um jovem estudante e tenista de talento.

Em “Graça Infinita” Hal dorme no mesmo quarto que Mario e usa de um artifício para fazer com que o irmão pegue no sono. Ele diz ao irmão: pense leve.

Pois é: “pensar leve”. Eis aí algo que se atinge com um pouco de disciplina. Na hora de dormir o jeito é afastar da mente coisas que fatalmente retardarão o sono. Pensar em coisas leves, boas, saborosas, agradáveis, indutoras do sono. Há quem rotule isso como impossível. Será? Se você com dificuldade para pegar no sono experimente: “pense leve”. Não faz nenhum mal e não custa tentar.

Fugindo de Mianmar

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Não é o caso de se discutir sobre o que é felicidade porque encheríamos páginas e páginas de considerações, sempre apelando para o que se disse sobre o assunto ao longo dos tempos. Pode-se pelo menos afirmar que o conceito de felicidade depende da época em que é considerado. Hoje em dia ser feliz parece depender de fatores como sentir-se seguro, saudável, ter família e acesso a certos bens de consumo e oportunidades. Embora reducionista esse modo de ver serve como parâmetro para abordagem simplificada da questão da felicidade.

Pensei sobre felicidade quando vi, dias atrás, foto de imigrantes de Mianmar no porão de um navio. Eram eles fugitivos de seu país em busca de vida melhor onde quer que fosse. Acotovelavam-se algumas centenas de homens, quase todos sem camisa, observados pelo pessoal de bordo. Palavras talvez não sejam suficientes para descrever o horror da situação na qual seres humanos recolhidos de barcos à deriva em pleno oceano esperavam por algum tipo de solução, decerto milagrosa, para o caso em questão.

O olhar de desespero e apelo daqueles homens nos leva a perguntar de que tipo de inferno estariam fugindo. Pessoas que fogem sem destino determinado, arriscando a própria vida e sem nenhuma previsão do que lhes poderá acontecer, certamente deixam para trás horror maior que o risco a que se submetem.

Os imigrantes que fogem de Mianmar são da etnia rohingya e praticam o islamismo. Há décadas sofrem com sansões discriminatórias em Mianmar por serem considerados imigrantes vindos de Bangladesh. À deriva no mar, sem alimentos e água, lutando entre si pela sobrevivência, doentes, aos fugitivos a palavra felicidade carece de qualquer sentido.

Há que rejubilar-se o homem que vive em nossos trópicos e pode saborear seu bom café da manhã enquanto corre os olhos no jornal do dia. Ao dar com a foto dos rohingya certamente sofrerá um sobressalto, mas passará à notícia seguinte, fugindo a uma realidade que o constrange. A seu modo esse homem entenderá que é feliz, favorecido pela incrível distância que o separa da tragédia dos fugitivos de Mianmar.

Eletrônicos

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A primeira vez que vi imagens numa TV colorida foi na antiga estação rodoviária de São Paulo. Dali partiam os ônibus para o interior e outros estados de modo que o movimento nas plataformas era grande. Em torno das TVs coloridas aglomeravam-se enormes grupos de pessoas, extasiadas com o que viam. Lembro-me de que pouco depois entrei num ônibus e ao chegar à casa dos meus pais, no interior, a primeira coisa que contei foi a de ter visto uma TV colorida.

A primeira TV a cores que comprei foi uma Sanyo de 14 polegadas. Era o máximo. Na época um amigo endinheirado me contou que, na casa dele, o pai comprara uma TV de 24 polegadas: um estouro.

Essa molecada que anda por aí usa a tecnologia impunemente. Semana passada, no metrô de São Paulo, reparei que quase todo mundo tinha os olhos presos nas telinhas dos celulares. Dias atrás um rapaz esteve em minha casa com a namorada e ela não disse palavra ocupada que esteve com o celular.

Confesso que gosto muito de eletrônicos, mas há que se dar um tempo nessa dedicação exclusiva. Celulares viciam. Em restaurantes você pode encontrar pessoas em volta de uma mesa, todas elas com seus celulares em ação. A boa e velha conversa está mesmo em baixa. Até atividades sexuais são interrompidas para receber mensagens que não param de chegar.

Hoje em dia dispomos de TVs LCD de 40 ou 50 polegadas em nossas casas. A TV por assinatura coloca à disposição de seus assinantes grandes quantidades de canais de modo que se pode passar do celular ao vídeo da sala em segundos.

Mas, afinal, pra que dizer tudo isso que é mais que sabido, acontece em todo lugar e a toda hora? Ah, é que as pessoas entretêm-se com recursos tecnológicos, possuem eletrônicos poderosos e deixam de lado uma boa leitura. Você já leu Cervantes? Pois é, caro amigo, se não leu, não se deixe morrer sem ler. D. Quixote de la Mancha é mesmo o cara. Você vai se divertir a valer. Mas, mesmo se o livro foi publicado em 1605? Pois é, experimente.

Os eletrônicos fazem parte da nossa vida e já não podemos viver sem eles. É bom lembrar de que não substituem coisas maravilhosas que podemos fazer sem eles tais como uma boa leitura. A moçada que anda por aí precisa saber disso.

Getúlio

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Assisti pelo “Now” ao filme “Getúlio” do diretor João jardim. Não havia no enredo nenhum fato que não fosse do meu conhecimento. Na verdade antes de ver a fita me perguntava como teria se saído o diretor ao abordar período tão marcante da história brasileira.

Acompanhei as nuances do drama de Getúlio sempre intrigado. Sabia quais seriam os próximos passos e o desfecho com a multidão acompanhando o caixão com os restos mortais do líder desaparecido. Ainda assim, me senti preso à evolução da tragédia anunciada.

Tony Ramos no papel de Getúlio é o filme. No rosto do ator, no modo como observa o desmoronamento do mundo à sua volta reside todo o fascínio que a personagem nos desperta. Interessante acompanhar a profunda solidão do homem mais poderoso do país, recluso às paredes do Catete, dialogando consigo mesmo, surpreso diante da corrupção que se escancara nos porões de seu governo. Gregório Fortunato trai Getúlio de forma inaceitável e o presidente assume integralmente a responsabilidade sobre o que acontece. Lacerda, “o Corvo”, demagógico, brilhante e enlouquecido, acende todos os estopins que resultarão na explosão. Mas, Getúlio, como bem o disse mais tarde Tancredo Neves, prorroga com seu suicídio por mais dez anos o golpe ansiado pela classe militar.

Mas, como terão sido aqueles últimos dias de Getúlio no poder? O revolucionário de 30, o ex-ditador, o presidente eleito pelo voto popular, o defensor dos trabalhadores, o homem que aprovou o controle do petróleo pela Petrobrás, o grande articulador político, como realmente teria ele vivido seus derradeiros instantes?

A morte do Major Vaz no infausto atentado da Rua Toneleiros deu início ao precipício de Getúlio. O filme gravita em torno da pergunta que Getúlio faz a todo instante: quem foi o mandante? É ao descobrir que a ordem para o atentado partiu de seus próprios subordinados que Getúlio finalmente sucumbe. Mas, não se entrega. “Eu vos dei a minha vida, agora vos dou a minha morte”.

Um tiro no peito. Getúlio saída vida e entre para a história. O filme faz jus à grandeza do momento.

Velhice

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Tema recorrente, todo mudo fala, mas dos outros.  A “minha” é sempre intocável. Por que? Ora porque não me acho velho. Tá bom, não tão velho assim. Será que aquela mocinha bonita na sala de espera do dentista reparou em mim?

Posso estar errado, mas acho que a velhice dos atores é mais difícil. Não estou na pele deles, não os conheço, mas deve ser meio complicado um cara que já foi muito bonito ver-se agora no espelho, acabadão,  observando sinais de antiga beleza serem progressivamente apagados.

O tempo passa e a turma do oba-oba não perdoa. Você vê na internet aquela coisa de mau gosto que é colocarem duas fotos da mesma pessoa, uma quando jovem a outra na velhice. A atriz de corpo escultural, a gostosa que fez a alegria da moçada no passado, transformou-se no que se transformou. Perdeu o viço, engordou, envelheceu, é a vida. E daí? A quem importa? Todos nós chegaremos lá um dia, repita-se: é a vida.

Que dizer dos atores envelhecidos que vão sendo esquecidos, desaparecem misteriosamente das telinhas e, vez ou outra, vêm a público reclamar do abandono? O cara trabalha durante 30 anos numa organização televisiva e, de repente, vence o contrato que não é renovado. Por que? Ninguém diz claramente, mas todo mundo sabe, inclusive ele.

Quem está para sair da raia é o David Letterman, seguidor do ídolo Johnny Carlson. O Letterman faz por mais de 30 anos o Late Show no qual conta piadas e entrevista personalidades de várias áreas. Ele é o tal, mas agora vai se aposentar. Diz-se cansado e reconhece que já não pode fazer o que fazem seus competidores, gente mais nova.  A certa altura declara que a TV exige faces mais novas e por aí vai.

O diabo é saber quando parar. E existe o agravante de “poder” parar. Acontece em toda parte a tristeza da dificuldade de sobrevivência quando a velhice chega. Lembram-se das irmãs Linda e Dirce Batista, cantoras e rainhas do rádio?  Mais recentemente a Norma Benguel[A1] ?

Pois é, né?

Escrito por Ayrton Marcondes

18 maio, 2015 às 3:23 pm

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In-justiça

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Na delegacia o preso passa mal. Em pouco os policiais percebem que o preso na verdade tem fome. Passa mal porque não come há três dias.

A história do preso é simples.  Eletricista de profissão, largou o emprego para cuidar da mulher acidentada. Um ano depois a mulher mora com a família e o preso com o filho pequeno. Desde então não conseguiu empregar-se. Vivem, ele o filho, em extrema penúria - é o que o preso conta aos policiais.

O preso está na delegacia porque tentou roubar carne de um supermercado. A situação dele comove os policiais que fazem vaquinha para pagar a fiança. Depois levam-no para casa onde constatam a falta de tudo: na geladeira só uma garrafa com água; inexistem artigos para higiene pessoal tais como sabonete, pasta de dente, escova…

Os policiais fazem a segunda vaquinha e levam o preso ao supermercado para que ele faça compras. O preso, agora livre, não acredita no milagre. O caso chega à mídia e comove o país.

Para a Justiça o eletricista cometeu crime cuja pena prevista é a de 1 a 4 anos de prisão. Para os homens trata-se de um pobre coitado levado ao crime pelo desespero. A fome geriu os seus atos.

Não há como ficar indiferente a um caso desses. Sabemos que a fome persiste no país e muita gente não tem acesso aos mínimos recursos. O discurso sobre a necessidade de igualdade social não passa de um discurso.

O eletricista que roubou carne trouxe-me de volta um rapazinho que trabalhava na mesma empresa que eu. Naquela época eu ganhara algum peso e precisava me cuidar. Daí que no momento do lanche comecei a tirar o miolo do pão para ficar só com a casca. Quando viu isso o rapazinho me olhou apreensivo e disse:

- Não faz isso não, senhor, não jogue pão no lixo.

Era ele o mais velho da irmandade de seis. Gente pobre, paupérrima como vim a saber depois. Passavam fome. Inaceitável para ele um naco de comida jogado no lixo.

Nunca me esqueci do rapazinho a quem nunca mais vi.

Futebol: crise de talentos?

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Apaixonados pelo futebol, pergunto: afinal, o que está acontecendo? Teria sido nada mais que resultado natural a humilhante derrota do escrete brasileiro arrasado naquele inesquecível 7 X 1 diante da Alemanha?

Quem viu o jogo entre o Barcelona e o Bayern constatou que em cada posição, isso nos dois times, atuava um craque. Tudo bem que o mortal ataque do Barcelona seja formado por um uruguaio, um argentino e um brasileiro. Tudo bem que os times que se enfrentavam fossem verdadeiras seleções com alguns craques importados. Mas… Que futebol! Jogo jogado, como diria o falecido Oswaldo Brandão. Jogo para encher os olhos, embate entre profissionais da mais alta estirpe.

Enquanto isso, em terras brasílicas, seguem campeonatos sem nenhuma expressão. Nosso adversários no exterior já nos olham como coisa do passado. Dizem que a Alemanha parou de fazer gols porque seus jogadores se penalizaram diante da glória perdida do futebol brasileiro.

Há poucos anos o Santos enfrentou o Barcelona na disputa pelo Mundial de Clubes e foi humilhado. Nem mesmo os nossos vizinhos sobre os quais tínhamos preponderância já não nos respeitam. Times do Paraguai, da Venezuela e outros países de menor relevância no cenário esportivo mundial jogam contra os nossos clubes de igual para igual, isso quando não vencem.

Não sou corintiano, mas deu pena ver o glorioso Corinthians sucumbir diante do inexpressivo Guarani do Paraguai. Mas não seria para os nacionais esbanjarem categoria e aniquilarem seus adversários?

Apaixonados pelo futebol, dolorosamente confesso meu temor de que nessas terras brasílicas já não se produzam craques como no passado. Apontam por aí falhas como desorganização, falta dinheiro, clubes endividados senão falidos etc. O futebol precisaria de reformulação, estatutos novo, comando etc. Mas, cá entre nós, e os craques? O último jogador de exceção que realmente merece ser considerado assim é o Neymar. Cadê os Garrinchas, os Zitos, os Gersons, os Rivelinos etc.  Isso sem falar no Pelé porque igual a esse nunca mais.

Não se trata de saudosismo. É possível que muitos meninos que seriam futuros craques estejam perdidos por aí. Se for assim é hora de observar, promover, ajudar, selecionar.

O futebol é a paixão nacional pela qual sofremos muito. Nascemos com alma de torcedores e só mortos - talvez - nos livraremos dessa sina. Portanto, mãos à obra, é preciso ir às raízes do problema sob pena de estarmos fadados ao fracasso.

O mundo muda

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Nos dias atuais quase nada nos impressiona. Habituados à avalanche de notícias que nos persegue, recebemos com alguma naturalidade mesmo informações sobre catástrofes. Hoje, por exemplo, noticia-se a ocorrência de novo terremoto no Nepal. Terremoto forte, acima de 7 graus na escala Richter. Consta que até agora quase 50 pessoas morreram em consequência do terremoto. O fato é que passamos meio ao largo dessa desgraça. O Nepal é longe, do outro lado do mundo, já que nada podemos fazer… Claro que dói, não se passa impassivelmente pelo sofrimento de um povo à mercê de movimentos subterrâneos que roubam vidas e destroem tudo.

Mas, nem só abalos sísmicos mudam o mundo. Eis aí que o governo dos EUA acaba cedendo às pressões em relação à pesquisa de petróleo no Ártico. A Shell é autorizada a perfurar o gelo. Os ambientalistas se revoltam, há o risco de derramamento de óleo no oceano. Daqui a pouco a paisagem ártica sofrerá mudanças inevitáveis. Mundo mudando.

Abalos sísmicos, vulcões em atividade, destruição permanente do ambiente. Convivemos com isso tudo, mais preocupados com problemas pessoais, afinal de contas vive-se tempo de murici, aquele em que cada um cuida de si.

Entretanto, nessa história de mundo mudando há acontecimentos que ferem a nossa confiança no planeta. O terremoto no Nepal é um deles, embora terremotos vez ou outra aconteçam e o mundo siga em frente. O pior é quando algo interfere na consistência de ícones considerados inabaláveis, nos quais depositamos inteira confiança. Convenhamos que o Himalaia é ícone do mundo, grandioso, irremovível, forte. No dia em que o Himalaia mudar…

Pois aconteceu de o Himalaia encolher. Consequência ao terremoto do Nepal foi a redução de 1 metro de altura do Himalaia. Pasmem: a maior cordilheira do mundo na qual fica o Everest, mais alto pico do mundo, encolheu. O indestrutível Himalaia, o indestrutível Everest que desde pequenos aprendemos com orgulho ser o mais alto ponto da Terra.

Pois é, o mundo muda. Amigos, não há como não temer pela nossa segurança quando a portentosa cordilheira do Himalaia sucumbe à violência de um terremoto. O fato faz-nos pensar na Pangeia, o grande continente da era Paleozoica, que existiu de 200 a 540 milhões de anos atrás e fragmentou-se dando origem aos atuais continentes.

O mundo muda. A Terra onde vivemos muda.

Menino na mala

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E lá vai a moça de 19 anos, caminhando lentamente, puxando a mala de rodinhas. Que dia é esse? Ora, não importa. O que vale é seguir, melhor dizendo: atravessar.

Mas, entre a moça de 19 anos e o outro lado, há um homem e seu scanner. Ao se aproximar dele a moça retarda ainda mais o passo. Quer parecer natural, passar e pronto.

O problema é o scanner, dispositivo que devassa interiores, intrometendo-se em espaços de bem guardados segredos.

A mala devassada pelo scanner mostra na tela imagem estranha que simula um corpo. A mala é aberta e do meio das roupas surge um menino de 8 anos que, ao ver a luz, exclama:

- Eu sou o Abu.

Abu vinha do Marrocos e tentava entrar na Espanha pela cidade de Ceuta. Não cumpriu seu caminho. A moça colocou-se à dispoição da justiça. O pai de Abu foi preso.

Não se divulgaram informações sobre o desespero dos envolvidos.