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Fugindo de Mianmar

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Não é o caso de se discutir sobre o que é felicidade porque encheríamos páginas e páginas de considerações, sempre apelando para o que se disse sobre o assunto ao longo dos tempos. Pode-se pelo menos afirmar que o conceito de felicidade depende da época em que é considerado. Hoje em dia ser feliz parece depender de fatores como sentir-se seguro, saudável, ter família e acesso a certos bens de consumo e oportunidades. Embora reducionista esse modo de ver serve como parâmetro para abordagem simplificada da questão da felicidade.

Pensei sobre felicidade quando vi, dias atrás, foto de imigrantes de Mianmar no porão de um navio. Eram eles fugitivos de seu país em busca de vida melhor onde quer que fosse. Acotovelavam-se algumas centenas de homens, quase todos sem camisa, observados pelo pessoal de bordo. Palavras talvez não sejam suficientes para descrever o horror da situação na qual seres humanos recolhidos de barcos à deriva em pleno oceano esperavam por algum tipo de solução, decerto milagrosa, para o caso em questão.

O olhar de desespero e apelo daqueles homens nos leva a perguntar de que tipo de inferno estariam fugindo. Pessoas que fogem sem destino determinado, arriscando a própria vida e sem nenhuma previsão do que lhes poderá acontecer, certamente deixam para trás horror maior que o risco a que se submetem.

Os imigrantes que fogem de Mianmar são da etnia rohingya e praticam o islamismo. Há décadas sofrem com sansões discriminatórias em Mianmar por serem considerados imigrantes vindos de Bangladesh. À deriva no mar, sem alimentos e água, lutando entre si pela sobrevivência, doentes, aos fugitivos a palavra felicidade carece de qualquer sentido.

Há que rejubilar-se o homem que vive em nossos trópicos e pode saborear seu bom café da manhã enquanto corre os olhos no jornal do dia. Ao dar com a foto dos rohingya certamente sofrerá um sobressalto, mas passará à notícia seguinte, fugindo a uma realidade que o constrange. A seu modo esse homem entenderá que é feliz, favorecido pela incrível distância que o separa da tragédia dos fugitivos de Mianmar.