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A parenta

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A parenta casou-se quando já não acreditava mais fosse possível. Beirava os 50 quando conheceu o sujeito falante pelo qual logo se derreteu. Era um tipo espigado, entrado nos sessenta, cabelos ralos e muita energia. Militar aposentado gastava o tempo em sua casa, ouvindo música, ou em visitas no interior. Mas, morava na capital de onde dizia que não se mudaria de jeito nenhum.

O apartamento em que moravam ficava no quinto nadar de um prédio localizado na esquina de rua movimentada, Naquela época ainda circulavam os bondes na cidade. O problema era o ruído do trânsito. Ainda mais porque, nas madrugadas, os bondes continuavam a dobrar a esquina. A parenta reclamava. Não conseguia dormir. O marido explicava que nada se poderia fazer dado que os trilhos eram fixos e por eles seguiam os bondes.

Mas, o tipo espigado, o falante, o marido, bom sujeito, tinha lá suas esquisitices. A parenta casara-se sem saber que o tipo era nudista. Tamanha aversão tinha a roupas que de modo algum se vestia quando em casa. Sempre peladão com a mão no bolso - era como ela o descrevia.

Certa ocasião fui visitá-los, na verdade para entregar a ela encomenda enviada pela minha avó. No quinto andar, diante da porta, apertei a campainha. Logo o marido a abriu, recebendo-me com um largo sorriso. Estava completamente nu. Convidou-me à sala, sentamo-nos e logo veio a parenta. Dizer que estávamos constrangidos é pouco. Eu, então rapazote, estranhava ter diante de mim aquele homem nu. A parenta parecia envergonhada. Ainda assim conversamos o suficiente e logo me despedi. Confesso que me senti aliviado quando alcancei a rua.

Mais tarde soube que os dois não foram muito felizes. A parenta de modo algum concordava com ele sobre frequentar campos de nudismo. Mulher nascida na primeira metade do século 20 e filha de pai austero causava-lhe espanto o nudismo. Longe dela a naturalidade com o que o marido encarava o assunto. E frequentar praias de nudismo era tudo para ele.

Outro dia passei pela rua onde moraram. Lembrei-me de nosso encontro quando fui entregar a encomenda enviada pela minha avó. Veio-me a imagem daquele homem completamente nu sentado à minha frente. Já não me constrange.

Escrito por Ayrton Marcondes

8 janeiro, 2017 às 9:05 pm

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