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O sentido da vida

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Assisti pela TV à palestra de um filósofo. A certa altura ele disse que muita gente se pergunta sobre o sentido da vida. Para muitas pessoas não há sentido numa vida que se passa num planeta pequeno, quase nada mais que um grão de poeira dentro da imensidão do Cosmos. Além disso, como ver sentido numa vida de tão curta duração?

A partir daí o filósofo pergunta se o sentido estaria em habitar um planeta enorme e ter uma vida mais longa. Conclui que não. Explica que para ele a vida ganha sentido diante de um sorriso do filho ou quando reencontra a mulher após dias ausente de casa.

Não há como não se perguntar sobre o sentido da vida quando se chega à velhice. A constatação de que a trajetória anterior vivida quase nada significa diante da proximidade do fim abala as certezas que temos a respeito de quase tudo. A ação do envelhecimento sobre o corpo que se torna passível de crescentes limitações torna-se angustiante quando se chega ao terço final da vida.

Mas, a vida é assim e nisso se resume toda a sua beleza. Realmente a eternidade não nos conviria, pelo menos dentro do sistema de vida que conhecemos. Seria cansativo demais, desestimulante até, saber-se que a vida poderia durar duzentos anos, por exemplo. Afinal, o que teríamos a fazer no segundo século de existência quando já não teríamos a força da juventude?

A vida é um fenômeno fantástico inventado por um cérebro genial, seja ele Deus ou não. No mundo em que vivemos e com o organismo que temos a vida parece ser exatamente cronometrada para que saiamos dela sem queixas pelo menos quanto à duração.

Os biógrafos de Machado de Assis escrevem sobre seus últimos dias de vida, marcados pela doença e o sofrimento. A grande mente do nosso maior romancista entregava-se ao inevitável como o fazem todos os seres humanos. Mário de Alencar, filho do escritor José de Alencar, escreveu que não teve forças para ficar junto de Machado na fase final de seu sofrimento. Mas, as pessoas que na ocasião o acompanhavam relatam que suas últimas palavras foram:

- A vida é boa…

Pois é, a vida é boa e talvez seja esse o maior sentido que possamos associar ao tempo que passamos nesse mundo.