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Anão diplomático

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Não sei se você que já rompeu a barreira dos 50 anos de idade e ainda sonha com um mundo mais justo. Igualdade de direitos, corrupção banida, acesso a bens como moradia, serviços de saúde, redução da violência, redes de esgoto, ambiente saudável, meios de transporte público eficientes, etc. Confesso que já não creio que até o fim dos meus dias terei a oportunidade de viver num país assim.

Aliás, bem ao contrário. Ao que parece a capacidade de entendimento não é mesmo atributo da humanidade. Sobre todas as tentativas de entendimento entre pessoas interpõe-se os interesses. É em função dos interesses que eclodem disputas terríveis, ódios irremediáveis, fanatismos, divergências de toda ordem e mesmo guerras.

No momento está em curso a questão entre Israel e a Faixa de Gaza cujo resultado, até agora, é a morte de mais de 1 mil pessoas. A Faixa de Gaza não passa no mapa de uma espécie de linguiça com cerca de 360 Km². Trata-se de área inferior, por exemplo, à do município de São Paulo. Eis que ali são descarregados mísseis de Israel que, em troca, recebe mísseis enviados pelo Hamas. Ocorre que as baixas do lado de Gaza são muito maiores que as verificadas no território de Israel.

E nós com isso? Não é que a zona de beligerância fica muito longe daqui e em nada nos afeta? Sim e não, principalmente não. De repente a modorrenta chancelaria brasileira tem um surto de intervenção internacional e condena Israel pela desproporcionalidade dos ataques e número de vítimas. Ao que Israel reage classificando o Brasil como anão diplomático. Obviamente, o insulto vindo de Israel reclama os brios do governo brasileiro o qual, em todo caso, dá um jeito de contornar a situação, embora chamando o embaixador brasileiro em Israel.

O Brasil anda navegando nas águas insalubres do Mercosul e inexplicavelmente fica fora de blocos econômicos importantes como a União Europeia. O gigante econômico brasileiro parece estático diante da estagnação econômica, PIB baixo e inflação crescente. Critica-se a política externa do país pela ineficiência.  Mas, de repente o gigante acorda e pronuncia-se contra a desproporção no embate entre Israel e a faixa de Gaza. E toma na orelha a pecha de “anão diplomático”.

Já fomos melhores. O Brasil é país de dimensões continentais no qual vive gente que trabalha. Há mais de cem anos o Barão de Rio Branco geria o Itamaraty mantendo diplomacia impecável. Sonhava ele com um país melhor. Morreu no local de trabalho e seu enterro parou a cidade do Rio de Janeiro. Recebeu homenagens e respeito de seu povo.

Hoje em dia, por quem choraríamos acaso desaparecesse?

Talvez por isso eu tenha começado dizendo que até o fim dos meus dias não verei um mundo melhor. Os sonhos de um país forte e mais justo que animaram a minha juventude ficaram lá no passado. Não é possível resgatá-los. Nem confiar que as coisas melhorarão, milagrosamente.

O problema não está na condenação brasileira aos ataques de Israel, ato acertado. Nesse caso o buraco fica mais embaixo porque ligado à ineficiente política externa que o país desenvolveu nos últimos anos.

O caso do senador boliviano

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Quando você pensa que já viu de tudo surge o caso do senador boliviano que entrou no Brasil sob os auspícios de um diplomata brasileiro. O senador estava a mais de 400 dias recluso na embaixada brasileira da Bolívia acusado que foi de corrupção pelo governo boliviano. Opositor do regime de Evo Morales o senador se diz perseguido daí ter pedido asilo político ao Brasil.

A situação permaneceu nesse chove não molha, sem solução até que o diplomata brasileiro decidiu - por conta própria – retirar o senador do território boliviano. Viajaram de carro - o diplomata e o senador – por cerca de 2200 km até entrar no Brasil e chegar a Corumbá, no Mato Grosso. Agora o senador está em Brasília e o pau está comendo para todo lado. A Bolívia fala grosso exigindo explicações do governo brasileiro que, como vem acontecendo, adota atitude por demais cautelosa; o ministro das Relações Exteriores do Brasil é demitido; o diplomata diz que tomou a atitude depois de avisar ao governo brasileiro que a situação na embaixada na Bolívia tornara-se insustentável, havendo possibilidade de suicídio do senador; a presidente da República está danada da vida com a situação e disse poucas e boas a respeito das declarações do diplomata que servia o governo na Bolívia.

Pois é. O diplomata que trouxe o senador avisa que tem meios de se defender judicialmente. O governo certamente quer vê-lo fora da diplomacia. Há diplomatas brasileiros apoiando a ação do colega que estava em serviço na Bolívia. E é constrangedor ouvir o embaixador da Bolívia no Brasil praticamente com o dedo em riste, exigindo que o Brasil não só se explique como devolva o senador a quem acusa de banditismo.

Sobressai nessa história a falha do governo que deixou essa história se arrastar por tanto tempo. Há, também, que se reconhecer a coragem e empenho do diplomata brasileiro que arriscou a si e sua carreira tomando atitude que a maioria teria evitado, talvez para não se expor.

Enquanto escrevo, o imbróglio continua. Tempos novos esses, tão novos que envelhecem com a mesma rapidez em que nascem. O caso do senador boliviano - roteiro de filme - de tão inusitado dá a impressão de que, afinal, nada neste mundo é impossível. Agora o esforço vai ser para dar-se um jeito de acertar as coisas. Isso certamente acabará acontecendo de vez que o tal “jeitinho” faz parte do modo de agir nacional. Quanto ao senador acho que ninguém gostaria de estar na pele dele nesse momento.

A imprensa brasileira e a crise em Honduras

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Há que se respeitar a cautela da imprensa em relação a assuntos em desenvolvimento e ainda não perfeitamente configurados. Mas não deixa de ser estranho o comportamento da imprensa brasileira em relação ao caso Zelaya.

Ora, desde o começo essa crise apresentava direção certa, exceto quanto aos rumos de sua solução. O surgimento de Manuel Zelaya dentro da embaixada brasileira em Honduras e acompanhado por vários seguidores foi muito estranho; as negativas oficiais do Brasil em relação ao fato mais estranhas ainda - o sempre esperto e manipulador Hugo Cháves sabia de tudo antes; a ocupação da embaixada pelo presidente deposto que de lá passou a conclamar seus concidadãos à revolta era mais que previsível; a negativa do governo brasileiro em negociar com os golpistas estranhíssima dado que o mesmo não se faz com Cuba etc. Isso sem levar em consideração que o presidente do  Brasil foi, a certa altura, chamado de mentiroso pelos golpistas hondurenhos.

Vai daí que no episódio de Honduras o papel da imprensa brasileira seria o de prontamente alertar sobre os influxos da crise internacional em relação aos interesses do Brasil. É o que ela está fazendo agora, finalmente, em letras garrafais e com vários artigos tratando do assunto.

Pode-se dizer que, até então, a imprensa do país portou-se timidamente. Foi preciso que a situação se aclarasse, enfim que tudo desse no que tinha que dar, para que, calcada em certezas, a imprensa enfim se pronunciasse mais agudamente.