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O dia em que o governador chorou

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Na semana que passou ficamos sabendo que o empresário brasileiro, Eike Batista, é o 8º homem mais rico do mundo. Sua fortuna alcança U$ 27 bilhões de reais, algo simplesmente inimaginável para o comum dos mortais. Além disso, ficamos estarrecidos com o desnecessário e brutal assassinato do caricaturista Glauco Vilas Boas e de seu filho. Noticia cortante, desesperadora, que traz para dentro de nossas casas os tentáculos da violência como a dizer-nos que estamos, também, ameaçados.

Não parou aí a semana. Entre tantos acontecimentos tivemos o desprazer de ver o presidente da República comparar presos políticos a bandidos comuns e, mais que isso, referendar um regime que se esmera em ser anti-democrático. O presidente segue a sua veia autoritária de homem de convicções de momento, sem embasamento, dizendo coisas absurdas em nome do Estado. Tinha razão o falecido caricaturista Glauco ao dizer que o brasileiro aquenta e consome qualquer tipo de abobrinha.

Mas, o que mais chamou a atenção foi o choro de Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro. Não é todo dia que um governador chora, descarregando em público o amor pelo seu Estado ameaçado.

Sérgio Cabral chorou. Por quê? Ora, porque a Câmara Federal aprovou uma emenda que revê a atual distribuição da receita com exploração de petróleo. Com isso, dois Estados serão prejudicados: Rio de Janeiro e Espírito Santo. A idéia é distribuir a renda obtida com a exploração de petróleo com todos os Estados da União. A justificativa é a de que minerais etc. são patrimônios da União, daí único Estado não poder ficar com a receita da exploração.

Em face a essa resolução, a situação do Rio de Janeiro torna-se muito grave: os ganhos do Estado com a exploração de petróleo seriam reduzidos de 5 bilhões para 100 milhões de reais. Por essa razão Sérgio Cabral chorou. Mas, a aprovação ainda depende do Senado Federal.

Madureira chorou, Madureira chorou de dor – diz o samba. A partir de agora a letra será mudada: Sérgio Cabral chorou, Sérgio Cabral chorou de dor.

Não se pode negar que esse Rio que tanto amamos é propenso a nevralgias muitas vezes só resolvidas com cirurgias. É preciso lembrar que o Rio era o coração do Brasil e que dele tudo emanava, inclusive as piadas que divertiam todo o país. Isso durou até que um dia entrou no Palácio do Catete um mineiro chamado Juscelino Kubitscheck. Juscelino tinha um plano que, aliás, levou adiante a ferro e fogo: mudar a capital da República para o interior do país. Foi assim que nasceu Brasília, foi assim que o Rio perdeu muito da sua importância,

De lá para cá o Rio vem lutando pela antiga supremacia no cenário nacional.  A cidade continua linda, mas, talvez por praga lançada sobre ela por invejosos e despeitados, converteu-se em território da bandidagem que não se avexa em descer os morros e massacrar inocentes.

Agora, soma-se mais isso de tentarem reduzir dramaticamente a receita do Estado. O governador avisa que, se fizerem isso, o Rio quebra.

Por isso Sérgio Cabral chorou.

Madureira chorou, Madureira chorou de dor.

Recado do Morro

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Não é samba, não é livro: é projétil. O recado enviado pelo Morro dos Macacos veio sob a forma de projéteis lançados por armas potentes, com direito a abate de helicóptero e muitas mortes.

Tem gente chamando de ataque terrorista o conflito entre a Polícia Militar e os traficantes do Morro dos Macacos. Errado: o que aconteceu lá é um recado, talvez o maior deles, avisando sobre situações insustentáveis, desequilíbrios, desigualdades, pobreza, fome, corrupção, destinação errada de dinheiro público, ufanismo fora de hora, exploração do homem pelo homem, vícios, disputas entre criminosos pelo domínio de territórios, veículos queimados, tráfico de drogas, sofrimento de famílias marginalizadas que não têm para onde ir e tudo que se refere à existência de áreas urbanas fora do alcance da lei.

Na rotina de acontecimentos dessa ordem há sempre o depois no qual as autoridades falam e falam sobre diferentes aspectos, sempre prometendo dias melhores. Urge o combate ao crime organizado, as famílias que vivem nos morros não dão guarida aos criminosos, o Rio de Janeiro estará preparado para os grandes eventos esportivos que lá se realizarão num futuro próximo, segurança é preocupação de primeira ordem e assim por diante.

Você ouve e não acredita no que eles estão dizendo. É que você ouviu e entendeu o recado do Morro dos Macacos. Você também viu as imagens desses repórteres e cinegrafistas meio loucos que têm e tiveram a coragem de trabalhar no meio daquele verdadeiro ciclone levantado por gente que corria para todos os lados, cuidando de salvar a própria pele. Você ouviu o ritmo frenético das armas disparando sem parar. Também assistiu ao desespero de gente como a gente, perdida em meio à confusão e procurando abrigos.

O recado do Morro dos Macacos foi um aviso de que se trata de guerra civil, no momento fora de controle e que pode ser reiniciada a qualquer momento, ali ou em outros morros dominados pelo tráfico. O recado é uma mensagem dos bandidos de que pouco estão se lixando para o presidente da República que apareceu na televisão para dizer que a imagem deste país de trabalhadores não pode ser manchada por meia dúzia de bandidos. O recado é um grito ao mundo de que “este país” está crescendo, mas que ainda falta muito para resolver os seus problemas básicos.

O recado do Morro dos Macacos é algo que queremos olvidar, transformar em ficção, desacreditar e fingir que não aconteceu de verdade para que possamos dormir em paz com as nossas consciências.