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A desconstrução da arte

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Todas as épocas tiveram os seus momentos de desconstrução que, mais tarde, tornaram-se moeda corrente para, por sua vez, serem desconstruídos pelas idéias novas de novos profetas. Foi assim que o realismo substituiu o romantismo, o modernismo zombou de tudo que veio antes dele e a ordem sucumbiu à desordem, então chamada de nova ordem.

Tudo isso faz parte da natureza do homem, da necessidade de renovação, do instinto de progresso, da fome de epílogos que inaugurem novos tempos.

Dentro de tal contexto, o real e o linear sucumbem. É preciso um novo traço, uma nova cor, a deformação da imagem, o avesso das palavras, a quebra do sentido, a ruptura da lógica, a negação do sequencial. Só assim o artista estará conectado com um mundo sem certezas, arrivista, no qual os acontecimentos forçosamente negam a racionalidade.

As novas realidades oferecem o perigo de triunfarem, entre os poucos verdadeiros artistas, os que apenas desconstroem, os iconoclastas que não sabem esculpir, os que desenredam por não saber enredar. Assim se fazem muitos gênios de momento, arautos de novidades incompletas que caem no gosto do público, propagando obras ininteligíveis, arrastando legiões de pessoas atraídas por algo que têm por avançado ainda que lhes escape o sentido do que observam ou lêem.

Ultimamente tem sido assim, entre nós, na literatura, na música, na moda, no cinema, na pintura, nas artes em geral. Premia-se o que é vago, valoriza-se o incerto, atribui-se pós-modernidade ao que pode ser catalogado como simplesmente “estranho”. A sociedade de consumo propaga as novidades, os pseudocultos integram-se para não ficar de fora e muitos intelectuais aderem por receio. Desse modo, a arte afasta-se de seus parâmetros, os clichês retornam camuflados e são enfiados goela abaixo do público. Nasce, assim, uma legião de consumidores de arte padrão, imbecilizados, devotos de uma falsa arte incensada pelos críticos de plantão.

Em períodos como este as boas narrativas não encontram espaço, os clicks inteligentes das máquinas fotográficas são desprezados e a boa poesia é substituída pela versificação sem sentido que passa por avançada.

Os verdadeiros talentos? Resta-lhes procurar outra profissão.

Os críticos? Deixam de existir ou sucumbem no solo movediço do “nem sim, nem não”.

E a arte, a verdadeira arte? Ora, a arte…

Se não existe um consistente movimento a refutar, a produção artística ou segue o seu curso normal ou corre o risco de perder-se de si mesma. Na última hipótese verifica-se o triunfo das nulidades, como já dizia o bom e sábio Rui Barbosa.

Escrito por Ayrton Marcondes

20 janeiro, 2010 às 10:25 am

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Os caminhos da moda

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Sempre desconfiei que os mais ousados modelos apresentados nos desfiles de moda nunca fossem usados por ninguém. Existem roupas realmente incríveis, delírios de costureiros, designers e artistas de toda ordem que realmente viajam em outras latitudes de onde trazem para o mundo criações exuberantes e nem sempre práticas.

Foi um amigo versado em moda que certa vez me explicou que os desfiles anuais promovidos pelas grifes funcionam como gatilhos para o desencadeamento de toda uma rede produtiva que termina na confecção de roupas em massa para o grande público. É desse modo que as pessoas são envolvidas pelo mundo fashion e correm atrás dos mais recentes Louis Vuitton, Dona Karan e outras marcas. Corrida essa, aliás, que termina no baixo mundo da moda onde se vendem as nem sempre bem acabadas cópias falsificadas de produtos de todas as marcas “made in China”. Quem dúvida que faça uma visita às barraquinhas e lojas de importados nas agitadas ruas de comércio de cidades como São Paulo e Nova York. Chinatown é o lugar, acreditem.

Em matéria de moda nunca consegui me desligar dos anos 20. Embora hoje ultrapassados os antigos modelos de Coco Chanel parecem garantir um porto seguro quando desconfiamos que algo não está bem ou fora de lugar. Há nos traços e cortes de Chanel uma segurança de bíblia do gênero à qual recorro sempre que me sinto inseguro e incapaz de emitir opinião.

A moda se transforma, mas o estilo permanece - dizia Chanel. Note-se que ela começou a produzir seus modelos numa época em que o mote de Serguei Diaghilev, o genial diretor dos Ballets Russes, era simplesmente a palavra “surpreenda-me”. Época dos pintores Salvador Dali e Pablo Picasso, do escritor Jean Cocteau, do fotógrafo Man Ray e de tantos outros personagens com os quais Chanel se relacionou.

Mas, a ousadia na moda parece não ter limites. Uma rápida olhada nas páginas de revistas de moda pode se converter num exercício de avaliação sobre os rumos da imaginação quando se trata de impactar o público. Os apelos são muitos e, mais que nunca, a fotografia alia-se à alta costura para que as roupas vestidas por belas modelos sejam mostradas em ambientes capazes de despertar reações subliminares nas pessoas que as observam.  Exemplificam a afirmação anterior fotos que mostram modelos em ambientes exóticos os quais conferem às vestimentas aspecto de extraordinário. A intenção óbvia é a de despertar a sensação de estar acima do normal. Referenda-se a possibilidade de se destacar e isso ao alcance do consumidor que tem ao seu dispor a possibilidade de realização da sua fantasia.

Mas a coisa não pára no universo da propaganda que faz de tudo para atrair consumidores. A moda do momento recomenda excentricidade e abuso da criatividade surrealista. Eis aí, portanto, a palavra mágica, que nos devolve ao grande pintor surrealista Salvador Dali. Pois não é que Isaac Mizrahi acaba de produzir um chapéu-bolsa inspirado no chapéu-sapato que foi desenhado por Schiaparelli, em 1937, para Gala, a mulher de Dali? E que dizer do vestido e do blazer que trazem reproduções das mãos desenhadas por Jean Cocteau? E do relógio da Cartier cujo modelo é retirado da famosa tela “A persistência da memória”, desenhada em 1931, por Salvador Dali?

A imaginação é o limite quando se trata de moda. Ditando normas para as aparências e alimentando paixões a indústria da moda está à cata de novas perspectivas estéticas que encantem o público consumidor. Nessa busca constante não é rara a reciclagem de antigas novidades. É quando pós-moderno sucumbe ao moderno e antigas tendências se mostram insuperáveis.