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Tiger Woods

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Inferno astral não é propriedade exclusiva de gente simples e desconhecida, nem se relaciona com riqueza ou pobreza: é coisa que pode acontecer a qualquer um e a qualquer hora.

A desgraça que se abate sobre o comum dos mortais em geral não tem repercussão pública. Diferente é a situação quando o desgraçado é pessoa notória e riquíssima. A fama atrai a notícia, atrás dela até mesmo os abutres dos pasquins sensacionalistas que ficam de plantão em busca de detalhes dos acontecimentos.

A essa altura, uma pergunta: e nós, por que lemos as notícias sobre o que acontece aos famosos, por que nos atraem tanto detalhes sobre os escândalos em que eventualmente eles são envolvidos?

Eu me fiz essa pergunta ao deparar com o inferno astral pelo qual atualmente passa o jogador norte-americano de golfe, Tiger Woods. Não que eu ligue para o golfe, esporte no qual a minha incultura não consegue ver a menor emoção. Mas, nisso como em muitas outras coisas, parece que sou caso a parte: milhões de pessoas acompanham os jogos de golfe, existem filmes cujos enredos abordam a vida de golfistas e no mundo da bolinha projetada por um taco Tiger Woods é o maior.

Sendo o maior Tiger é realmente “o cara”. Atrai multidões aos jogos de que participa, faz propaganda de vários produtos, enfim é uma celebridade mercê da posição que ocupa, posição esta duramente conquistada lançando bolinhas em buracos distantes por meio de brilhantes tacadas.

Um homem assim tem em torno de si a aura de viver em situação ideal: o maior do golfe, bela família, muito dinheiro, vida de filme. Até que numa noite sai de sua casa apressado e sofre sério acidente de carro. Poucas horas depois a boataria começa a circular: Tiger brigou com a mulher, foi ferido por ela, a mulher descobriu que era traída pelo grande golfista.

O resto da história todo mundo sabe: o homem que declarava ser a família a coisa mais preciosa do mudo tinha amantes às quais pagava de 4 a 5 mil dólares por mês, pelo silêncio delas. A esposa de Tiger, ex-modelo, está se separando dele e levando com ela os filhos. Tiger? Ele acaba de declarar que está se afastando do golfe profissional por tempo indeterminado.

A quem interessa tudo isso? Por que essa desgraceira pessoal do jogador chama a nossa atenção? Que faz uma rede de televisão postar seus repórteres na frente da casa de Tiger esperando que os caminhões de uma transportadora ali estacionados recebam a mobília da mulher que está saindo de casa?

Partindo do apenas “sei lá” para uma hipótese que não passa de um belo chute, acredito que tudo se resuma às nossas complexas relações com o mito. Estrelas que sobem e estrelas cadentes chamam e chamaram a atenção dos homens em todas as épocas. Uma cabeça que se erga da multidão atrai atenções e é preciso que se explique o porquê desse fato, ainda que não satisfatoriamente.

Tiger Woods é um nome mais que midiático e distante da maioria dos brasileiros dado o esporte que ele pratica não ser de preferência nacional. Mas é estrela, é mito, faz parte do consumo visual, oral e escrito. O homem é notícia. Gente como ele não aparece de repente sendo acusado de ter mais de uma amante, pagá-las bem e ter uma vida desregrada em surdina. À imagem oficial do jogador, aquela à qual estamos habituados, não cabe a do devasso que engana a mulher. Além disso, um cara que faz o que ele faz com o taco, um sujeito capaz de tanta precisão, simplesmente não pode cometer um erro desses, dar uma tacada dessas, pelo menos em público.

Agora junte ao que está escrito acima mais algumas razões para Tiger Woods não poder estar metido nessa situação e talvez você se convença de que vamos acompanhar a história dele até o último capítulo.

Aliás, será que aparecerão na televisão os móveis da casa dele quando a ex-modelo sair definitivamente de casa com os filhos?

Deixa prá lá.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 dezembro, 2009 às 6:57 am

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De Heróis e Mitos

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De que a humanidade precisa de heróis não restam dúvidas. O herói é alguém que suplanta as nossas limitações, faz-nos acreditar no impossível e celebra conquistas que gostaríamos fossem nossas.

Quem lê os informativos deste fim-de-semana encontra referências a um novo herói, o nadador brasileiro Cesar Cielo. Num país mais propenso a aberrações que verdadeiras conquistas, Cielo surge para o público como expoente da raça, protótipo do brasileiro comum que alcança a glória por todos os outros.

Não é todo dia que alguém se torna o nadador mais rápido do mundo e todos sabem quanto isso custa em termos de preparo, concentração e até obstinação. Daí ser mais que justo o clima de euforia que cerca a conquista do nadador brasileiro. Ainda agora vi as pessoas, no interior de uma padaria, voltaram-se para uma televisão quando o nome de Cielo foi pronunciado em um programa esportivo. Havia reverência, admiração e orgulho em suas faces.

O Brasil tem uma longa história de heróis ligados à área esportiva. Alguns são canonizados em vida, pelo menos momentaneamente com agora acontece com Cielo. Outros são adorados pelo público na época de seus feitos, mas a canonização ocorre após a morte, como aconteceu a Ayrton Senna. De qualquer modo, o importante é que existem heróis brasileiros e ponto final.

Do que temos falta por aqui é de mitos. Note-se que mitos de verdade são assim consagrados após a sua morte. Em geral trata-se de pessoas cuja vida é marcada por acontecimentos insólitos e não raramente termina de forma trágica. São mitos mundiais John Lennon, Che Guevara e Marilyn Monroe. Deles não se pode dizer que tiveram vida semelhante ao comum dos mortais. Além disso, comungam de circunstâncias obscuras ligadas às suas mortes: Marylin desapareceu precocemente em situação até hoje não completamente esclarecida; Lennon foi assassinado; Guevara notabilizou-se por atitudes extremas, ditas libertárias e foi morto nas selvas da Bolívia.

Mitos são pessoas que sobrevivem estampadas em camisetas acrescentando às pessoas que as usam, mais que reverência, um pouco de ousadia e sensações de glória e liberdade.

Charles Chaplin criou Carlitos, personagem mítica que sobrevive nas memórias com sua imagem irreverente, rindo de si mesmo e de todos nós.

A humanidade recorre a personagens míticos como forma de superação e de conquista de liberdade. Quanto aos heróis, não importa que o sejam por pouco tempo desde que ao sê-lo agreguem em torno de si o sonho das multidões.

Num país tão carente de heróis e atos heróicos é com alegria que recebemos a conquista de Cielo e a justa homenagem que a ele faz a revista “Veja” desta semana em cuja capa se lê a manchete:

“Enfim, um herói”.

PS: os jornais exibem na manhã de domingo a galeria dos heróis nacionais: Pelé, Ayrton Senna, Eder Jofre, Adhemar Ferreira da Silva, Maria Esther Bueno, Garrincha, Emerson Fitipaldi, Gustavo Kuerten, Torben Grael, Robert Scheidt, Oscar, João do Pulo, e Hortensia.

Há certa confusão entre herói e mito. Se o critério para mitificação for a morte Ayrton Senna e Garrincha tornaram-se mitos.