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De Heróis e Mitos

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De que a humanidade precisa de heróis não restam dúvidas. O herói é alguém que suplanta as nossas limitações, faz-nos acreditar no impossível e celebra conquistas que gostaríamos fossem nossas.

Quem lê os informativos deste fim-de-semana encontra referências a um novo herói, o nadador brasileiro Cesar Cielo. Num país mais propenso a aberrações que verdadeiras conquistas, Cielo surge para o público como expoente da raça, protótipo do brasileiro comum que alcança a glória por todos os outros.

Não é todo dia que alguém se torna o nadador mais rápido do mundo e todos sabem quanto isso custa em termos de preparo, concentração e até obstinação. Daí ser mais que justo o clima de euforia que cerca a conquista do nadador brasileiro. Ainda agora vi as pessoas, no interior de uma padaria, voltaram-se para uma televisão quando o nome de Cielo foi pronunciado em um programa esportivo. Havia reverência, admiração e orgulho em suas faces.

O Brasil tem uma longa história de heróis ligados à área esportiva. Alguns são canonizados em vida, pelo menos momentaneamente com agora acontece com Cielo. Outros são adorados pelo público na época de seus feitos, mas a canonização ocorre após a morte, como aconteceu a Ayrton Senna. De qualquer modo, o importante é que existem heróis brasileiros e ponto final.

Do que temos falta por aqui é de mitos. Note-se que mitos de verdade são assim consagrados após a sua morte. Em geral trata-se de pessoas cuja vida é marcada por acontecimentos insólitos e não raramente termina de forma trágica. São mitos mundiais John Lennon, Che Guevara e Marilyn Monroe. Deles não se pode dizer que tiveram vida semelhante ao comum dos mortais. Além disso, comungam de circunstâncias obscuras ligadas às suas mortes: Marylin desapareceu precocemente em situação até hoje não completamente esclarecida; Lennon foi assassinado; Guevara notabilizou-se por atitudes extremas, ditas libertárias e foi morto nas selvas da Bolívia.

Mitos são pessoas que sobrevivem estampadas em camisetas acrescentando às pessoas que as usam, mais que reverência, um pouco de ousadia e sensações de glória e liberdade.

Charles Chaplin criou Carlitos, personagem mítica que sobrevive nas memórias com sua imagem irreverente, rindo de si mesmo e de todos nós.

A humanidade recorre a personagens míticos como forma de superação e de conquista de liberdade. Quanto aos heróis, não importa que o sejam por pouco tempo desde que ao sê-lo agreguem em torno de si o sonho das multidões.

Num país tão carente de heróis e atos heróicos é com alegria que recebemos a conquista de Cielo e a justa homenagem que a ele faz a revista “Veja” desta semana em cuja capa se lê a manchete:

“Enfim, um herói”.

PS: os jornais exibem na manhã de domingo a galeria dos heróis nacionais: Pelé, Ayrton Senna, Eder Jofre, Adhemar Ferreira da Silva, Maria Esther Bueno, Garrincha, Emerson Fitipaldi, Gustavo Kuerten, Torben Grael, Robert Scheidt, Oscar, João do Pulo, e Hortensia.

Há certa confusão entre herói e mito. Se o critério para mitificação for a morte Ayrton Senna e Garrincha tornaram-se mitos.