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Sabe-se lá…

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… em quem acreditar.

Em 1968 o povo foi às ruas do Rio na inesquecível passeata dos 100 mil. Líderes estudantis inflamavam a opinião. Verdadeira guerra entre estudantes e policiais estabelecera-se na cidade. A morte de um estudante no restaurante conhecido como Calabouço erguera a população em protestos. A missa de sétimo dia na igreja da Candelária por pouco não se transformara em tragédia. Costa e Silva era o presidente militar. Gama e Silva o Ministro da Justiça que no famigerado 13 de dezembro promulgaria o AI-5. Lutava-se contra a ditadura.

Hoje em dia respira-se cansaço. O brasileiro sente que não há para quem apelar. Desnudam-se membros da classe política envolvidos em negociatas. Campeões de votos não resistem a denúncias de envolvimento em atos de corrupção. O rei está nu.

O último bastião da democracia, o STF, debate-se com acusações que até o momento se revelam infundas. A PGJ é criticada pela má condução de seus acordos com personagens hoje acusadas de banditismo. A Justiça está sob judice. O cidadão comum já não crê cegamente nas atitudes e decisões de juízes.

A própria presidência da República vê-se acusada de corrupção. O presidente safou-se da primeira denúncia da PGR e aguarda, temerosamente, a segunda. Um ex-ministro é preso após a descoberta de 51 mi - em espécie - em um apartamento a ele emprestado por um amigo. O país se espanta com imagens de tanto dinheiro vivo em malas e caixa dentro de um apartamento vazio.

Enquanto isso segue a rotina dos brasileiros. Carência de serviços públicos, crise na saúde, violência crescente e por aí vai. Sabe-se lá no que isso vai dar.

Escrito por Ayrton Marcondes

12 setembro, 2017 às 11:41 am

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Negando sempre

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Certa ocasião meu pai contratou um sujeito para ajudá-lo em seu pequeno negócio. Era um homem cortês, aplicado, recém-saído do presídio onde ficara por dois anos. O crime que resultara na prisão: roubo. Mas, emendara-se – dizia. Tonara-se crente na prisão, respeitava a Deus e ao próximo. Vida de criminoso nunca mais.

Naquela época não existiam computadores e o movimento diário era lançado num caderno ao fim do dia. Melhor dizendo: lançava-se o “fiado” porque muitos fregueses deixavam para pagar depois o que levavam. O dinheiro que entrava meu pai guardava numa gaveta que permanecia aberta durante o dia e trancada à noite.

Certo dia de maior movimento as idas e vindas à gaveta para fazer troco fizeram com que ela ficasse aberta com notas e moedas expostas. Em dado momento o empregado aproximou-se da gaveta e, naquele momento, surgiu um outro homem à minha frente. Jamais me esquecerei da transformação que se operou na face daquele homem a dar com o dinheiro. Sua face iluminou-se, seus olhos adquiriram súbito brilho, nos lábios plasmou-se estranho sorriso. Revelava-se o ladrão, talvez sua verdadeira natureza.

Lembrei-me desse fato hoje de manhã ao mais uma vez ler nos jornais a incrível sucessão de delações e negativas envolvendo pessoas que militam nas altas cúpulas do país. A cada dia surgem nomes de pessoas consideradas acima de qualquer suspeita acusadas de receberem propinas. Dia após dia a Operação lava jato traz à luz uma inimaginável rede de corrupção que nos leva a perguntar se de fato existem pessoas honestas por aí. Obviamente todos negam. Ninguém sabe de nada, não é comigo, trata-se de mentira, nunca me envolvi nesse tipo de coisa, não conheço as pessoas, a delação é mentirosa e feita para redução de pena, etc.

Há dúzias de casos. Hoje mesmo divulga-se que um dos envolvidos no comércio de propinas está processando um banco do qual roubou-se o equivalente a 7 mi de reais, dinheiro de propina. Esse dinheirão estava guardado num cofre particular do banco. Aconteceu de o banco ser assaltado e os cofres particulares serem roubados. E lá se foi a grana da propina, dinheiro roubado repassado no crime. Agora o banco alega que nada tem a pagar ao dono do cofre porque o dinheiro que lá estava não fora declarado. E o banco já venceu a ação em primeira instância.

Presidentes, ex-presidentes, governadores, senadores, deputados, prefeitos, vereadores, policias, grandes empresários, a lista de acusados nas delações é enorme. Obviamente, todos negam. A regra daqui para frente parece ser: “negando sempre”.