Anjos e Demônios at Blog Ayrton Marcondes

Anjos e Demônios

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Até que dá para entender a revolta do Vaticano recomendando boicote ao filme “Anjos e Demônios”. Afinal o tema do filme é a morte de um papa e o sequestro de quatro cardeais potencialmente aptos a substituí-los, os “preferiti”. Por trás da ação criminosa, uma seita desaparecida há 400 anos, os “Illuminati”.  O filme expõe intrigas e conflitos de interesses dentro do Vaticano, banaliza o conclave ao mostrar os interesses de seus participantes enquanto, na Praça de São Pedro, milhares de pessoas esperam pela fumaça branca cujo significado é a eleição de um novo papa.

Desde logo se estabelece uma dicotomia que pretende colocar a Igreja em situação desfavorável ante a opinião. Acontece que a seita Illuminati formou-se em função da perseguição dos homens de ciência pela Igreja em séculos passados. Trata-se, portanto, de uma vingança dos Illuminati que, para isso, roubam de cientistas uma porção de antimatéria com a qual pretendem destruir o Vaticano. Como se vê, entra em jogo um quadro bastante atual representado pela condenação da Igreja a certos avanços científicos como, por exemplo, a utilização de células-tronco.

Para sair da situação em que está o Vaticano recorre a um professor de simbologia, Robert Langdon (Tom Hanks). Serão ele e uma cientista que participou do projeto de produção da antimatéria, Victoria Vetra (Ayelet Zurer), que empreenderão uma louca corrida entre as igrejas de Roma, atrás dos cardeais seqüestrados e da antimatéria que poderá destruir o Vaticano.

Pelo jeito a Igreja terá levado demais a sério uma produção demasiado ficcional, que em muitos pontos deixa a desejar. A busca dos Illuminati, as ações de Langdon que os persegue através da interpretação de símbolos que encontra são cansativas e só ganham verdadeiro ritmo na parte final do filme quando as coisas se resolvem. Além disso, os espectadores só tomam contato com os Illuminati através de um único personagem, espécie de herói às avessas a quem pertence toda a ação criminosa em nome da ciência. Não deixa de ser impressionante como o destino dos cardeais e do próprio Vaticano ficam nas mãos de um só homem, capaz de roubar a antimatéria, sequestrar e matar cardeais e eliminar os inúmeros policiais que encontra em seu caminho.

“Anjos e Demônios” é um filme baseado no livro de mesmo nome do escritor “Dan Brown”. O filme utiliza a técnica da narrativa não fidedigna, aquela que engana o espectador. De fato, a todo tempo somos levados a suspeitar de pessoas diferentes sem que nos sejam fornecidos dados suficientes para um melhor ajuizamento a respeito das personagens. Estabelece-se, assim, verdadeira reviravolta entre as personagens do “bem” e do “mal”. Somos iludidos sobre ações aparentemente do bem, que chegam a nos atingir emocionalmente, para que em seguida sejam esclarecidos seus intuitos degradantes.

Por fim, não deixa de ser curioso que a Igreja chame para salvá-la justamente um professor que diz não acreditar em Deus e não ter religião. Essa postura Robert Langdon mantém até o final, quando o carmelengo (auxiliar do papa) o caracteriza como um enviado de Deus. Langdon nega, mas isso não importa: nem sempre os caminhos de Deus são inteligíveis aos homens.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 julho, 2009 às 8:32 am

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