O meteorito de Bedengó at Blog Ayrton Marcondes

O meteorito de Bedengó

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O incêndio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista é noticiado em todo o mundo. Perdem-se para as chamas cerca de 20 milhões de itens cujo calor histórico e científico é não só inestimável, mas irrecuperável. Tragédia acontecida, levantam-se vozes em busca de culapados. O descaso com bens públicos, o corte de verbas e outras acusações vêm à tona. Não há como aceitar tamanha perda que certamente tem responsáveis por ela.

Na primeira vez que visitei o Museu Nacional tinha 19 anos. Fui em companhia de um amigo que conhecera no Curso Colegial, hoje Ensino Médio. O meu amigo, hoje médico, era empalhador de animais. Foi recebido pelo pessoal do setor de empalhamento como “um dos nossos”. Naquela ocasião estendi a minha visita a todo o museu, deparando-me, pela primeira vez, como o meteorito de Bedengó.

Fora o meteorito encontrado no sertão da Bahia por um menino. Corria ao não de 1784. De lá para cá uma longa história de transportes e pesquisas envolvem o famoso meteorito. Constituído por ferro e pesando mais de 5 toneladas não foi fácil o transporte para o Rio de Janeiro. Na primeira tentativa, levado por um carro puxado por muitos bois, terminou no leito do rio Bedengó. Só 100 anos mais tarde o imperador Pedro II providenciaria a remoção do meteorito até Salvador, de onde foi levado ao Rio por via pluvial.

Hoje publicam-se fotos do famoso meteorito que resistiu ao fogo que destruiu o museu. Informa-se que, capaz de resistir a temperaturas de até 10.000º C o meteorito permaneceu intacto em meio às chamas.

Na época de sua descoberta o meteorito de Bedengó era o segundo do mundo em tamanho. Hoje ocupa o décimo-sexto lugar.

Em minhas incursões pelo sertão da Bahia, região de Canudos, muito ouvi falar sobre o meteorito. Naquelas paragens, distantes do mundo em que vivemos, fatos ali acontecidos ganham muita projeção e perduram nas memórias das gerações. A Guerra de Canudos, por exemplo, é contada em prosa e verso pelas gentes do sertão, conforme ouvida das gerações que as precederam. Mas, bem me lembro de como se falava com orgulho daquele meteorito encontrado, justamente, ali no sertão. O sertão que produzira a guerra também passara à civilização o famoso meteorito.

Sobrevivente ao incêndio o meteorito de Bedengó renasce em meio aos restos daquele que foi importante repositário de nossa história. Ao vê-lo nas fotografias tem-se a impressão de que ali está para gritar que somos um povo forte, maior que a incompetência e desmandos daqueles que nos dirigem.

Escrito por Ayrton Marcondes

3 setembro, 2018 às 11:57 am

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