Entre livros at Blog Ayrton Marcondes

Entre livros

deixe aqui o seu comentário

Quando todos os nossos pecados pesam demais – em geral isso acontece nas madrugadas insones – os livros talvez sejam a nossa única salvação.

Você acorda, senta-se na beirada da cama e olha para o escuro à sua frente onde, de repente, todas as imagens tornam-se possíveis. Nesse espaço, ao mesmo tempo mínino e infinito, você pode desenhar toda sorte de coisas e acontecimentos, mergulhar no passado e sonhar com o futuro. O escuro que se vê da beirada da cama em meio à madrugada faz de você um artista, a um só tempo coreógrafo e ator, capaz de repassar trajetos vividos, vendo-se atuar.

O tempo desse transe demora o suficiente para que você decida andar pela casa, até encontrar um porto seguro que são os seus livros. Com eles se travará, a partir de agora, um diálogo de memórias lidas e vividas, toques suaves em capas, num correr de dedos aparentemente desinteressado e que o levará a um título específico. Então você retirará o livro da estante, abrirá numa página qualquer e descobrirá que nada disso aconteceu por acaso, na verdade você atendeu a um chamado, era preciso encontrar-se com certas palavras, como essas que estão agora diante dos meus olhos, às cinco da manhã, enviadas do passado por Fernando Pessoa, escritas por ele especialmente para encontrarem-se comigo nessa hora urgente e necessária:

“Entre mim e a vida há um vidro tênue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar”.

Então está feito, cumpriu-se o rito, agora é recolocar o “Livro do Desassossego” na estante e voltar para o quarto, dormir novamente, esquecido da vida, essa louca vida que, só agora percebo, compreendo, mas não lhe posso tocar.

Escrito por Ayrton Marcondes

8 maio, 2009 às 11:19 am

deixe aqui o seu comentário

Postado em Cotidiano



Deixe uma resposta