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Um homem sem profissão

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Paro o carro para abastecer e encontro um homem que mora no mesmo prédio que eu. É um sujeito de meia idade que usa um brinco de argola na orelha direita. Ele está de bicicleta e mostra-se efusivo com os frentistas do posto e comigo. Brinca com todos, provoca um dos frentistas e recomenda que me atendam bem porque sou amigo dele.

Pergunto ao homem por onde anda já que não o tenho visto ultimamente. Ele me explica que está sem tempo, atualmente trabalha numa grande construtora na área de projetos. O trabalho é tudo para ele, gosta de ser útil, ajudar a construir e melhorar o mundo.

Depois de alguns minutos o homem parte. Pergunto a um dos frentistas, a quem conheço bem, se sabe o que o sujeito está fazendo no momento. O frentista sorri e responde:

- O senhor não o ouviu dizer que está numa construtora, fazendo projetos?

- Mas,…

Não termino a frase porque o frentista sorri com jeito de que o melhor é deixar pra lá.

O problema é que a cada vez que encontro com o homem que mora no meu prédio ele relata que está trabalhando em algo muito importante, mas sempre diferente do que fazia anteriormente. Essa história começou há alguns anos quando ele me falava sobre o cansaço decorrente da afinação de instrumentos musicais. Na época ele  não só afinava como consertava instrumentos como guitarras, pianos etc. Aliás, dizia-se músico tendo abandonado a participação dele numa banda da qual era o líder.

Noutra ocasião eis que o homem havia mudado de ramo: abrira uma loja no centro da cidade onde comercializava vários produtos destinados às casas. Mas, ao que me parece isso não durou porque, tempos depois ele passou a consertar computadores. Nessa ocasião, quando eu o encontrei, disse-me que era especializado em redes sem fio e aparelhos de transmissão à distância, incluindo-se aí a área de telefonia.

Há algum tempo eu o encontrei no elevador e soube que estava trabalhando como eletricista, destacando-se a tarefa de montagem de quadros de luz para residências. Quando estranhei mais essa aptidão ele me disse que era eletricista diplomado, com certificados obtidos em vários cursos e assim por diante.

Certa vez parei num posto de gasolina para abastecer e fui atendido por um frentista que era, nada mais, nada menos, o homem de quem falo. Também o vi mais amiúde durante os meses em que cuidou da mãe idosa que veio a falecer.

Não sei bem o que dizer sobre isso tudo. Há quem ouça uma história dessas e diga que o homem mente, simplesmente. Embora isso de fato seja possível, tenho lá as minhas dúvidas sobre tudo o que ele diz. Mas, confesso que me atrai a estranha liberdade desse homem nas idas e vindas que proporcionam a ele tantas realizações, ainda que possam ser imaginárias.

Fico pensando no que ele me dirá sobre suas atividades na próxima vez que o encontrar. Trabalhando com mísseis, energia atômica ou o quê?

Escrito por Ayrton Marcondes

7 abril, 2012 às 6:45 pm

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Postado em Cotidiano

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