Três pinos at Blog Ayrton Marcondes

Três pinos

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E entramos na era dos três pinos, novo tipo de tomada que visa prevenir choques, curtos-circuitos, incêndios e tudo o mais. Agora as lojas não podem mais vender tomadas e plugues de dois pinos. Para que serve o terceiro pino? Ele funciona como fio terra para aparelhos que precisam de aterramento.

A notícia é benvinda principalmente para os homens a quem cabe a solução de problemas elétricos, vazamentos, entupimentos, barulhos estranhos, carregamento de objetos pesados e até enfrentamento de estranhos caso apareçam nas casas. Homem também sofre - dizia um filósofo de botequim após o décimos copo de cerveja. Lembrava o filósofo que aos homens pertence o combate a baratas, aranhas,  lagartixas, pererecas, ratos e todos os seres que provocam pânico em mulheres. Homem – acrescentava – é aquele cara a quem cabe a troca de um pneu furado em meio à tempestade enquanto a mulher espera dentro do carro, muitas vezes ligada no espelhinho, corrigindo a maquiagem enquanto o sofredor se atola com o macaco.

De vez que falei sobre o filósofo de botequim não custa traçar um perfil dele, antes de retornar aos pinos. Pois esse filósofo era homem de respeito, muito lido e conhecedor de civilizações antigas em cujo comportamento baseava suas considerações do presente.  Achava a vida um teste ingrato de sobrevivência dado que a obrigação de civilidade tolhe os mais profundos impulsos da natureza humana. Admirava-se do fato dos seres humanos – animais domesticados – submeterem-se sem revolta a códigos impostos pelos poderosos de todas as épocas. Via nas religiões método eficaz para disseminar culpas e gerar multidões de infelizes, sendo os credos nada mais que ferramentas utilizadas para abafar os sentidos e conter revoltas – instrumentos de dominação, reforçava.  O filósofo não chegava a ser anarquista porque certas tendências autoritárias geravam conflitos em seu espírito. De todo modo ensinava que a civilização impôs ao homem - ao macho – obrigações exageradas tal como a responsabilidade do sustento da família. Era esse o modo de pensar dele. Pouco antes de morrer assistiu ao processo de libertação da mulher, mas permaneceu cético em relação à igualdade entre os sexos.

Bem, aos pinos. Há pouco tempo ouvi de jovens recentemente casadas que seus maridos são uns incapazes dado que não ajudam em nada em casa. Se uma simples lâmpada queima o jeito é chamar o eletricista. Não nego que achei exagerado o fato desses tais não se prestarem a realizar coisas simples como a referida troca de lâmpadas. Entretanto, devo confessar minha solidariedade a eles, pelo menos no terreno das coisas elétricas. O caso é que, em geral, somos inaptos para certos tipos de coisas, entre elas serviços elétricos. Resistências de chuveiro queimadas, por exemplo, nem pensar. E aí se poderia acrescentar uma longa lista de inaptidões dos valorosos e tão criticados maridos.

Tá bom que um choquinho de 220 V não é lá grande coisa. Entretanto, se você estiver no alto da escadinha que sua mulher usa para guardar coisas na parte de cima dos armários o tranco pode até ser perigoso. Daí que recebo com muita satisfação essas tais tomadas de três pinos nas quais caberá ao pino terra fazer a parte dele, impedindo acidentes. Pelo menos quando eu estiver no alto da escada, trocando uma lâmpada fluorescente de quase dois metros, poderei sorrir tranquilo, esbanjando a segurança dos que conhecem muito bem o ofício, impressionando os presentes com os meus dotes de eletricista, ainda que falsos. Disfarçando o medo, essa é a regra.

Escrito por Ayrton Marcondes

4 julho, 2011 às 8:22 am

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