2017 setembro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para setembro, 2017

Casa de repouso

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Daqueles remédios que se dá para corvo que parou de voar. É um desses que me receitaram e estou tomando.

Assim, assim. Com mais de 80 anos recolheu-se a uma casa para velhos - abrigo de pré-falecidos, diz ele sorrindo. Conta ter aprendido a zombar da morte ainda rapaz. Estava na boleia de um caminhão que caiu da ponte e afundou num rio. Ele não sabia nadar. Mas, não é que justamente ali, no meio da água, ia navegando um pedaço de tronco de árvore? Pois. Agarrou-se à madeira salvadora e esperou pelo socorro que, ao que se lembre, não demorou tanto. Foi por isso que, depois do acidente, aprendeu a nadar.

Nado como um peixe - completa.

De muitas coisas já não se lembra. Vive se esquecendo de coisas do dia-a-dia.  O passado vai e vem na memória, de muitos fatos faltando pedaços. Avisa que suas histórias podem ter interrupções, dai que pula de uma coisa a outra bem mais adiante porque o do meio, o entre as duas coisas, apagou-se na cabeça. Coisa de velho, completa.

Veio para o abrigo por decisão própria. A mulher morrera há algum tempo. Os filhos não queriam deixa-lo se mudar, de jeito nenhum. Mas, fez pé firme. Vida afora sempre foi sujeito de opinião forte. Veio porque quis, ninguém pode impedi-lo.

Não fala sobre os velhos do lugar. Não reclama da vida que diz ter sido muito boa. Passa os dias olhando para um pequeno lago. Contando marrecos. Tem hora que marreco parece gente. Ou gente é que parece marreco, diz.

É meu tio. Deixo-o na espreguiçadeira e sigo pelo corredor. Uma fileira de portas entreabertas, revelando quartos com velhos deitados ou sentados. Silêncio. Ouço apenas os meus passos num som que ali me parece ensurdecedor.

Na sala do médico. É um rapaz simpático, quase bonito. Informa que meu tio melhora da depressão. Já engole as cápsulas que antes cuspia. De tempos para cá voltou a comer bem. Se quisesse poderia voltar para casa. Mas, não quer. Que fazer se o homem simplesmente não quer ir embora?

No trânsito, dirigindo, penso em escolhas. Meu tio deu-se bem na vida, ganhou bom dinheiro no mundo dos negócios. De repente bateu nele o desânimo. Parece ter se cansado do mundo, quem sabe da v ida.  Então escolheu o isolamento na casa de repouso. Ali passa os dias, esperando.

Apocalipse

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No livro do Apocalipse João, discípulo de Jesus, narra visão na qual viu subir do mar uma Besta de sete cabeças e dez chifres. Semelhante a um leopardo a Besta tinha cabeça de leão e pés de urso. João também viu subir da terra uma segunda Besta com dois chifres de carneiro e mais poderosa que a primeira. A primeira Besta é o Anticristo que se voltará contra todos os cristãos remanescentes - aquele que não foram chamados por Cristo. A segunda Besta será um homem capaz de realizar prodígios, mas que blasfemará contra Jesus Cristo e mentirá. Seguir-se-ão os episódios descritos na Bíblia - livro do Apocalipse - que culminarão com o fim dos tempos.

O fim do mundo tem sido retratado em prosa e verso. Filmes sobre o Armagedom mostram a terra destruída e o desaparecimento do homem cujos erros são punidos no julgamento final. O Armagedom será a batalha final de Deus contra a sociedade humana iníqua representada pela união de todos os exércitos. Entretanto, nos últimos tempos o Armagedom tem sido interpretado como uma grande catástrofe ou uma guerra nuclear global.

O texto bíblico admite muitas interpretações segundo crenças e religiões existentes no mundo.  Entretanto, a possibilidade de um conflito no qual sejam usadas armas nucleares vez ou outra surge no horizonte como ameaça à perenidade do mundo. Aconteceu no período da Guerra Fria de EUA e União Soviética chegarem à iminência de um grave conflito. Na época temia-se pelo fim do mundo. O poder de destruição das bombas atômicas já tinha siso demonstrado em Hiroshima e Nagasaki. Entretanto, nos anos sessenta do século passado, as partes conflitantes já dispunham de bombas cujo poder de destruição em muito superava o das bombas lançadas no Japão ao fim da Segunda Guerra.

Agora o imprevisível ditador da Coréia do Norte segue em sua rota cada vez mais sem retorno. Contrariando apelos de toda a comunidade internacional Kim Jon Un segue com suas experiências com armas nucleares, colocando em risco não só seu país como outros povos que poderiam ser atingidos por mísseis de longo alcance. Para piorar a situação nos últimos dias o ditador testou uma Bomba H que fez explodir em nível subterrâneo. A explosão foi detectada por tremores de terra em várias partes do mundo.

Argumentos chamando à razão o ditador da Coreia do Norte tem-se revelado inúteis. Sistematicamente o ditador ignora apelos e prossegue em sua sanha que se mostra irreversível. Para os que consideram o Armagedom nada mais que uma peça de ficção o perigo real e iminente talvez funcione como aviso. O homem tem sim capacidade e poder para decretar o fim de sua espécie no planeta.

Dizendo bobagens

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Nesses tempos de politicamente correto é comum pessoas de destaque virem a público para desculparem-se por gafes cometidas. Apresentadores de televisão volta e meia saem-se com comentários fora de propósito e caem em desgraça nas redes sociais. Ai não tem remédio: resta-lhes vir a público para pedir perdão pelo tropeço cometido.

Nesta semana conhecido jornalista fez piada na TV sobre mulheres chorarem por causa de cebolas. Foi o que bastou para ser criticado, gerando, por parte dele, pedido de desculpas: fui ridículo e estou assumindo essa responsabilidade.

Outro caso, envolvendo o âncora do Jornal Nacional, gerou protesto. Ao comentar sobre um hacker americano o jornalista disse: cara de maluco ele tem, aqui para nós. No bloco seguinte foi obrigado a desculpar-se.

Há muitos outros casos. As redes sociais rapidamente se mobilizam na caça aos comentários tomados como ofensa. O fato é que, falando-se a sério ou não, hoje em dia ninguém pode se permitir algum descuido. Comentários inadequados tomados como ofensa a uma pessoa ou grupo geram reações. O pior é quando comentários sugerem a existência de preconceitos. Nesses casos a justa revolta dos que reclamam faz-se ouvir por toda parte.

Preconceitos existem e muitos. Raça, cor e sexo estão entre os mais comuns e relevantes. Discriminações de toda sorte são facilmente perceptíveis. A igualdade entre os homens é meta distante. Ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres…

Mas, por que tanta celeuma em relação a deslizes feitos em público? Na diversidade e velocidade com que fatos são divulgados a gênese de tantos constrangimentos. Qualquer pessoa tem à mão acesso imediato à uma rede social na qual pode expressar a sua opinião e rejeição aquilo que entenda como incorreto. Daí que, mais que nunca, torna-se necessário muito cuidado com o que se diz. Paredes têm ouvidos. Microfones levam a voz a todos os recantos do mundo.