2014 janeiro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para janeiro, 2014

Tempos de rolézinho

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Fui dos primeiros a me interessar pela internet. Aliás, quando os PCs começaram a ser vendidos no Brasil logo adquiri uma máquina – precária, mas era o que se dispunha na época. Na verdade utilizava-se o sistema DOS cujo aprendizado viria a me ser muito útil depois. Era a época pré-windows e quando se falava no programa da Microsoft não se entendia direito para que serviria. Uma plataforma na qual rodariam outros programas era coisa que não fazia muito sentido para quem nunca vira uma tela gráfica. Depois deu no que deu e aí vamos nós submissos aos computadores sem os quais parece que não sabemos mais viver.

A primeira vez que eu vi a internet foi no computador de um amigo. Era uma conexão DIAL-UP que deixava a linha telefônica ocupada durante o tempo de uso. Fazia-se um contrato de utilização com um provedor e passava-se a tentar conexões que quando se estabeleciam eram muito lentas. Na ocasião ele me falou maravilhas sobre a nova tecnologia e lutou muito no teclado para acessar o site museu do Louvre, sem conseguir. Achei aquilo algo desinteressante e pensei que jamais me meteria com a tal internet. Quem diria que hoje faço uso da rede durante boa parte do dia.

Obviamente, a internet é uma ferramenta e tanto e não é o caso de ficar aqui falando sobre suas conhecidas utilidades. Entretanto, nos últimos anos a internet têm estendido seus braços a toda sorte de usos, muitos dos quais perigosos. Basta lembrar de que qualquer pessoa corre o risco de ser vítima de um hacker ao utilizar seu computador pessoal. Números de cartões de crédito e senhas particulares são roubados por especialistas com alguma facilidade.

Entretanto, de tempos para cá a internet passou a ser o meio mais rápido e fácil de contatos entre pessoas. E-mails, Skype e muitos outros aplicativos permitem contatos instantâneos inclusive com a visão das imagens ao vivo das pessoas que se falam. Isso parece ser tão óbvio, mas não é para quem se lembra de que não faz muito tempo era-se obrigado a pedir à telefonista para que completasse uma ligação interurbana.

Em junho do ano passado a internet mostrou sua força com a eclosão de passeatas de protestos em várias cidades brasileiras. As reuniões eram marcadas através das redes sociais e milhares de pessoas compareciam aos locais de partida das multidões. Protestos, crimes e vandalismos misturam-se nas ruas, havendo vítimas. Pode-se dizer que sem a internet não teriam prosperado tantas manifestações simultâneas, muitas vezes umas inspirando-se nas outras.

Agora, eis que surge uma nova forma de arregimentação de pessoas. Trata-se dos chamados rolézinhos marcados pela internet e que consistem na reunião de muitos jovens, em geral mais de mil. Os rolézinhos acontecem em shoppings-centers onde de repente surge uma massa humana invasiva e incontrolável. O problema é que em meio aos bem intencionados misturam-se bandidos os quais muitas vezes depredam e assaltam postos de comércio.

Ninguém sabe ao certo o que fazer em relação aos rolézinhos. No fim de semana passado alguns shoppings impediram as reuniões de jovens com auxílio da polícia. Cenas lamentáveis de vandalismo e luta corporal foram vistas além da fuga desordenada da molecada que simplesmente não tinha ideia de para onde correr.

Eis aí um fato novo que tem na internet o ponto inicial de sua eclosão. Como agir diante de uma turba na qual se torna impossível separar o trigo do joio? Como assegurar o direito de ir e vir das pessoas e ao mesmo tempo coibir manifestações que tragam desconforto e prejuízos aos comerciantes e frequentadores de shoppings?

Não há resposta. Vi pela TV conhecido jornalista perguntando se a única solução não seria impedir que as reuniões fossem marcadas pela internet. Será isso possível? Ou se trata de algo impossível restando aos bons cérebros aplicar-se no sentido de coibir novos rolézinhos?

Talvez outra solução não exista além de esperar que a onda passe. Rolézinho parece ser moda e talvez daqui a pouco a turma se canse e parta para outra. Caso seja assim, espera-se que a “outra” não seja pior que a atual.

O Maranhão

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Com tristeza se leem notícias sobre o que se passa no Maranhão. Então a querida São Luís encontra-se sob o terror da insegurança e a população tem medo de sair às ruas? E isso debaixo daquele maravilhoso sol e diante de tanta formosura? Rapaz…

São Luís foi a penúltima capital brasileira que tive o prazer de conhecer. Faltavam-me justamente a capital maranhense e Manaus que ainda não conheço. São Luís realmente me surpreendeu. O acolhimento dos maranhenses, as belezas naturais, o centro antigo com os casarões de paredes ornadas com azulejos moldando desenhos inesquecíveis, o por do sol, as praias, a comida… Rapaz, aquilo é bom demais.

Terra hospitaleira o Maranhão, com suas peculiaridades. Ali se come um peixe preparado de modo que a meu ver dificilmente se encontra em outras partes do Brasil. Preparação e temperos próprios maranhenses conferem às peixadas sabores extasiantes que desafiam o paladar. E que dizer daquela praia na qual se entra com o carro, estacionando-se na própria barraca enquanto a maré não sobe? Soube que dias atrás os banhistas foram surpreendidos pela rapidez da alta da maré e muitos carros foram atingidos pelas águas do mar. Em vão tentaram socorrer-se nos bancos de areia, mas a rapidez da movimentação das águas apanhou-os.

Pois não se conhece bem o Maranhão se não se visitar Alcântara. Olhe que é bom ter estômago resistente a enjoo, porque a travessia de barco de São Luís a Alcântara se faz sob as vontades do mar que se agita sem avisar. Mas, chegando a Alcântara quanta beleza. De repente você se pega andando em ruas do passado, cercadas de prédios antigos. Belos e interessantes os museus de Alcântara, a natureza que se plasma com a visão belíssima do mar.

Inesquecíveis mesmo são os Lençóis Maranhenses jogo tramado entre areias e água que parece ter sido inventado por pura diversão do Criador. Terá Ele numa tarde de fastio imaginado criar algo diferente de tudo que existe na Terra, algo mutável onde qualquer teoria sobre a eternidade das coisas fosse colocado em cheque. Nos Lençóis a vida se mostra pequena diante da grandiosidade de algo que nunca termina porque se está sempre de cara com o começo. Vigora nesse labirinto de estranhas igualdades a magia das dessemelhanças numa paisagem que jamais se mostra igual. Caso estranho e único na Terra, daí que tanta gente de várias partes do mundo se aventure naqueles extremos onde o Sol impera e as areias lutam para encobrir as águas numa batalha sem solução. Depois, o por do Sol, festival de cores que douram e trazem maravilhas para os olhos dos homens cada vez mais apequenados diante de tamanha grandiosidade.

Eu ficaria falando sobre o Maranhão, mas paro. Na verdade protesto contra as administrações que permitem desmandos a ponto de tornar aquela terra fonte de horríveis noticias nas colunas policiais. Aí está o Maranhão encolhido aos olhos da opinião, transformado em terra de ninguém, sucumbindo ao crime organizado. Aí estão os tristes acontecimentos no presídio de Pedrinhas, arranhando a imagem de um Estado que a essa altura deve se envergonhar das pessoas que o administram.

Mas, isso vai passar porque o Maranhão é maior - muito maior - que tudo o que agora lá acontece.

O terço do Quirino

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O Quirino era o único policial da cidadezinha. Dele dependia a segurança dos cidadãos que, a bem da verdade, não confiavam muito na sagacidade dele. É que o Quirino era um tipo bonachão, propenso ao bom papo e cauteloso nas decisões. Vez ou outra prendia alguém que se excedera no álcool e deixava o bebum passar uma noite atrás das grades. De manhã soltava o gajo, não antes de fazer a ele um sermão sobre os males da bebida.

Certa ocasião espalhou-se a notícia de que estaria agindo na cidadezinha um perigoso ladrão.  Agia ele durante as madrugadas, surrupiando pertences como roupas penduradas nos varais. Também o acusavam de roubo de galinhas e uma mulher que morava um pouco afastada jurava que o ladrão havia levado de seu curral um porquinho ao qual muito estimava. O fato é que a presença de um gatuno num lugar onde nada acontecia encheu de temor as pessoas as quais, naturalmente, passaram a esperar que o policial Quirino o prendesse.

Entretanto, havia um obstáculo: ninguém jamais vira o ladrão e muita gente suspeitava que ele até mesmo não existisse. Mas, pior que isso, com o tempo aventou-se a hipótese de que o ladrão não seria de carne e osso, na verdade tratava-se de uma alma do outro mundo.

Quirino que fazia suas rondas no período da noite passou a estendê-las até as madrugadas. No começo levava consigo o revólver, a arma de fogo que, como dizia, metia medo em qualquer bandido. Quando se falou em alma do outro mundo Quirino passou a levar nas rondas, além do revólver, um terço.

Era curioso ver aquele homem fardado, ligeiramente gordo, andando pela rua com uma mão sobre o revólver e na outra um terço. Esteve assim durante algum tempo até que o ladrão foi esquecido e a vida noturna na cidadezinha voltou à tranquilidade de sempre.

Bons tempos aqueles em que o crime existia, mas não era frequente. Então, nos interiores do Brasil, nas pequenas cidades e lugarejos, vicejava a paz que hoje vai deixando de existir. Quase não se prestava atenção aos grandes crimes que ocorriam em capitais e mais raramente no interior. Não se noticiava, por exemplo, que num presídio do Maranhão comete-se todo tipo de atrocidades, conjunto de ações desumanas praticadas por gente que há muito deixou de lado os códigos que regem o convívio entre pessoas.

Pelo que fico pensando se o terço do Quirino talvez não viesse a ser um tipo e solução. Quem sabe o que anda faltando por aí não seja um terço ou algum objeto mágico capaz de restituir a ordem ao mundo e o bom-senso às pessoas. De todo modo algo precisa ser feito, porque de tempos para cá a situação fugiu ao controle e já se vive na fase do salve-se quem puder.

O homem-bomba

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Há um poema sobre o homem que acorda de manhã do dia em que vai morrer. Não me lembro de quem o escreveu e vez ou outra tento encontrá-lo. Para o homem que vai morrer escapa a possibilidade do fim da vida naquele dia de modo que ele segue normalmente sua rotina diária.

A rotina diária! Escovar os dentes, fazer a barba, um banho, pentear os cabelos, sentar-se para o apressado café da manhã porque lá fora o mundo o espera. Nada indica que, entretanto, cada coisa está sendo feita pela última vez. Nenhuma suspeita de que em cada gesto há uma desinteressada despedida, talvez o beijo na face da mulher que o acompanha à porta já não tenha o mesmo calor.

As circunstâncias da morte não importam. O homem da foice escolherá o momento, quem sabe no trajeto de casa até o serviço, talvez um acidente, pode mesmo acontecer por meio de uma traição do coração. Mas, não o seu, não? Não este coração que bate aí no seu peito, rítmico, organizado, trabalhando duro nas 24 horas do dia para mantê-lo vivo.

Em algum momento algo acontecerá e você será pego de surpresa, talvez nem mesmo tenha tempo para entender o que se passa. Dona Januária, vizinha da casa de minha mãe nos meus tempos de menino, dizia que entre este e o outro mundo existe uma corda que deve ser agarrada com força para facilitar a travessia. É fechar os olhos aqui e abri-los na mesma hora no outro lado, ensinava Dona Januária. Mas há que se agarrar bem à corda…

Mas, que dizer daqueles que escolhem o dia e a hora de morrer? Para esses a vida parece valer menos que a morte ou o último instante nada mais é que o início da travessia. Para onde foge o suicida? Mais simples saber-se sobre a razão da fuga porque àquele que se mata talvez pouco importe saber se existe algo depois da vida.

Entretanto, não há como compreender esse homem que se levanta de manhã para morrer por meio da explosão de bombas amarradas ao seu corpo. Esse homem que toma o café em sua última manhã no mundo e sai para uma missão sem retorno! Ele fará as bombas explodirem num lugar combinado, causando destruição e muitas mortes de pessoas ao acaso escolhidas. Será uma missão? Ou nada mais que a fé nascida de uma crença transcendental na qual tudo parece previsto, inclusive este último momento no qual as bombas são detonadas, estraçalhando em mil pedaços o corpo do homem ao qual estavam presas.

Um soldado do esquadrão antibombas aproxima-se de um homem amarrado cujo tórax está coberto por um colete com bombas.  Por algum motivo a explosão falhou e cabe ao soldado desativar os explosivos. Ele se aproxima do homem e corta os fios, eliminando o perigo.

É uma manhã como outra qualquer no Afeganistão. O homem-bomba é jovem e seus olhos nos miram estranhamente. Em pouco será levado para um campo de prisioneiros e sabe-se lá o que o futuro a ele reservará.

O homem-bomba falhou em sua missão. Dele ficou-nos essa foto de um ser humano trafegando perigosamente pela zona limítrofe, traído pelo olhar medroso dos que viram a morte de muito perto, mas escaparam milagrosamente sabe-se lá por qual razão.

Entretanto, talvez o homem-bomba que não morreu não tenha sido voluntário, mas forçado a se sacrificar. Hoje se divulga o caso de uma menina de 10 ou 11 anos forçada pelo Taleban a cometer um atentado suicida.  Consta que ela foi forçada pelo irmão a colocar o colete suicida para que explodisse em frente a um posto policial. Entretanto, no trajeto até o local onde ocorreria a explosão havia um rio que deveria ser atravessado. A menina não se julgou capaz da travessia, abortando o plano. Ao chegar a casa apanhou do pai por não ter completado a missão. Então fugiu e entregou-se à polícia. Vivinha da Silva.

Dando-se mal

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Quatro assaltantes invadiram a casa de um lutador de MMA no Estado do Novo México. Joseph Torrez, o lutador, estava em casa com a mulher, o filho e outra mulher. O problema para os assaltantes foi que Torrez reagiu ao assalto, entrando em luta corporal com eles. Disso resultou a morte de um dos assaltantes. Outro ficou ferido e está hospitalizado. Dois conseguiram fugir, mas já foram capturados pela polícia. O advogado de Torrez não acredita que ele venha a ser processado pela morte do bandido que invadiu sua casa. Segundo o advogado, Torrez lutou pela própria vida, nada mais fez do que defender a si e sua família.

Esse fato levou-me a outro, ocorrido em data que não sei precisar. Em cidade do interior vivia um turco brigão que adorava dar sopapos nos outros. O turco era preparado e muito forte daí não perder oportunidades para comprar uma briga. Desse modo tornou-se conhecido em sua região e consta que com ele ninguém se metia.

Aconteceu a esse turco estar em viagem a São Paulo e jantar num restaurante da cidade. Estava ele à mesa, jantando, quando sentiu o esbarrão de um homem que prontamente se desculpou. Esbarrara inadvertidamente ao passar pela mesa, por isso desculpava-se. Mas, o turco brigão de modo algum se mostrou inclinado a aceitar as desculpas. Levantou-se da mesa pronto para a luta: não perderia a oportunidade de dar uns safanões naquele sujeito educado que esbarrara nele.

Entretanto, as coisas não saíram do modo a que o turco estava acostumado. Ao agredir o adversário recebeu uma grande profusão de socos. Apanhou muito o turco brigão que, segundo se diz, depois disso tratou de amansar o seu temperamento agressivo.

Consta que o homem que bateu no turco era Raph Zumbano na época campeão brasileiro e sul-americano de boxe.  Zumbano era tio do nosso incomparável Eder Jofre que tantas glórias trouxe ao país com a conquista de dois títulos mundiais em categorias diferentes.

Esse caso ouvi de um parente com quem mantinha longas conversas no passado. Dizia ele ter conhecido bem o turco e afiançava a veracidade de sua narrativa. Não sei se de fato o caso aconteceu. Mas creio que isso já não importe, estando mortas as pessoas envolvidas e até mesmo o narrador da história.

O Mordomo da Casa Branca

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Eis aí um filme que nos deixa na curiosa condição de não saber se o melhor é falar bem ou mal dele. Isso se explica: o filme é atraente, o roteiro interessante e melhor ainda a atuação dos atores; do lado ruim fica a direção exagerada do diretor Lee Daniels que tentou inserir apressadamente mais de meio século da vida norte-americana no curto espaço de duração do filme. Mas, aos fatos:

Forest Whitaker interpreta Cecil Gaines, um negro que ainda menino assiste ao assassinato de seu pai durante o trabalho num campo de algodão. Baliza-se aí o tema do filme que é o racismo, a opressão aos negros cujos direitos civis não são respeitados. O assassinato do pai de Gaines faz parte de uma terrível coleção de atos violentíssimos praticados contra a comunidade negra, incluído-se as agressões e mortes provocadas por membros da Ku Klux Klan.

Treinado para se tornar um bom “preto da casa” o menino cresce e acaba fugindo da fazenda de algodão. Após tornar-se garçom em bares sofisticados Gaines acaba sendo convidado a tornar-se mordomo da Casa Branca.

A partir dai tem início a trajetória de um homem que durante anos serve aos presidentes que passam pela Casa Branca. Cecil adota o comportamento padrão para o cargo que ocupa o qual se resume em não ouvir o que se fala no palácio e, principalmente, não emitir nenhuma opinião. Trata-se daquele detestável “saber o seu lugar” e nisso se resume toda a atuação do mordomo da Casa branca.

Mas, o filme perderia o interesse se ficasse só nisso. O diretor Lee Daniels enriquece a trama fazendo Gaines presenciar - não participar – dos grandes momentos que abalaram a vida norte-americana como o assassinato de Kennedy, a renúncia de Nixon e o atentado contra Ronald Reagan entre outros. Obviamente, Cecil Gaines está presente em momentos cruciais nos quais se discutem ações contra os levantes racistas no sul, quase todos eles vitimando negros.

O outro polo da vida de Gaines é o familiar no qual sua mulher, interpretada por Oprah Winfrey, faz o papel de dona de casa, a mulher responsável pelos afazeres domésticos que cuida dos filhos e ama o marido. Ela segura os problemas familiares enquanto o bom e honesto marido trabalha.  Mas, as coisas não são fáceis para o bom Cecil Gaines que perde o seu filho mais novo na Guerra do Vietnã e enfrenta problemas com o filho mais velho o qual participa ativamente de protestos contra o racismo. Da trajetória desse filho destacam-se ligações com Martin Luther King Jr e mesmo com a luta dos Panteras Negras do extremado Malcolm X.

A visão rápida e superficial de grandes acontecimentos, certos deslizes como mostrar o presidente Lyndon Johnson sentado na privada e Nixon descabelado após Watergate, realmente deslustram a produção. Mas, há que render à excelência da interpretação dos atores, em particular Forest Whitaker que a cada dia parece melhor em sua arte. Oprah Winfrey desempenha com perfeição papel de dona de casa e há outras ótimas atuações como a de Cuba Jr.

Finalmente, não há como ignorar o presente oferecido por Lee Daniels ao presidente Obama. A eleição de um negro à presidência dos EUA surge como conquista final de uma raça que após muito sofrimento e perseguições, chega ao topo. A emoção de Cecil Gaines no momento da declaração de vitória de Obama e a própria figura do presidente com o seu “Yes, we can” também representam a vitória de um homem simples, patriota, que serviu a seu modo ao seu país e dele se orgulha.

“O Mordomo da Casa Branca” não deixa de ser um bom filme do qual o espectador não se desliga facilmente. Teria sido melhor caso o diretor Daniels tivesse tratado com mais cuidado as situações negativas anteriormente citadas.

Eusébio

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Eusébio, maior jogador do futebol português, morreu ontem. Tinha 71 anos de idade e desde 2011 apresentava problemas de saúde.

Para nós, brasileiros, Eusébio será sempre inesquecível. Foi ele o grande nome da Copa de 1966 na qual a seleção portuguesa conseguiu o terceiro lugar. Desde então Eusébio tem sido considerado como um dos principais carrascos do futebol brasileiro. Há outros, bastando lembrar os nomes de Ghiggia e Paolo Rossi. Ghiggia, uruguaio, fez o gol da vitória na final da Copa de 50. O Uruguai sagrou-se campeão do mundo diante de 200 mil brasileiros incrédulos. Paolo Rossi fez três gols na grande seleção comandada por Telê em 1982. Ainda hoje se discute se aquela seleção brasileira não teria sido a maior de todos os tempos. Maior ou não foi derrotada pela Itália, consolidando-se uma tragédia amarga para a torcida verde-amarela. O jogo ficou conhecido como a “Tragédia de Sarriá” e a derrota considerada como  a segunda  maior da história do futebol brasileiro - a primeira foi a do jogo de 1950 contra o Uruguai.

Eusébio estraçalhou o Brasil na Copa de 1966. Foram dolorosos 3 X 1 para Portugal e olhe que a seleção nacional não era uma qualquer: o time contava com astros como Pelé e Jairzinho.  O Brasil fora campeão em 58 e 62 e seria favorito em 1966 não fosse a grande desorganização na preparação para a Copa. Eusébio fez dois gols e mandou o Brasil para casa. Inacreditável. Voltaríamos fortes e desacreditados em 1970 quando aquela maravilhosa seleção conquistou o tricampeonato.

Os grandes ídolos do esporte marcam épocas. Alguns deles são eternizados, tamanha é a dimensão de seus feitos que não saem das memórias dos que os viram jogar.

Acompanhamos pelo rádio o jogo de 1966 contra Portugal. Naquela época não se realizavam transmissões internacionais via satélite. Só quatro anos depois, na memorável vitória de 1970, veríamos o selecionado brasileiro ao vivo e a cores, conquistando mais uma Copa do Mundo.

De Eusébio ficam aqueles dois inesquecíveis gols que arrebentaram com a gente e para sempre serão lembrados. Não é sem razão que os portugueses hoje choram a despedida do craque. Eusébio foi grande dentro das quatro linhas e merece as homenagens que recebe no momento de sua morte.

Calor

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Você ouve que nos EUA tempestades de neve causam estragos e se pergunta por que, afinal, o Criador não fez um mundo mais homogêneo no qual temperaturas médias mais agradáveis perdurassem durante todo o ano.

Estamos aqui, abaixo do Equador, sob um calor realmente formidável. Temperaturas acima dos 40 graus, sensação térmica de 50 graus! Haja saúde para passar incólume por tamanha provação. E pensar nos milhares de carros parados nos intermináveis congestionamentos nas rodovias que conduzem ao litoral. Do que me certifico de que,  afinal, o ser humano gosta de sofrer.

Falei sobre essa tendência a aceitar o sofrimento a um amigo. Ele franziu o cenho e taxou o meu raciocínio de simplista. Disse que só a certeza de que um dia o sofrimento acaba permite que ele se torne aceitável. Depois da chuva segue-se a bonança, depois do sofrimento, a felicidade. Não teria eu ainda reparado que nesse mundo tudo é cíclico?

Não sei não. No homem parado horas no trânsito sob um sol inclemente, certamente predomina o espírito da compensação que virá quando estiver na praia e aproveitar as delícias do mar. Mas, no sofrimento real, aquele da perda de um ente querido, por exemplo, haverá um real sentido nessa submissão a tão grande provação?

O calor excessivo não chega a ser um sofrimento para mim. Mas, não deixa de ser um incômodo. Essas madrugadas nas quais nem mesmo o ar condicionado dá conta e torna- se difícil dormir são terríveis. Mas que fazer se estamos imersos em algo sobre o que não temos nenhum controle como essa onda de calor que sabe-se lá quando vai passar?

Tempestades de neve nos EUA, temperaturas altas no sudeste do Brasil. Não seria possível um meio termo?

Como nada se pode mesmo fazer, o jeito é agüentar e sobreviver. Mas,  que seja bem ao nosso modo: ar condicionado, gelados em profusão, banhos frios e, se possível, um boa piscina. Para quem gosta recomendam-se as praias, embora estejam lotadas e obriguem os banhistas a lutar por um metro quadrado de espaço.

Vista de cima, assim do alto, aquela enorme procissão de guarda-sóis acampada nas praias até que é bem bonita.

Escrito por Ayrton Marcondes

5 janeiro, 2014 às 12:09 pm

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