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O Mordomo da Casa Branca

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Eis aí um filme que nos deixa na curiosa condição de não saber se o melhor é falar bem ou mal dele. Isso se explica: o filme é atraente, o roteiro interessante e melhor ainda a atuação dos atores; do lado ruim fica a direção exagerada do diretor Lee Daniels que tentou inserir apressadamente mais de meio século da vida norte-americana no curto espaço de duração do filme. Mas, aos fatos:

Forest Whitaker interpreta Cecil Gaines, um negro que ainda menino assiste ao assassinato de seu pai durante o trabalho num campo de algodão. Baliza-se aí o tema do filme que é o racismo, a opressão aos negros cujos direitos civis não são respeitados. O assassinato do pai de Gaines faz parte de uma terrível coleção de atos violentíssimos praticados contra a comunidade negra, incluído-se as agressões e mortes provocadas por membros da Ku Klux Klan.

Treinado para se tornar um bom “preto da casa” o menino cresce e acaba fugindo da fazenda de algodão. Após tornar-se garçom em bares sofisticados Gaines acaba sendo convidado a tornar-se mordomo da Casa Branca.

A partir dai tem início a trajetória de um homem que durante anos serve aos presidentes que passam pela Casa Branca. Cecil adota o comportamento padrão para o cargo que ocupa o qual se resume em não ouvir o que se fala no palácio e, principalmente, não emitir nenhuma opinião. Trata-se daquele detestável “saber o seu lugar” e nisso se resume toda a atuação do mordomo da Casa branca.

Mas, o filme perderia o interesse se ficasse só nisso. O diretor Lee Daniels enriquece a trama fazendo Gaines presenciar - não participar – dos grandes momentos que abalaram a vida norte-americana como o assassinato de Kennedy, a renúncia de Nixon e o atentado contra Ronald Reagan entre outros. Obviamente, Cecil Gaines está presente em momentos cruciais nos quais se discutem ações contra os levantes racistas no sul, quase todos eles vitimando negros.

O outro polo da vida de Gaines é o familiar no qual sua mulher, interpretada por Oprah Winfrey, faz o papel de dona de casa, a mulher responsável pelos afazeres domésticos que cuida dos filhos e ama o marido. Ela segura os problemas familiares enquanto o bom e honesto marido trabalha.  Mas, as coisas não são fáceis para o bom Cecil Gaines que perde o seu filho mais novo na Guerra do Vietnã e enfrenta problemas com o filho mais velho o qual participa ativamente de protestos contra o racismo. Da trajetória desse filho destacam-se ligações com Martin Luther King Jr e mesmo com a luta dos Panteras Negras do extremado Malcolm X.

A visão rápida e superficial de grandes acontecimentos, certos deslizes como mostrar o presidente Lyndon Johnson sentado na privada e Nixon descabelado após Watergate, realmente deslustram a produção. Mas, há que render à excelência da interpretação dos atores, em particular Forest Whitaker que a cada dia parece melhor em sua arte. Oprah Winfrey desempenha com perfeição papel de dona de casa e há outras ótimas atuações como a de Cuba Jr.

Finalmente, não há como ignorar o presente oferecido por Lee Daniels ao presidente Obama. A eleição de um negro à presidência dos EUA surge como conquista final de uma raça que após muito sofrimento e perseguições, chega ao topo. A emoção de Cecil Gaines no momento da declaração de vitória de Obama e a própria figura do presidente com o seu “Yes, we can” também representam a vitória de um homem simples, patriota, que serviu a seu modo ao seu país e dele se orgulha.

“O Mordomo da Casa Branca” não deixa de ser um bom filme do qual o espectador não se desliga facilmente. Teria sido melhor caso o diretor Daniels tivesse tratado com mais cuidado as situações negativas anteriormente citadas.