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Tempos de rolézinho

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Fui dos primeiros a me interessar pela internet. Aliás, quando os PCs começaram a ser vendidos no Brasil logo adquiri uma máquina – precária, mas era o que se dispunha na época. Na verdade utilizava-se o sistema DOS cujo aprendizado viria a me ser muito útil depois. Era a época pré-windows e quando se falava no programa da Microsoft não se entendia direito para que serviria. Uma plataforma na qual rodariam outros programas era coisa que não fazia muito sentido para quem nunca vira uma tela gráfica. Depois deu no que deu e aí vamos nós submissos aos computadores sem os quais parece que não sabemos mais viver.

A primeira vez que eu vi a internet foi no computador de um amigo. Era uma conexão DIAL-UP que deixava a linha telefônica ocupada durante o tempo de uso. Fazia-se um contrato de utilização com um provedor e passava-se a tentar conexões que quando se estabeleciam eram muito lentas. Na ocasião ele me falou maravilhas sobre a nova tecnologia e lutou muito no teclado para acessar o site museu do Louvre, sem conseguir. Achei aquilo algo desinteressante e pensei que jamais me meteria com a tal internet. Quem diria que hoje faço uso da rede durante boa parte do dia.

Obviamente, a internet é uma ferramenta e tanto e não é o caso de ficar aqui falando sobre suas conhecidas utilidades. Entretanto, nos últimos anos a internet têm estendido seus braços a toda sorte de usos, muitos dos quais perigosos. Basta lembrar de que qualquer pessoa corre o risco de ser vítima de um hacker ao utilizar seu computador pessoal. Números de cartões de crédito e senhas particulares são roubados por especialistas com alguma facilidade.

Entretanto, de tempos para cá a internet passou a ser o meio mais rápido e fácil de contatos entre pessoas. E-mails, Skype e muitos outros aplicativos permitem contatos instantâneos inclusive com a visão das imagens ao vivo das pessoas que se falam. Isso parece ser tão óbvio, mas não é para quem se lembra de que não faz muito tempo era-se obrigado a pedir à telefonista para que completasse uma ligação interurbana.

Em junho do ano passado a internet mostrou sua força com a eclosão de passeatas de protestos em várias cidades brasileiras. As reuniões eram marcadas através das redes sociais e milhares de pessoas compareciam aos locais de partida das multidões. Protestos, crimes e vandalismos misturam-se nas ruas, havendo vítimas. Pode-se dizer que sem a internet não teriam prosperado tantas manifestações simultâneas, muitas vezes umas inspirando-se nas outras.

Agora, eis que surge uma nova forma de arregimentação de pessoas. Trata-se dos chamados rolézinhos marcados pela internet e que consistem na reunião de muitos jovens, em geral mais de mil. Os rolézinhos acontecem em shoppings-centers onde de repente surge uma massa humana invasiva e incontrolável. O problema é que em meio aos bem intencionados misturam-se bandidos os quais muitas vezes depredam e assaltam postos de comércio.

Ninguém sabe ao certo o que fazer em relação aos rolézinhos. No fim de semana passado alguns shoppings impediram as reuniões de jovens com auxílio da polícia. Cenas lamentáveis de vandalismo e luta corporal foram vistas além da fuga desordenada da molecada que simplesmente não tinha ideia de para onde correr.

Eis aí um fato novo que tem na internet o ponto inicial de sua eclosão. Como agir diante de uma turba na qual se torna impossível separar o trigo do joio? Como assegurar o direito de ir e vir das pessoas e ao mesmo tempo coibir manifestações que tragam desconforto e prejuízos aos comerciantes e frequentadores de shoppings?

Não há resposta. Vi pela TV conhecido jornalista perguntando se a única solução não seria impedir que as reuniões fossem marcadas pela internet. Será isso possível? Ou se trata de algo impossível restando aos bons cérebros aplicar-se no sentido de coibir novos rolézinhos?

Talvez outra solução não exista além de esperar que a onda passe. Rolézinho parece ser moda e talvez daqui a pouco a turma se canse e parta para outra. Caso seja assim, espera-se que a “outra” não seja pior que a atual.