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Os espelhinhos safados

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Lá pelos anos 50 do século passado era comum que homens carregassem um pente no bolso. Pente dobrável, naturalmente, enfiado no bolso traseiro da calça, daí sofrer a pressão provocada pelo peso do corpo quando o dono se sentava. De modo que o jeito era testar bem o pente na hora de comprá-lo na farmácia. O balconista trazia o pente e o comprador tentava dobrá-lo, aproximando as pontas. O negócio era fechado quando o pente passava no teste e o feliz comprador, agora proprietário, podia usá-lo para ajeitar o topete. Não custa lembrar de que por esse tempo o uso da brilhantina ainda estava em alta. O sujeito comprava um pote da famosa “Brilhantina Glostora” e “englostorava” o cabelo que ficava bem assentado na cabeça, brilhoso, bem ao gosto do freguês. A boa aparência era finalizada com a barba feita cuidadosamente com uma gilete introduzida num barbeador de metal. Não se fazia ideia de que mais tarde surgiriam no mundo os barbeadores de plástico e mesmo esses elétricos que hoje estão à disposição dos barbados que andam por aí.

Obviamente, pentear os cabelos exigia dar uma olhada neles para ajeitá-los a gosto. De modo que muita gente também trazia no bolso os tão úteis espelhinhos, redondos e pequenos, que também cabiam no bolso da frente na calça ou nalgum outro dos paletós e blusas. Esses espelhinhos tinham outra função entre a molecada que os usavam de modo, digamos, inconveniente. A prática consistia em jogar os espelhinhos no chão, embaixo das saias das meninas. O objetivo era dar uma olhada na parte de baixo do corpo, em geral vendo-se as calcinhas em rápido relance. As meninas odiavam os tais espelhinhos e olhe que alguns moleques eram muito hábeis na prática de jogá-los. Numa época que ver mulher pelada em fotografias era de todo impossível o jogo da sexualidade se processava em lances como esse.

Hoje em dia o sexo é mostrado sem pudor em qualquer lugar. Meninos podem ver mulheres seminuas e mesmo nuas nas bancas de jornal, em filmes da TV e revistas que os pais trazem para casa. Que se saiba ninguém mais anda por aí com espelhinhos no bolso em busca da oportunidade de dar uma olhada nas calcinhas das mulheres. Talvez por isso cause tanta estranheza a notícia sobre esse homem de 51 anos que foi preso em Natal após ser flagrado filmando uma mulher de saia num supermercado. A técnica usada por ele foi muito semelhante à do uso dos espelhinhos: ele colocou uma câmera numa cesta de compras para filmar por baixo do vestido as clientes do supermercado. Ele já havia filmado outras mulheres quando clientes perceberam e chamaram a polícia. Obviamente o homem negou que tivesse filmado as partes íntimas das mulheres, mas seu pen drive e a câmera foram apreendidos e serão periciados pela polícia.

Caso o infrator venha a ser condenado ele poderá pagar multa e pegar até dois meses de prisão. Fica bem barato, portanto, invadir a privacidade alheia com séria ofensa ao pudor.