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A derrota

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Quando pequenos é difícil acostumar-se com a ideia de derrota. Meu neto torce para o São Paulo que experimenta prolongada má fase. O time não conquista nada a bom tempo. Somam-se fracas atuações isso para desespero da grande torcida tricolor. Meu neto tem oito anos e sofre com o time. Dias atrás desesperou-se quando o São Paulo tomou um gol logo no início de uma partida.

Para mim as derrotas vieram muito cedo. Era muito pequeno quando do 4×2 da Hungria sobre o Brasil na Copa de 1954. Fiquei sabendo depois, mas passei os anos seguintes acreditando que o Brasil fora espoliado por um certo Mr. Ellis, árbitro da partida. Era comum afirmar-se sobre um ladrão quando de algum roubo: “deu uma de Mr. Ellis”.

Mas, a verdade acabou por se impor. Aquela seleção húngara era o que havia de melhor. Tinha, entre outros, o grande Puskas. O Brasil contava com grandes jogadores, mas ainda sem a organização que seria vitoriosa em 58.

Numa época em que a todo custo precisávamos granjear projeção internacional - Brasil desconhecido, terra do arco e flecha - eram poucos os ícones de representatividade reconhecida no exterior. Eder Jofre, boxer peso galo, ídolo no país, seguia com sua carreira de campeão mundial. Pois me vem nítida a memória do dia em que Eder enfrentou, no Japão, Fighting Harada. A luta se travou na noite japonesa, manhã no Brasil. Eu acabara de desembarcar do bonde da Estrada de Ferro Campos do Jordão no qual viajava, diariamente, para frequentar as aulas do ginásio local. Ainda na plataforma da estação ouvi pessoas falando sobre a derrota de Eder. Perdera por pontos com jurados parciais. Até hoje se discute se o resultado foi correto. Eder era o campeão, talvez o melhor teria sido o empate. Mas, estava-se no Japão que queria e ficou com o título.

Não há como descrever a tristeza do rapazote sentado num dos bancos da estação. Eder fora derrotado. Resultado inaceitável, fosse pelo que fosse.

Mal sabia eu que ali se iniciava o longo período da vida no qual vitórias e derrotas se alternariam de modo sempre surpreendente. Entretanto, ainda não consigo aceitar derrotas como acontecimentos “normais”. O ser humano não foi gerado para o fracasso, essa a índole de uma espécie afinal vencedora no planeta.

Domingo passado, ao presenciar meu neto constrangido diante do gol sofrido pelo São Paulo, me vi inclinado a dizer a ele que, afinal, a vida é isso mesmo, vitórias e derrotas viriam. Mas, me calei. Será o futuro a dizer e ensinar a ele as regras desse jogo confuso que é estar vivo.