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Sentindo-me mal

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Nunca me esqueci de um homem a quem conheci numa CTI de hospital. Estava no balão de oxigênio e apresentava grande dificuldade em respirar. Fumante inveterado atingira aquela fase em que o enfisema ocupara grande parte da área pulmonar, fato irreversível. Tosse e secreções abundantes delineavam um quadro triste e terminal. Quando me aproximei dele tive que apurar a audição para entender o que me dizia. O paciente terminal implorava por um cigarro. Sabia-se no fim da linha que mal faria a ele mais um cigarro?

Um meu conhecido já falecido, também fumante inveterado, certa vez me falou sobre um remorso que vez ou outra o atormentava. O pai dele tivera câncer pulmonar e, já muito doente, implorou ao filho por um cigarro. Não queria morrer o velho sem mais algumas tragadas. O filho atendeu-o, deu-lhe o cigarro que o pai tragou profundamente. Estava o pai a fumar quando parentes entraram no quarto. Imediatamente recriminaram o meu conhecido por atitude tão irresponsável. O pior foi o pai falecer ao final do mesmo dia, morte essa atribuída pela família ao fato de ter fumado estando tão doente.

Ter ou não provocado a imediata morte do pai era o que atormentava ao meu conhecido. Pesava a ele a culpa embora não se arrependesse de ter satisfeito ao último pedido do pai. De nada adiantou dizer a ele que seu pai morreria de qualquer modo tal era o estado em que se encontrava. Mas, cada um tem a sua cabeça e há circunstâncias nas quais os sentimentos pesam mais que a racionalidade.

Meu pai dizia que quando jovens não somos exatamente capazes de avaliar em profundidade o sofrimento. Segundo ele nas pessoas jovens o mal estar passa depressa e logo se torna à situação de equilíbrio do organismo. Excetuam-se, logicamente, as doenças graves que acometem jovens.  Segundo meu pai na velhice os sintomas tomam outra dimensão porque há sempre o temor de que se tornem duradouros. Uma coisa é você passar mal, vomitar, ficar tonto etc. e esses sintomas logo passarem. Outra é saber que amanhã tudo se repetirá porque o mal que progride não permite esperanças de melhoras.

Pensei nisso na noite passada quando não passei bem devido, talvez, à ingestão de algo que não me caiu bem. Imaginei a possibilidade dos sintomas que experimentava se tornarem duradouros. Eis aí, bem estabelecida, uma situação de introdução ao desespero.

Mas, acordei bem. O dia abriu-se bonito, muito sol, manhã clara, claríssima. Tomei o meu café, satisfeito, e agarrei-me à vida como alguém que a todo transe nem sonha com a possibilidade de perdê-la.