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Cidades pequenas

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Existem por este Brasil afora incontáveis pequenas cidades. Há algum tempo fui a Ouro Preto, seguindo por estrada que passa por São João Del Rei. Não sei dizer o nome das cidades pelas quais passei após sair do Estado de São Paulo e passar por Caxambu. Todas elas com casas mais ou menos iguais enfileiradas em ambos os lados das ruas, raramente um prédio que em geral não passa de quatro andares. As pessoas caminham preguiçosamente sem a pressa a que nos habituamos em nossos dias nas metrópoles. A vida parece se passar em câmera lenta, com os fatos corriqueiros de sempre, os compadrios, os casamentos entre filhos de gente que se conhece. Os sinos das igrejas badalam chamando os fiéis, as festas paroquiais se repetem a cada ano com o mesmo brilho do passado. Permanece o modo de ser e encarar as coisas das gerações anteriores, embora a constante influência dos programas de televisão que refletem a vida das cidades grandes e tratam o mundo sob o ângulo do que nelas acontece.

Nas pequenas cidades temos a oportunidade de constatar com mais clareza a brevidade da vida e o movimento de gerações que se sucedem. Se você nasceu numa pequena cidade e costuma periodicamente visitá-la terá constatado que as pessoas mais velhas que conheceu, quando criança, provavelmente já desapareceram. Em lugar de muitas delas agora estão os filhos os quais também envelheceram de modo que torna-se comum você responder a um cumprimento sem identificar a pessoa que o cumprimentou. O mais interessante é que as pessoas do lugar reconhecem muito bem a você que é filho de fulano, neto de sicrano. O mesmo não acontece com você que se mudou há tanto tempo e já não reconhece pessoas com quem conviveu na infância.

Mas, o que mais impressiona é o fato de que, na verdade, pouca gente do seu tempo ainda existe na cidade. Décadas se passaram e uma nova gente apareceu no lugar de modo que agora você pode andar pelas ruas sendo tomado por estranho em sua própria terra natal.

Aconteceu-me ir a um depósito de materiais de construção em minha cidade natal. Eu precisava de uma janela de alumínio e o rapaz que me atendeu apresentou-me alguns tipos. Ora o depósito pertencera a um homem de quem privei convívio durante bom tempo. A certa altura perguntei ao rapaz sobre o Barbosa, o dono do depósito. Ele me olhou com curiosidade e revelou ser neto do Barbosa. Então perguntei a ele sobre o seu avô e fiquei sabendo que o Barbosa morrera há já algum tempo. Deppis me deu notícia da morte de algumas outras pessoas “do tempo do meu avô”.

Sai do depósito com um nó na garganta. Experimentei a sensação de que o mundo que conheci estava se desfazendo depressa e que, em futuro não muito distante, alguém poderia perguntar a meu neto sobre mim. Mas, depressa deixei de lado esse modo de pensar porque há que se agarrar à vida para que ela não se desfaça de nós.