reclamações de vizinhos at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para ‘reclamações de vizinhos’ tag

O barulho que incomoda

escreva o seu comentário

Leio que síndicos de condomínios declaram que o maior problema que enfrentam são as reclamações de vizinhos por conta de barulho. Há pessoas que não suportam que sua casa ou apartamento seja invadido por qualquer ruído vindo de fora. Eu que morei em vários lugares tenho uma lista de reclamações entre vizinhos que muitas vezes chegam a brigas e geram ódios imorredouros.

Há alguns anos me mudei para um apartamento e logo nos primeiros dias começaram as reclamações da vizinha de baixo quanto ao grande barulho que fazíamos. Reclamava ela da algazarra de crianças, do ruído da minha furadeira, do salto dos sapatos da minha mulher etc. De nada adiantou explicar ao síndico que morávamos ali apenas eu e minha mulher, sem crianças, que eu não usava furadeira etc. Ainda assim, a vizinha enviou cartas à empresa administradora do condomínio e, certo dia, recebi uma advertência escrita à qual se seguiu a multa no valor de um mês de condomínio. Eu me tornara um vizinho indesejável, barulhento, incontrolável. E dizer que eu minha mulher saíamos cedo para trabalhar e só retornávamos à noite, cansados e sem tempo e disposição para amolar ou ser amolado por alguém.

As coisas foram se complicando. Tínhamos no andar de baixo uma inimiga que nos odiava e extremamente vigilante, rápida para telefonar à portaria, reclamando até do barulho do chuveiro que dizia ouvir e que a incomodava. Isso durou até que ela, em desespero, passou a ligar diretamente para a minha casa reclamando. Eu a atendi duas vezes e tentei ser educado. Na terceira a minha mulher perdeu a paciência, explodiu com a vizinha, disse-lhe o diabo e não é que depois disso nunca mais recebemos nenhuma reclamação?

No jornal um psicanalista escreve que odiamos no nosso vizinho a beleza dele, as festas que dá, a felicidade que ele tem e nós não temos. Por isso reclamamos. Outra pessoa diz que hoje em dia o stress da vida cotidiana, os ruídos que ouvimos queiramos ou não, criam uma espécie de estado de tensão no qual passamos a inventar barulhos que não acontecem. Um síndico corrobora essa teoria relatando que após receber muitas reclamações de uma senhora sobre ruídos de seu vizinho foi ao apartamento dela, ás 4 da manhã, para ouvir a barulhada. Sentou-se no sofá e, a certa altura, a mulher perguntou a ele se estava ouvindo os barulhos no apartamento ao lado. Diz o síndico que reinava silêncio absoluto e, ainda assim a mulher insistia sobre a balbúrdia que acontecia no seu vizinho.

No prédio onde moro, recentemente instalaram um apito que toca toda vez que se abrem os portões para entrada e saída de carros. Esse apito de advertência a quem está na calçada tem-se tornado verdadeiro inferno, provocando reclamações dos condôminos. Aquilo toca durante a madrugada e não para depois das 6 horas da manhã, acordando todo mundo. Já perguntei ao síndico se não dá ao menos para abaixar um pouco o som do apito de vez que o prédio conta com sinais luminosos que acendem toda vez que um veículo atravessa o portão. O síndico diz que se trata de uma exigência da prefeitura e não dá a mínima quando digo que ando pela cidade e não tenho ouvido som igual em portarias de outros prédios.

Ruídos incomodam e pronto. Na Austrália acaba de ser feita uma pesquisa sobre o ruído mais irritante. Na opinião dos entrevistados o pior é o gerado pela raspagem de uma garrafa com faca. Em segundo lugar ficou o ruído de unhas sobre o quadro-negro das salas de aula.

Não sei não. Cada pessoa tem lá um ruído secreto que mais a irrita. Para mim talvez seja o dos dedos que deslizam sobre bexigas de festas quando cheias. Digo isso, mas recentemente vi uma criança espremendo uma bexiga e não é que não me incomodei com aquilo?

Noite de Oscar

escreva o seu comentário

Acordo com o interfone tocando. São quase sete horas da manhã de segunda-feira e maldigo quem está ligando a essa hora. Mas, o que poderia ser de tão urgente e importante?

Atendo: é o zelador. Ele me pergunta sobre um motor que esteve ligado em meu apartamento durante toda a madrugada. Diz que o tal motor em funcionamento, além do barulho, era acompanhado de vibrações, daí ninguém ter dormido no prédio.

Bem, eu nem tinha acordado direito e já havia uma rebelião de condôminos contra mim e o meu motor. Meu motor? Mas que motor? Expliquei ao zelador que feliz ou infelizmente não tenho nenhum motor estranho em casa. Nem estranho, nem normal. Mas, o homenzinho insistia que o barulho ensurdecedor vinha do meu apartamento, disso ele tinha certeza.

Eu ia convidar o zelador para fazer uma revista no meu apartamento para confirmar a inexistência de motor. Mas, acabei desligando, achando que minha palavra deveria bastar. Demais, aguento barulho de vizinhos sem reclamar, portanto que se danassem todos.

Voltei para a cama, mas tinha despertado de vez. Estava curioso quanto à origem do tal barulho de motor que, afinal, eu não tinha ouvido durante a madrugada. E se a minha casa tivesse sido visitada, na calada da noite, por alguma engenhoca extraterrestre? E se eu tivesse sido abduzido e nem me dera conta disso?

Parei por aí a minha imaginação cinematográfica, certamente consequente às imagens da premiação do Oscar à qual assisti na noite anterior. Um furor de luxo, bom e mau gosto, rico em piadas engraçadas apenas para norte-americanos. Fico pensando naquelas pessoas sentadas na entrada do tapete vermelho. Elas não param de bater palmas, entusiasmadas ao ver seus ídolos em carne e osso, fora das telas. Os atores mais amados causam grande frisson nos plebeus que estendem pedaços de papel, mendigando autógrafos muito difíceis de obter. Há os que não dão a mínima para o público, há gente como Sandra Bullock que vai até o povo, cede autógrafos e provoca  comoção.

No fim todos passam pelo tapete vermelho e acontece a cerimônia na qual se destacam as faces conhecidas que vemos nas telas. Cheguei a desligar a televisão antes do final, mas, como não pegava no sono, religuei e assisti ao Oscar até o fim. Talvez tenha sido depois de terminada a cerimônia que os alienígenas chegaram a minha casa. Não os vi e não sei dizer se me aplicaram algum sonífero. O certo é que dormi profundamente. Também é certo que traziam com eles um motor que fazia muito barulho, o tal motor que funcionou durante a madrugada conforme garantem o zelador e os meus vizinhos. Como nos filmes, exatamente assim.