o feriado de 9 de julho at Blog Ayrton Marcondes

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Leio sobre os poucos sobreviventes que participaram da Revolução de 32. Passados dos 100 anos de idade suas memórias já não retém muitas passagens do episódio. Resta o Obelisco do Ibirapuera que, com seus 72 metros de altura, mantém viva a revolta de São Paulo contra o governo de Getúlio Vargas. Ali repousam os restos mortais de muitos dos constitucionalistas e dos quatro rapazes que morreram no combate travado contra policiais na esquina da Rua Barão de Itapetininga.

Na minha família alguns tios participaram ativamente do movimento de 32. Para um deles os nomes dos rapazes – Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo – cujas iniciais deram origem ao MMDC, funcionavam como grito de guerra. Muitas vezes ouvi de meu tio a narrativa de episódios da Revolução. Fervia-lhe o sangue ao lembrar-se do golpe de 30, comandado por Getúlio, e a situação na qual ficou São Paulo naquela ocasião. O “Estamos em Guerra” estampado no jornal “O Estado De São Paulo” fora o estopim para o início da revolta.

Nas palavras de meu tio Euclides de Figueiredo - pai do futuro presidente João Figueiredo - perdera a oportunidade de derrotar Getúlio ao ordenar a parada das tropas paulistas que marchavam em direção ao Rio. Com a demora as tropas federais puderam se organizar e sitiar São Paulo. Além do que Getúlio contava com militares e policiais treinados enquanto São Paulo lutava com maioria de voluntários.

De minhas tias ouvi o esforço das mulheres na retaguarda do movimento. Elas faziam de tudo, desde a produção de roupas e alimentos, para que os rapazes de São Paulo pudessem lutar. Entretanto, o esforço dos paulistas naufragaria três meses depois quando anunciada a derrota.

Guardo das pessoas que ouvi sobre a Revolução de 32 o espírito apaixonado que mantiveram até o fim de suas vidas. 32 foi um marco para a geração de paulistas que se insurgiram contra o governo federal.

Em minha infância e juventude, nos altos da Mantiqueira, muitas vezes encontrei antigas trincheiras cavadas pelos combatentes de São Paulo. Por aqueles caminhos passavam soldados vindos de Minas Gerais que, a todo custo, deveriam ser contidos.

Meu tio dizia que a guerra de trincheiras favorecia as tropas federais, melhor treinadas. Se os paulistas tivessem chegado ao Rio a história teria sido escrita de modo diferente.

As pessoas de quem ouvi narrativas sobre a Revolução de 32 estão mortas. Guardo comigo o rubor de suas faces quando se referiam ao traumático episódio.