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A morte de D. Zilda Arns

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O que chama a atenção no episódio que vitimou D. Zilda Arns é, por assim dizer, o capricho da fatalidade. Médica pediatra, sanitarista e fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, Zilda Arns tinha viajado para o Haiti no último fim de semana. Sua missão era levar para o país mais pobre das Américas a metodologia de atendimento da Pastoral da Criança no combate à desnutrição.

No momento do terremoto D. Zilda estava numa escola fazendo uma palestra. Com o abalo sísmico que sacudiu o Haiti o prédio desabou, sendo D. Zilda atingida por uma laje. Ela não resistiu ao impacto e morreu.

As fatalidades sempre impressionam e nos levam a perguntar por que determinada pessoa estava em certo lugar justamente na hora de um acontecimento grave. D. Zilda poderia ter viajado para o Haiti em qualquer outra ocasião, mas quis o destino, ou o que seja, que ela estivesse lá, dentro de um prédio que iria desabar no momento de ocorrência do terremoto.

É certo que ponderações como as anteriores carecem de valor e o acaso surge como o grande articulador da tragédia acontecida com D. Zilda. Entretanto, a singularidade do evento não deixa de ser estranha e incomoda dada a sensação de perda irreparável que poderia, talvez, ser evitada. O certo é que a morte veio interromper, naquele lugar, uma vida de grande plenitude caracterizada pela prática do bem e ajuda humanitária aos semelhantes.

É essa estranha força que parece guiar destinos e dispor de vidas a seu bel-prazer que chama a nossa atenção neste momento.  Destruição, mortes e sofrimentos inenarráveis abateram-se sobre um país onde as condições de vida já eram inaceitáveis. As imagens que vemos pela televisão emocionam tal a dimensão do desastre fazendo-nos refletir sobre governos e desigualdade.

A perda de D. Zilda terá, talvez, o mérito de chamar a atenção dos povos da Terra sobre as dimensões da miséria agora exposta a céu aberto, contra a qual medidas concretas são necessárias. É nesse ponto que nos parece que o capricho do destino teve o seu lado positivo: D. Zilda estava lá, em meio aos pobres e desvalidos no momento da tragédia. Não terá sido, então, por acaso. Por isso, as mais lúcidas palavras sobre o desaparecimento de D. Zilda tenham partido de seu irmão, D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo. Compreendendo de imediato a dimensão da morte da irmã, nas circunstâncias em que ocorreu, disse o arcebispo:

 “Ela morreu de uma maneira muito bonita, morreu na causa que sempre acreditou”.