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Inimigos Públicos

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Foi J. Edgar Hover quem transformou John Dillinger no inimigo píblico nº 1 dos Estados Unidos. Na mesma época agiram os inimigos públicos Baby Face Nelson e Pretty Boy Floid.

Eram os primórdios do FBI, organização dirigida por Hover durante 48 anos.  Mas foi nos anos 30 que seu prestígio aumentou ao combater Dillinger, Baby Face e Pretty Boy. Note-se que a emergência desses gangsteres aconteceu justamente durante a grande depressão decorrente da quebra da bolsa de Nova York, em 1929.

É esse mundo que o cineasta Michael Mann traz aos espectadores em seu filme “Inimigos Públicos”. Há um evidente esforço em recompor a época com exatidão de detalhes refazendo-se a atmosfera reinante durante os anos de depressão.

O inimigo público nº 1 não era de todo um mau sujeito, revelando-se uma espécie de Robin Hood em tempos de crise econômica. Não chegava ele a tirar dos ricos para distribuir aos pobres: seu alvo eram os bancos, o dinheiro em posse do sistema, nunca a poupança particular. Tornou-se famoso o respeito de Dillinger pelas pessoas encontradas nos bancos durante os assaltos: ele não tocava no dinheiro que elas eventualmente carregavam. Além disso, Dillinger não era um assassino. Devedor de uma única morte atribuía esse fato a um acidente de percurso.

Por tais características Dillinger contava com o apreço da opinião pública. Era, do seu modo, um ídolo em pleno período de depressão econômica fato que garantia à sua trajetória ampla cobertura da imprensa.

O diretor Micheal Mann é fidedigno à história de Dillinger. A narrativa da vida do gangster é linear, sem idas e vindas, progredindo para um final esperado mesmo para quem nunca ouviu falar sobre Hover, Dillinger, Pretty Boy, Baby Face e Purvis, agente nomeado por Hover para a direção do FBI em Chicago. Mann impõe ao roteiro um ritmo frenético que, nos primeiros momentos chega a confundir o espectador.

Pode-se dizer que o ponto alto é a recomposição do mundo dos anos 30 onde atuam as personagens. Há, sim, um excesso de metralhadoras, efeitos especiais cujo intuito é conferir credibilidade à atmosfera do filme. Não deixa de ser interessante a apresentação, sem disfarces, dos métodos utilizados por Hover à frente do FBI. Na perseguição a Dillinger vale tudo, inclusive a tortura de pessoas próximas a ele. Os excessos são não só tolerados como recomendados pelos chefes do FBI porque o que importa é a imagem pública de eficiência.

Mann não poupa o espectador de cenas desagradáveis de tortura como a em que a namorada de Dillinger, Evellin Frechette, é duramente castigada por não fornecer informações sobre o lugar onde ele se esconde. Há quem veja nesse fato relações com a época atual de crise econômica na qual aconteceram os episódios de Guantanamo e Abu Ghraib. Em entrevista concedida ao semanário francês “Les Inrockuptibles”, Mann nega essas intenções, dizendo que jamais teve em perspectiva a comparação entre duas épocas.

John Dillinger é representado pelo ator Jonny Depp que confere sofisticação ao seu personagem. De fato, fica a impressão de que um homem como Dillinger talvez fosse mais quase que puramente ação. Há muito de bom moço na personagem composta por Depp, talvez romântica demais para um homem perseguido pelo FBI e sob o freqüente perigo de metralhadoras. Mesmo quando Evelyn é presa e torturada não se observam reações de vingança no Dillinger de Depp. Ele é capaz, após a prisão da namorada, de passar serenamente ao lado de seus perseguidores e visitar o departamento do FBI: parece que o faz puramente para demonstrar o seu desprezo pelo FBI, sem outra intenção.

Christian Bale faz o agente Purvis dotado de uma frieza que incomoda. Purvis é determinado e sua meta é prender Dillinger custe o que custar. Faz isso com expressão facial imutável quaisquer que sejam as situações de que participa. A atriz francesa Marion Cottilard está bem no papel de Evelyn Frechette, a namorada de Dillinger.

“Inimigos Públicos” não chega a convencer. Apesar de tornar possível um recuo aos anos 30, não empolga o espectador que permanece distante da trama. Plasticamente perfeito, o filme não retrata John Dillinger com a plenitude que ele terá tido ao tempo em que assaltava bancos em Chicago.