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Natal

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Acredite, há quem não goste do natal. Mas, nem de trocar presentes, da ceia na noite de véspera, da reunião familiar? Pois é!

Confesso que nunca fui muito chegado ao cerimonial do natal. Isso não quer dizer que eu não goste, talvez exista alguma indiferença a embaçar meus sentimentos natalinos. Depois de tantos natais, grande parte deles cercado por pessoas diferentes, acho que a festa periga se tornar cansativa. Verdade que não há ocasião melhor para fazer contato com amigos a quem raramente vemos e de quem gostamos tanto. De repente, na tarde do dia 24, o telefone toca e ouvimos a voz de alguém que acaba de se lembrar da gente e deseja, sinceramente, que sejamos muito felizes. O que nos desperta para fazer o mesmo e ligar para pessoas que nos dizem respeito, próximas de nós apesar de vivermos tão longe.

Na minha meninice não havia natal em que eu não acompanhasse a minha mãe para assistir à missa do galo. Não era como no conto do Machado no qual a personagem quase não vai à missa porque enlevada na conversa com a mulher que ama. Em casa a missa do galo era compromisso familiar: primeiro a missa, depois a ceia. O problema é que naquelas paragens em que vivíamos costumávamos dormir mais cedo, daí que muitas vezes eu cochilasse sentado nos bancos de madeira da igreja matriz.

Ainda hoje me lembro das imagens de fé estampadas nas faces das pessoas simples que assistiam à missa do galo. Havia entre os fiéis e a religião um pacto estabelecido no qual imperava a verdade. Nada ali parecia falso, nem mesmo as faces de arrependimento das pessoas que saiam dos confessionários e ajoelhavam-se para rezar os padre-nossos e as ave-marias determinadas pelo padre. Seriam os meus olhos de menino que viam com brandura os meus iguais, bem antes do enfrentamento com esse mundo convulso que nos leva a endurecer os sentimentos?

Que não se pense que estou a criticar o natal. Parece-me, sim, que há certa hipocrisia num sem número de cumprimentos que recebemos ou fazemos. Há algo de inverdade nesse padronizado “feliz natal” que nos sai da boca como a cumprir uma obrigação quando nos encontramos com algum desconhecido no elevador do prédio onde moramos. Mas, não se podem esquecer os abraços fraternos, os desejos sinceros muitas vezes não expressos diretamente por pessoas que realmente nos amam.

Do natal guardo imagens fugidias, simples trocas de olhares, sem nenhuma palavra, que guardavam tantos significados. Muitos desses olhares já desapareceram, deixando-me apenas lembranças de pessoas queridas que já se foram.

Mas, diga-se o que se quiser, o fato é que hoje é natal e não há como se passar por essa data sem liga-la às nossas origens e às pessoas que nos acompanham e acompanharam.  Daí que o natal sempre foi e será uma ocasião benvinda, independentemente de nossas opiniões. O natal sobrevive pelo que há de realmente humano em nossas carcaças.

25 de dezembro

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Chove, chove muito na Baixada Santista. Ainda bem que é natal, dia em que ficamos em casa sem necessidade ou pressa para sair. O dia 25 é o “depois da ceia” no qual, em geral, dá-se seguimento aos excessos de comida e bebida tão comuns nesta época do ano.

Não me recordo onde li que nas duas últimas semanas do ano as pessoas são tomadas por sentimentos mais humanitários e passam a tratar melhor, com mais urbanidade, umas às outras. De fato, nessa época ficamos propensos a uma espécie de balanço das nossas atitudes, da nossa vida. Existe, sim, a correria da compra dos presentes, as obrigações nem sempre agradáveis, o irritante lado comercial do natal, mas, tudo isso, torna-se pequeno diante de lances de fraternidade entre pessoas, às vezes mesmo entre aqueles que são mais arredios ao contato humano, mais fechados, mais revoltados, ou o que quer que seja que os afaste do bom convívio.

É pena que esse momento de pausa, de reflexão – e porque não de esperança – seja esquecido tão logo o novo ano se inicie. Então, tudo volta a ser como antes no quartel de Abrantes: a correria, a necessidade de ganhar a vida, as disputas, o cansaço que nos rouba a paciência, as preocupações, enfim um mar de problemas que em geral empana o lado bom da vida, o tão esquecido lado bom das coisas.

Mas, é natal e é preciso viver bem esse momento. Se abrirmos um jornal poderemos encontrar textos nos quais se enfatiza a necessidade de entendimento entre os homens, que falam sobre a esperança no porvir, textos sobre o significado religioso da data que se comemora ou lembranças de alguém sobre natais passados em sua vida. No fundo está implícito o fato de que a sociedade está a exigir mais tolerância, mais cuidados de uns com os outros, mais compreensão. Isso é dito de formas de formas diferentes, em estilos diversos, mas trata-se do mesmo assunto, do mesmo apelo, embora se perceba nas entrelinhas que quem escreve não acredita muito que as coisas venham, no futuro, a se resolver levando-se em conta o simples bom-senso.

Enfim, é natal e chove muito. Com a chuva o grande calor dos últimos dias dá trégua e o dia é muito agradável. Enquanto isso, os noticiários já nos dão conta do grande movimento de retorno para a capital, verificando-se congestionamentos. As autoridades emitem alertas para os motoristas porque pistas molhadas e muito trânsito requerem maior cuidado. Como se vê o mundo continua a girar no modo de sempre, amanhã será segunda-feira, o início da última semana deste ano de 2011 que, na média, deixou muito a desejar.