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2012

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2012, o filme do diretor Roland Emmerich tem um grande mérito: condensa toda a trajetória do cinema-catástrofe numa única película. Antes de 2012 tínhamos filmes, por assim dizer, temáticos: incêndios, desastres aéreos, naufrágios, terremotos, inundações etc. 2012 é a soma de todas as catástrofes com um único fim: mostrar ao público como seria o fim do mundo em que vivemos. As tramas paralelas, a família que busca salvar-se, o desespero das multidões e mesmo os diálogos não passam de acessórios utilizados para intensificar a dimensão do estrago. O que é importa mesmo são as cidades deslizando para dentro das águas e o oceano cobrindo tudo aquilo que um dia foi o mundo que conhecemos.

Para além dos efeitos especiais que impressionam e deprimem o espectador ficam as intenções do diretor. Sua visão é reducionista: para ele tudo o que somos e acreditamos parece não passar de uma grande mentira. Partindo de tal premissa ele arremessa à mesma vala tudo o que conseguiu reunir sob a forma de símbolos da humanidade. Não é por acaso que o Papa é mostrado em plena Praça de São Pedro, em Roma, orando com milhares de fiéis no momento em que a terra treme e todo o Vaticano desaba; nem é por acaso que a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, é mostrada quebrando-se; de nada valem a religião, as filosofias orientais, o budismo, enfim, nada vale nada porque os nossos valores não podem salvar o mundo. A clemência com a cidade de Washington dura o tempo necessário para colocar o presidente dos Estados Unidos como um ser de rara coragem, recusando-se a salvar-se para morrer heroicamente, engolido pelas águas, junto de seu povo.

A política não é poupada, revelando-se o lado obscuro das almas no momento em que a possibilidade de salvar uns poucos se apresenta como um mecanismo de escolha de eleitos segundo as suas posses. As imagens da Casa Branca sendo destruída encerram o ciclo de um domínio político e econômico sobre um planeta que deixa de existir.

Mas o pior é reservado para o fim, no qual um novo Deus emerge da destruição global. Esse Deus é a tecnologia. Ela é utilizada para construir um artefato capaz de salvar uns poucos eleitos que povoarão a Terra no momento em que o que restou dos continentes emergir.

2012 não é um filme agradável. Baseando-se em previsões como a data de  encerramento do calendário Maia, o diretor parece divertir-se em expor-nos ao absurdo da destruição sem remédio, gritando que não somos nada e que tudo, absolutamente tudo, pode acabar de repente.

2012 não passa de um filme de efeito especiais. É ótimo para quem gosta de ver coisas arrasadas, considerando que se trata de uma brincadeira, que a ficção jamais se tornará realidade. Entretanto, se o espectador for uma pessoa que pensa, trata-se de uma produção sombria que beira, com muita insistência, o mau gosto.