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Não dá para generalizar

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Tudo bem, não dá para generalizar, vamos partir disso. Entretanto, parece que hoje em dia os relacionamentos entre pais e filhos se tornaram, digamos, mais ágeis. Você não acha?

Até poucas décadas as relações entre gerações careciam de mais objetividade. O amor era disfarçado. Filho homem beijar pai? Ambos ficavam sem jeito. Repito: não dá para generalizar. Mas, vi e vivi isso na minha casa e fora dela. Entre pais e filhos instalavam-se certas barreiras com tanta naturalidade que até pareciam ser mesmo naturais.

Hoje em dia vigora um novo acordo. As relações tornaram-se mais próximas, talvez porque o próprio mundo tenha se desnudado. Essa loucura da informação instantânea, a obviedade do sexo que já não é escondido, a publicidade dos erros, enfim toda a parafernália resultante da revolução tecnológica parece ter remetido às sombras alguns preconceitos.

Certa vez ouvi meu pai contar a um amigo que o pai dele, meu avô, costumava vir do interior a São Paulo e hospedar-se num hotel do centro da cidade. Meu pai vinha com ele, às vezes. Acontecia de meu avô deixa-lo no hotel à noite e sair para resolver “negócios”. Já rapaz meu pai sabia bem a natureza dos “negócios” noturnos de meu avô. Nunca se permitiram uma palavra a respeito, aliás pouco se falavam. Amavam-se em silêncio.

Não é que me intrometo em assuntos ‘proibidos” da vida dos meus filhos? Não dá para generalizar, mas hoje em dia as relações são mais abertas.

Penso na permanência de tabus, embora desgastados. De todo modo não me surpreendeu o que vi no filme “Advogado” estrelado por Robert Duvall e Robert Downey Jr. Duvall é um juiz cujo filho - Downey - é advogado. Circunstâncias anteriores estabeleceram pontes intransponíveis entre pai e filho. No dia da morte da mãe Downey comparece ao enterro e as barreiras com o pai são reativadas. Mas, o juiz acaba por se meter numa confusão ao ser acusado de atropelar e matar um homem a quem condenara à prisão no passado.

Ser aceito pelo pai como seu advogado e defendê-lo torna-se uma travessia. Não existe entre os dois homens pontos de apoio confiáveis. Mais que nunca o abismo entre pai e filho pauta o andamento das ações.

Nunca privei com meu pai maiores intimidades. Era a regra do jogo. Não dá para generalizar, mas acho que hoje em dia as cosias andam bem mais amenas.