festas de fim de ano at Blog Ayrton Marcondes

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Festas

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Aproximam-se o natal e a passagem do ano. Poucas luzes nos prédios. A Av. Paulista tão tradicional em suas decorações natalinas está praticamente nua. Uma ou outra luz num banco e sem aquela festa de luzes no parque Trianon.

O país se ressente da crise. O povo tradicionalmente festivo não tem grandes coisas a comemorar. Papai Noel deverá passar por aqui num trenó menor e puxado por poucas renas. Sairá das regiões polares, talvez com atraso, e não muito animado.

Mas, as famílias mais uma vez se reunirão. A ceia de natal não será tão exuberante na maioria das casas: os preços estão uma loucura. As bebidas então… Os importados quase inacessíveis mesmo para a gente de classe média. Há que se olhar as caixas sob as árvores de natal e verificar os conteúdos, talvez não tão expressivos como em anos anteriores.

Nessas horas o cidadão se ressente ainda mais dos desmandos na condução do país. Depois de um ano duríssimo nem mesmo nas festas de fim de ano há lastro para grandes alegrias. Bolso furado é problema que traz tristeza. No Braz uma senhora diz ao repórter que compra, sim, brinquedos importados e não aprovados. De nada adiantam advertências sobre a qualidade e perigos desses brinquedos. Existe uma justificativa e a senhora não a esconde: esses brinquedos custam mais barato.

Pois é. Confesso não ter lá muitas afinidades com o natal. Na casa de meus pais a festa em geral não acontecia. Meu pai era avesso a fins de ano. Minha mãe preparava o frango assado que iria para a mesa à meia-noite. Naquela época os presentes eram raros, inexistiam.

Entretanto, tenho grandes afinidades com a noite da passagem de ano. Sei lá. A virada sempre me parece momento de assinar termo de acordo com o ano que termina e esperança no ano que começa. Não se vive sem estímulos, ainda que nem sempre verdadeiros. Mas, não se paga nada para sonhar.

Não sei o que se passará na minha cabeça na noite de 31. A virada pura e simplesmente recolocará as coisas nos eixos? Haverá melhora na economia? Resolverão o imbróglio da previdência? O brasileiro eleitor acordará na manhã seguinte mais consciente para votar nas eleições que virão mais à frente? A bandidagem será reprimida e poderemos andar por aí sem medo de assaltos, balas perdidas, sequestros, etc? O dólar ficará num patamar pelo menos aceitável?  Os preços estarão ao alcance da população? A saúde pública será renovada e mesmo os mais simples terão acesso ao bom atendimento? A inflação permanecerá sob controle? Os corruptos serão afastados definitivamente da vida pública? E quanto á desigualdade social?

Ora, será um bom novo ano. Como se disse anteriormente, não custa sonhar.ano novo será bom?

Velhos natais

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Natal sempre igual? Quase. Com pequenas variações na noite de natal reproduzem-se cenas habituais que passam pela troca de presentes e a reunião da família para a ceia. Come-se e bebe-se além do habitual - os gordos entregam-se à comilança prometendo-se entrar num regime na manhã do dia 25 -promessa quebrada quando o grande e irresistível almoço do dia seguinte é servido para alegria dos apetites vorazes.

Promessas de natal são feitas para serem quebradas. Não duram até a passagem de ano quando em geral dedicamos olhar complacente ao ano que finda e juramos nova vida no que começa. Um parente, já falecido, tinha o hábito e abrir uma garrafa de espumante quando faltava exatamente um minuto para a passagem de ano. Falante como era, tornava-se reflexivo. Deitava o líquido no copo e ficava observando as bolhas que se formavam.  Quando o líquido serenava jogava-o na pia e só então se servia do segundo que ingeria de um só gole. Explicava-se: o primeiro copo pertencia ao ano que findava; o segundo representava o novo ciclo que se abria. Ao novo! – dizia. Cada um tem direito a fins e começos segundo suas convicções.

Da noite de natal fica o momento em que os presentes são trocados, particularmente a distribuição de brinquedos. Hoje em dia a facilidade de acesso a toda sorte de brinquedos faz com que crianças recebam muitos presentes e se percam na escolha daquele que será o seu favorito. A indústria de brinquedos, nacional e importada, já não sabe mais o que inventar daí que bebês de seis meses acabam ganhando engenhocas eletrônicas que desfiam as suas ainda incipientes capacidades para aproveitá-los. Mas, nem sempre foi assim. Há cerca de 60 anos os bons brinquedos estavam ao alcance de famílias melhor situadas economicamente e, se bem me lembro, não existiam em tão grande variedade. Pois eu teria uns sete anos de idade e morávamos numa cidadezinha na qual a principal atração de natal para as crianças era a distribuição de presentes na casa paroquial. O padre da cidade conseguia brinquedos junto a empresas e, no dia 25, as crianças formavam fila para recebê-los. Chegada a sua vez a criança entrava na casa e escolhia o brinquedo que lhe aprouvesse.

Aconteceu-me o milagre de ser o primeiro da fila daí a possibilidade de escolher o melhor brinquedo. Quando entrei vi um carro grande, desses com pedais que permitiam à criança sentar-se e dirigir. Era o melhor brinquedo e, obviamente, eu deveria escolhê-lo. Entretanto, cismei com um carrinho pequeno, do tamanho da palma da mão. Ao que me acudiu o padre mostrando o carro de pedais, dizendo-me que faria melhor em ficar com ele. Mas, criança é criança e fiquei com o pequeno que enfiei no bolso da calça e fui embora. O segundo da fila era um meu amigo que não pensou duas vezes para apoderar-se do carro de pedais.

Ainda hoje guardo a imagem daquele carro vermelho que eu não quis sabe-se lá por que. Era o melhor entre os melhores, mas desdenhei dele trocando-o por um minúsculo carrinho do qual logo me esqueci. Creio que foi a partir daí que passei a desconfiar das escolhas que fiz na vida. Algumas foram boas, deram certo, outras não e com consequências sobre as quais o melhor é calar.

Outro dia sonhei que era menino e estava em primeiro lugar na fila de escolha de brinquedos. Quando entrei vi o carro vermelho e tive a chance de corrigir o erro da primeira vez. Não sei dizer o fim do sonho, mas creio que na hora “H” é possível que eu tenha visto o carrinho que cabia na palma da minha mão e, por motivos insondáveis, tenha ficado com ele. Afinal, não é nenhuma novidade o fato de que somos como somos, tantas vezes incorrigíveis.

31 de dezembro

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Morreu o jornalista e escritor Daniel Piza aos 41 anos de idade. Piza estava com a família na cidade de Gonçalves-MG, onde passava as festas de fim de ano. Foi vitimado por um AVC e partiu desta para a melhor.

A morte prematura justamente ocorrida às vésperas da passagem de ano é intrigante. Por que um jovem que tinha a vida pela frente, que gozava férias no interior, por que morreu ele? Por que tinha que morrer, deixando atrás de si mulher e três filhos, justamente agora?

Não importa que nos expliquem que o programa que controla a duração da vida está inscrito no DNA. Nem mesmo importa que existam explicações para as mortes precoces que enlutam famílias de modo tão repentino. O que vale é o fato da morte em si, da perda para a família, as saudades inevitáveis pelo vazio provocado por aquele que nos deixa.

Daqui a pouco entraremos em 2012. Um novo ano se iniciará com as surpresas do cotidiano, os altos e baixos que sucedem no decorrer dos nossos dias. Agora, faltando cerca de quatro horas para a passagem de ano, eu me pergunto sobre essa vida que nos prepara tantas surpresas. Quantas pessoas terão saído deste mundo nas últimas horas e não verão o ano que está para começar! A morte de Piza, a quem vi certa vez de relance, acontece justamente nessas horas em que deveria ser proibido morrer.

O fato é que não existe regra definitiva para nada nesse mundo. Dias trás perdi um cunhado, pessoa muito querida que lutou até o fim, mas não verá o amanhecer d o primeiro dia de  2012. É a sensação de estar à mercê de acontecimentos fortuitos, o maior deles a morte, que nos induz a esse apego à vida. É preciso viver, bem viver, passar magnificamente a meia-noite que nos conduzirá ao ano de 2012, porque o futuro é incerto, a duração da existência incerta.

Que vivamos muito e bem, amigos e solidários, porque a vida vale de verdade pelos bons momentos, esses sim aparentemente eternos.