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O futebol e os pés

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Segundo o jornal alemão “Der Spiegel” temos pés apenas porque existe o futebol. Trata-se de uma curiosa inversão evolutiva que faria Darwin revirar-se em seu túmulo: primeiro teria surgido a bola; pela necessidade de chutá-la apareceram os pés. Na verdade a frase anterior está mesmo é ligada à teoria evolucionista de Jean Baptiste Lamarck. Pela teoria de Charles Darwin seria assim: existia a bola, os seres que ao acaso desenvolveram pés os usaram para chutá-la.

Teorias evolucionistas a parte é de se pensar se não temos cabeça e cérebro porque a bola apareceu primeiro. Pelo amor de Deus, não se trata de coisa do tipo quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha. Acontece que o futebol é uma paixão tão grande, gastamos tanta energia mental com ele, que não será impossível termos sido criados apenas para ser torcedores. Depois, com a evolução, passamos a servir para outras coisas…

Quem duvida que ande por aí e observe os semblantes preocupados dos torcedores com as contratações de seus times para os campeonatos que já começam na semana que vem. Fulano de tal jogou naquele time e não foi bem, agora contrataram o cara para o meu, que besteira… por que não contrataram um bom meio-campista…na verdade precisamos é de um bom goleador etc.

Isso tudo, na pré-temporada. Quando os jogos começarem alegrias e tristezas, regadas a muito nervosismo, acontecerão. Aquele juramento que fizemos no ano passado de não mais acompanhar o campeonato de 2010 será negado na primeira notícia de vitória do time do nosso coração. E as nossas mulheres, pobres das nossas mulheres, habituadas, mas nunca conformadas, com o nosso mau humor dos domingos de derrota e as manhãs tensas de segunda-feira, que tipo de armistício devemos assinar com elas?

Torcedores: é impossível resistir. Fostes criados para servir sob as fileiras, bandeiras e hinos dos vossos times. Sois devotos de algo entranhado no vosso DNA e, portanto, irreversível. Uma força maior, anterior à espécie, determinou que assim seria e nada se pode fazer contra isso. Flamenguistas, corintianos, são-paulinos, gremistas, cruzeirenses, ouvi: sois escravos de uma paixão da qual só a morte poderá livrá-los, isso se do lado de lá não existir futebol.

Portanto, conformai-vos. E lembrai-vos: a regra é o sofrimento, mas intercalado com momentos de alegria, alegria breve, mas que alegria.

Da inteligência

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Lobo frontal 15% maior que a média; existência de uma saliência no córtex motor; quantidade de neurônios por centímetro cúbico maior que a média; concentração maior que a normal de células gliais; e neurônios do hipocampo do lado esquerdo do cérebro mais longos que os do lado direito; são características encontradas por pesquisadores em estudos do cérebro de Einstein.

Você se considera inteligente? Já fez algum teste de QI? Você é uma pessoa que alia praticidade aos seus dons naturais de inteligência?

Houve época em que o respeito e a admiração pela inteligência eram sagrados. No Brasil de décadas passadas os estudantes do ciclo médio falavam sobre Einstein, Darwin, Marx e outros; admirava-se o alemão Werner Von Braun pelos seus trabalhos como foguetes V2 e, mais tarde, na Nasa; o filósofo Bertrand Russel era lido em seus textos menos técnicos pela estudantada; o pacifismo do cientista Albert  Sabin era digno de nota; e assim por diante.

Hoje em dia pedagogos, psicólogos e professores acusam computadores, vídeo games, celulares e a televisão a cabo como responsáveis pela dispersão da atenção dos estudantes. Com tantos apelos e a facilidade da informação sem esforço, a juventude não lê, não estuda. Os dons de inteligência não se completam dado que os cérebros tornam-se embotados pela cultura adquirida de segunda mão.

Outro dia assisti a entrevista de um antropólogo na qual ele dizia que tivera a sorte de crescer num tempo em que não existiam vídeo games e televisão a cabo. Sua distração era, portanto, ler.

O antropólogo tem razão. A verdade é que em tempos não muito distantes lía-se um pouco de tudo. Homens como Paulo Rónai e Otto Maria Carpeaux empenhavam-se em divulgar, no Brasil, a grande literatura européia. Daí resultou a publicação, em português, da preciosa “Antologia do Conto Russo” em nove volumes, sob orientação literária de Carpeaux e Vera Newerowa.  Através da “Antologia” os jovens travaram contato com obras de grandes escritores como Gogol, Tolstoi e muitos outros. A Carpeaux também se deve a magnífica “História da Literatura Ocidental” que em boa hora foi republicada pela Editora do Senado Federal, agora em terceira edição.  A Paulo Rónai e Aurélio Buarque de Holanda Ferreira deve-se a tradução de centenas de contos reunidos na coletânea “Mar de Histórias” (Editora Nova Fronteira). Esses livros e muitos outros, de autores como os grandes poetas Bandeira e Drummond, contribuíram para a formação intelectual de gerações de pessoas que hoje ocupam vários postos no mercado de trabalho do país.

Mas voltemos à inteligência. Conheci e conheço pessoas inteligentíssimas, grande parte delas talentos perdidos. Ninguém é Einstein, mas existem muitas pessoas dotadas de qualificação mental superior. Entretanto, acontece a muitas delas não aliar seus dotes mentais à praticidade, daí ficarem à margem do sistema produtivo, muitas vezes desempenhando funções menores e aquém de suas aptidões. Isso é terrível. O fato é que inexiste um sistema de valorização de jovens talentos, capaz de valorizá-los e endereçá-los a setores onde possam dar vazão aos seus potenciais.

É preciso lembrar que cérebros avantajados nem sempre se dão bem com o mundo das pequenas coisas do cotidiano. Um grande escritor que certa vez visitou o Brasil, homem genial, revelava-se muito confuso aos que dele se aproximavam. Pedir um simples café no aeroporto, conferir o troco e encontrar nos bolsos o bilhete de embarque eram para ele missões quase impossíveis. Note-se que o brilhante escritor provavelmente teria sido reprovado em testes para admissão a empregos e outras coisas que exigissem praticidade. E era um gênio…

Por fim, se o assunto é inteligência vale lembrar que nem sempre a ditadura do QI funciona. Creio que muita gente conhece pessoas de QI alto, fora do normal, e que são umas perfeitas “bestas”. É nesse ponto que inteligência e a boa cultura adquirida se unem. Bons livros, boas leituras, conhecimento adquirido e inteligência explicam porque muitas pessoas se sobressaem nos meios em que atuam.