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A lógica do medo

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Fui a uma festa realizada no bairro do Morumbi, em São Paulo. Eram seis horas da tarde e já estava escuro neste mês de junho. Na Avenida Giovani Gronchi, logo depois do Estádio do Morumbi, o trânsito se complicou porque se realizava uma obra no asfalto. Dentro do carro me senti acossado pela muitas notícias sobre crimes que acontecem no Morumbi. Na minha cabeça estava numa região sem lei, à mercê de bandidos que quebram os vidros dos carros, levam o que querem e muitas vezes atiram e matam só para se divertir.

Obviamente, tratava-se de um exagero. Ou não? E se de repente um marginal surgisse ali, revólver na mão, e me escolhesse como vítima de suas pretensões assassinas? Foi esta a primeira vez em que pensei sobre a real necessidade de ter vidros blindados no carro. Com a blindagem há mais segurança, o problema é o alto custo da instalação.

Por outro lado também pensei que, na verdade, não cabia a mim a prevenção de um possível crime. Os impostos são arrecadados para que prefeituras, governos estaduais e federais cuidem, entre outras coisas, da segurança. No trânsito parado e exposto ao acaso de uma agressão tornei-me um contribuinte ainda mais descontente com o destino do dinheiro que pago em impostos.

Depois de algum tempo, morosamente, o trânsito fluiu. Cheguei vivo, participei da festa e voltei para casa feliz porque a sorte me favorecera. Que se entenda bem: a segurança pessoal hoje em dia está ligada à sorte de não ser escolhido como vítima pelos ladrões.

Acontece que o que está escrito acima não é nenhum exagero. É desse modo que as coisas se passam e ao cidadão resta manter os olhos bem abertos e contar com boa dose de sorte. Na capa da revista “Veja – São Paulo” desta semana está escrito em letras garrafais: BASTA! Informa-se que o número de mortes após assaltos cresceu 74% neste ano.

Mas, como colocar um paradeiro nessa onda crescente de criminalidade? Há quem atribua a atual situação desigualdade social. Pessoas vivem em condições precárias e sem acesso a bens básicos. Falta-lhes tudo, recursos, formação, comida, saneamento, cuidados com a saúde etc. Desse meio onde a precariedade é a regra emerge boa parte dos marginais sem escrúpulos que andam por aí. Obviamente, isso é importante, mas não é tudo.

E as tais experiências bem sucedidas no combate à criminalidade levadas a cabo em outros países? A tolerância zero que resultou em redução do crime em Nova York não poderia ser aplicada aqui? Ou algum outro tipo de experiência realizada com sucesso no exterior?

No trajeto até o Morumbi tive contato com a lógica do medo embutida em nossas mentes. Acuados diante de algo maior que a nossa capacidade de reação, seguimos temerosos de que esta seja a nossa vez de cruzar com o crime. Esse medo restringe a liberdade individual e reclama por medidas efetivas para que se possa andar por aí em segurança.