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Carnaval

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Entra ano, sai ano, os carnavalescos não morrem nunca. Muda, sim, o carnaval. Não mudam as turmas que se acabam nos cordões. Na moda os blocos de rua. Perto de um milhão de pessoas sambou na Av. 23 de Maio, em São Paulo. A adesão aos blocos de rua surpreende. As pessoas saem de casa para  se esbaldar, por para fora a insatisfação que reina no país. Os entendidos se perguntam por que toda essa gente não veio às ruas para protestar contra a crise permanente no país. Crise na saúde, na segurança, na educação… Deixa pra lá esse mundo de políticagem, propinas, desvios, roubos escancarados, pouco se importando com os milhões que seguem à míngua, com os desempregados, enfim.

Mas, sempre resta o carnaval. O carnaval salvador. O momento em que as classes sociais se irmanam em blocos de desconhecidos a contorcerem os corpos na folia que nunca acaba. É um ópio que transforma, liberta. Que faz a gente correr atrás daquele que segue à nossa frente e, também, não sabe para onde está indo.

Na minha infância esperávamos pelo Zé Pereira. Ainda existem neste vasto Brasil as folias do Zé Pereira que, segundo consta, nos foram trazidas pela tradição portuguesa. Para nós o Zé Pereira era um boneco muito alto que surgia não se sabe de onde e despontava na rua, cercado pela criançada. Era uma festa. Corríamos felizes em torno da figura mágica, para nós símbolo do carnaval. Com o Zé Pereira iniciavam-se os trabalhos carnavalescos. As mulheres cozimento os trapos com remendos que resultavam nas fantasias. Não importa o quão simples e estranhas eram, mas as víamos como maravilhosas porque eram as nossas fantasias.

Então os bailes aconteciam num galpão de madeira, nos fundos da padaria. Verdade que precisava-se contar com a boa vontade do único pitonisa local para animar a festa. Acontece que o cara era “empombado”. Sujeito do contra. O jeito era dizer a ele que não tocaria naquela noite. O “não” funcionava como gatilho para o “sim”. Mas, caso não desse certo, a coisa acontecia mesmo sem o instrumento de sopro. Então o bumbo, o surdo e o repinique marcavam o ritmo da dança sob as vozes entoadas pelos foliões que mandavam brasa nas marchinhas.

Verdade que não fomos eternamente escravos da boa vontade do cara do pistão. Certa ocasião apareceu um rapaz de São Paulo que se apaixonou por uma mocinha local. Pois não é que o magricela tocava trombone? A partir daí tivemos alguns carnavais com o sopro do trombone pelo magricela.

Velhos carnavais. Para onde foi toda aquela gente que pulava no festim do galpão de madeira, vez ou outra sob a ação de um providencial lança-perfume? Desapareceram na voragem dos anos, mas deixaram descendentes. Quem são eles? Ora, essa massa humana seguindo por aí em blocos entusiasmados, revelando a verdadeira alma dessa gente meio louca conhecida como brasileiros.

Orson Welles dizia que escolheu filmar o carnaval porque  os brasileiros são um povo feliz. O grande cineasta nunca terminou o filme. Ela não sabia que o carnaval não tem fim.

Escrito por Ayrton Marcondes

13 fevereiro, 2018 às 8:27 am

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