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O cafajeste

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Acho que dá para dizer que todo mundo já cruzou com algum cafajeste nessas andanças pelo mundo. Falo de cafajeste mesmo, não de imitadores baratos que mal dão conta do papel. Cafajeste de verdade, tirado a machão, corrente no pescoço, camisa aberta mostrando os pelos do peito. Sempre pronto para o ataque a alguma fêmea desprevenida.

Anos trás, em conversa com uma psiquiatra, ela me dizia que 90% de suas clientes eram mulheres e muitas delas admitiam casos com cafajestes. Uma delas, mulher de 40 e poucos anos, bem de vida, enviuvara e, tempos depois, acertara-se com um cafajestão. O cara era um resumo do inferno: levava dinheiro dela, batia nela, era um grosso na força maior da palavra. Só não moravam juntos porque os filhos dela nem podiam ouvir falar do tal namorado da mãe. A psiquiatra sentenciava: mulher quando bate o desespero da solidão é capaz de muita coisa. Será?

Tenho certeza de que historinhas assim, casinhos terríveis assim, são de conhecimento geral. Puxando a língua de alguém bem pode que ele(a) saque da goela um historinha de arrepiar os cabelos, coisinha como o caso do cidadão que namora a mãe para pegar a filha. E acaba pegando as duas, separadamente, claro.

Pois hoje recebi notícia fúnebre que me levou ao mundo dos cafajestes. Morreu um deles, sujeito terrível e danado como o diabo. Casou-se com mulher bem mais velha que ele, mulher que vivia com a mãe e tinha posses, casa boa, dinheiro, sabe como é. E o cafajeste entrou nesse mundo de conforto, ele um durango, arranjou-se bem, estabeleceu base para ações maiores. Eu o encontrava de vez em quando e lá vinha ele falando bem da minha camisa surrada que era o jeito de chamar a atenção para a camisa dele, de marca, presente da mulher que o vestia qual um príncipe.

Certa ocasião eu o vi meio nervoso, afobado. Contou-me que dava em cima de uma mocinha que resistia muito, não dava mole para ele. Acontece que a mocinha teve o azar de um furúnculo na bunda e ele, o amigão devorador, indicou a ela um médico, amigo dele, profissional de confiança. Agora o cafajeste esperava o momento de ligar para o amigo médico do qual queria descrição do corpo da moça, da bunda dela com a qual tanto sonhava. Aquilo me encheu de raiva dada a baixeza do ato e, ainda mais, imaginando a repulsa do médico quando a pergunta fosse feita a ele. Mas, eu não disse nada ao cafajeste. Se você conhece bem alguém desse ramo sabe que o cafajestismo é a natureza dele, está no sangue, mal incurável. Cafajeste roxo, profissional de verdade, não tem recaída, nem sentimentalismo, vale tudo, qualquer coisa quando uma mulher está sob mira.

Bem, a partir de hoje o mundo tem um cafajeste a menos. Baixa significativa no contingente dos cafas porque o que se foi era membro de elite, dedicado, ativo ao extremo. Entretanto, não me despeço dele sem alguma saudade. Agora mesmo me volta a imagem dele, o terno branco que muitas vezes usava, aquele charme grotesco de um cara que não deixava de ser bonito, o porte elegante acompanhado de maneirismos e palavras certas, decoradas para suas  cantadas.

Não era de todo mau sujeito, apenas um cafajeste, louco por mulheres, certa vez definiu-se assim, consciente que era da inutilidade do bom mocismo.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 outubro, 2012 às 2:17 pm

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