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Blue Jasmine

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Estive para assistir ao filme de Woody Allen algumas vezes, mas recuei. Para ser franco o tema do filme me incomoda. A derrocada de qualquer pessoa, a perda total do que possui, o enfrentamento com realidade antes inimaginável, a impossível readaptação, o comprometimento psicológico, o desgaste emocional, enfim a rota de verdadeira despersonalização realmente não me atraem.

Cate Blanchet (Jasmine) venceu o Oscar por sua atuação em Blue Jasmine. Ela é o filme. A tragédia dessa mulher sofisticada que se perde na intrincada teia de situações que conduzem ao abismo é vivida pela atriz de modo fulgurante. Os flashbacks que a surpreendem, ora no fausto da riqueza, ora na decadência da pobreza, são plenos de impressionante vitalidade. A mulher que perdeu tudo prossegue a mesma de ontem, inconformada com o destino que ela mesmo acabou por determinar.

Jasmine é a dondoca que tem tudo e patrocina festas, circulando em meio às altas rodas nova-iorquinas. Seu marido, vivido pelo excelente Alec Baldwin, a cobre de galanteios e presentes, embora tenha o hábito de traí-la. Na verdade trata-se de um bem sucedido estelionatário cujos golpes bem aplicados permitem a ele a vida de milionário. O outro lado, da pobreza, passa-se na casa da irmã adotiva de Jasmine, papel representado pela atriz Sally Hawkins. Jasmine passa a morar sob o teto da irmã num ambiente de simplicidade para ela inaceitável. As brigas de Jasmine com o namorado da irmã, a quem acusa de ser grosseiro demais, dão o tom de uma convivência diária dolorosa. Por fim há o momento de esperança no qual Jasmine é bafejada pela oportunidade de voltar ao seu mundo através de um relacionamento com namorado rico. Entretanto, o passado a condena, a mentira não pode sobrevier e Jasmine é devolvida à casa da irmã.

Mas, trata-se de um filme de Woody Allen, daí que talvez se esperasse por um final feliz. Mestre da comédia Allen certamente optaria por um tipo de ajuste pelo menos razoável para uma história complexa e altamente emocional. Mas, Allen surpreende. Fiel ao drama e não à comédia, sabe que há momentos em que mesmo a ficção não pode se render à realidade sob pena de parecer inverossímil. Assim o diretor nos entrega a personagem, repetindo antigas falas ao vento, como se ainda fora a milionária de antes.