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Roda de amigos

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Numa roda de amigos, só homens, os assuntos são, por ordem de freqüência: mulher, futebol e política. Dependendo do nível social é possível, ainda, outra ordem: mulher, política e futebol.

As mulheres dirão: mas eles não conversam sobre outra coisa? Não é possível.

Bem. A conversa pode até começar com outras variantes, o preço das geladeiras por exemplo. Isso acontece quando casais amigos se reúnem. Na ocasião, os homens falam sobre todo tipo de banalidades, pintura, escultura, novelas etc. Isso dura até que os homens tomam seus tragos e arranjam um jeito de ficar sozinhos na cozinha. A partir daí não tem jeito: o assunto passa a ser mulher.

Mulheres em geral duvidam disso, não podem acreditar que o marido, sujeito de respeito, pai de seus filhos, às vezes até um intelectual, se dê o desfrute de uma coisa dessas. Nesse caso, o único consolo será pensar que o marido participou da conversa para não ficar de fora, às vezes até por medo de que os amigos pudessem desconfiar dele.

Crise social? Educação deformada? Arrogância masculina? Exibição de virilidade? Será que hoje em dia a vida no trabalho e as responsabilidades são tão desgastantes que os homens precisam de uma válvula de escape, às vezes inventando situações que não viveram?

Infelizmente não. Pelo que se diz a coisa sempre foi assim. Quem já leu os livros de Machado de Assis sabe que esse genial escritor sempre sugere cenas de amor e sexo, mas jamais as descreve. Pois um crítico que conheceu Machado, Araripe Junior, certo dia deu uma curiosa explicação sobre o modo de ser do grande escritor. Araripe escreveu que se Machado estivesse numa roda de homens e o assunto descambasse para os inevitáveis mulher e política – na época o futebol não estava na parada – o escritor se levantava e saia de fininho. Daí que, segundo Arararipe, Machado jamais poderia descrever cenas de sexo porque não estaria integrado à safadeza geral de seu tempo.

Homens são homens e pode-se também dizer que há homens e homens. Não existe regra geral. Que sejam aqui poupados os muito dignos, mesmo que às vezes tanta seriedade nada mais seja que uma bela fachada.

Um indivíduo muito atuante no início do século XX, no Brasil, teve uma vida algo devassa e tinha muito orgulho disso. Chamava-se Medeiros de Albuquerque. Antes de morrer ele escreveu um livro de memórias, intitulado “Quando eu era vivo”, e deu explícitas instruções para que só fosse publicado muito tempo após a sua morte. Essa exigência explica-se porque no último capítulo do livro, chamado “Capítulo dos amores”, Medeiros relata casos amorosos que teve. Faz isso detalhadamente, pormenorizadamente. A publicação póstuma nada mais foi que um prazo que ele deu para que todas as mulheres sobre quem falou tivessem, como ele, tempo para morrer antes da publicação de suas aventuras sexuais. Para os interessados, o livro do Medeiros pode ser encontrado em sebos.

Depois disso tudo temos que convir que os homens muitas vezes são mesmo surpreendentes.

Escrito por Ayrton Marcondes

13 maio, 2009 às 10:44 am

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Postado em Cotidiano



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