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Ser idoso

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É coisa que não se escolhe: de repente você tornou-se idoso. Não importa se discorda, se ainda briga com a sua imagem no espelho, procurando sinais da juventude perdida. Virou idoso e nada pode mudar isso.

Antes de tudo é preciso dizer: idoso é condição. Uma vez dentro dela suas opções se restringem. Se, por exemplo, não cuidou da sobrevivência na velhice, babau. Emprego não vai arrumar aos 70 anos. Velho é velho. Como tomar lugar de gente jovem, cheia de força e vontade? E olhe que pouco se dá à experiência.

Você bem que pode atenuar os predicados negativos da velhice. Exercitar-se é uma boa. Manter a forma, cuidar da pele, mandar uma tinta nos cabelos. Se não fumou ou bebeu demais, se não passou os últimos 40 anos na base do fast-food, se evitou gorduras trans, se faz toque retal anualmente, se não há herança de câncer na família, etc, até que você é um velhote bem razoável, de boa saúde, digamos interessante.

Mas, não se engane. Nesta vida dribla-se quase tudo, menos a velhice. É bom lembrar-se sempre disso. Quer ver? Pois se o destino colocar você, no assento do avião, ao lado daquela moça muito bonita e de corpo desejável, se ela conversar com você, tenha na cabeça que você já não é aquele rapaz que a convidaria a sair para um encontro. Numa dessas você pode levar um tremendo fora, coisa certamente muito chata, a não ser que você seja um formidável cara-de-pau.

Que nos perdoem os que apregoam os benefícios da tal “melhor idade”. Trata-se de uma farsa para garantir a sanidade de muita gente. Não há nada de melhor na velhice. Perde-se muito, ganha-se pouco. Tá bom, você passa a ser alguém com direito a atendimento preferencial. Há um caixa para idosos e gestantes nos mercados, por exemplo.  Mas, já reparou que a fila nesses caixas parece que não anda? Por que os velhos se põem a contar a vida para a mocinha do caixa, desesperando as pessoas que aguardam a vez? Pois é.

Mas, nem tudo é ruim na velhice. Para começar existem os netos, figurinhas apaixonantes que, em geral, dão mais trabalho aos pais que aos avós - graças a Deus. Como se ama a essas extensões de nós mesmos que simulam a garantia de continuidade de nossa passagem pelo planeta. Além do que não é preciso recolher-se porque a velhice chegou. Há muita coisa prazerosa a se fazer. Claro, as coisas podem se complicar com o passar do tempo. O Alzheimer espreita os velhos. Mas, a vida continua, não?

Não se dá conselho a idosos porque tudo que não querem é ouvir sobre coisas que já sabem. Entretanto, vale a pena lembrar que o melhor a fazer é viver um dia da cada vez, aproveitando-o ao máximo. Cada momento que se tem pela frente simula uma graça recebida. De minha parte pretendo sair do mundo de modo diferente daquele em que entrei:

Cheguei chorando, quero sair rindo.

A vida é boa!

Escrito por Ayrton Marcondes

19 julho, 2016 às 2:10 pm

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