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A “Breganha”

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“Breganha” é o nome dado a uma feira de trocas que se realiza aos sábados de manhã em ruas próximas ao mercado de Taubaté. Não sei dizer como as coisas se passam lá atualmente, nem mesmo se a “Breganha” ainda se mantêm com o mesmo movimento. Há muitos e muitos anos não vou a Taubaté, cidade onde morei ao tempo em que cursava o Científico. Para quem não sabe o atual Ensino Médio era dividido em dois cursos com duração de três anos cada um: o Clássico e o Científico. Direcionavam-se, assim, as carreiras dos estudantes segundo as áreas de seus interesses futuros quanto à formação profissional.

A “Breganha” consiste numa espécie de vale-tudo em relação a mercadorias. Ali é possível comprar ou trocar o que quer que seja. Há artigos bons e muita coisa que pode ser classificada como simples lixo. Rádios velhos, televisões usadas, móveis de todo tipo, bicicletas, peças, engrenagens, motores, pneus, enfim tudo o que se possa imaginar em termos de coisas usadas, muitas delas simplesmente inúteis.

De tudo o que se vende e troca na “Breganha” o que mais me chamou a atenção numa das vezes em que apareci por lá foi a banquinha de um sujeito que vendia dentaduras. Isso mesmo: dentaduras. Dirão que isso é impossível porque se existe uma coisa realmente pessoal neste mundo isso é uma dentadura. Afinal, dentaduras são feitas segundo moldes produzidos a partir das gengivas dos interessados. Pequenas imperfeições incomodam muito, ferem as gengivas, provocam dor e tornam impossível a mastigação. Aliás, conversei sobre isso com um dentista, perguntando a ele se seria possível uma pessoa se adaptar a uma dentadura produzida para outra. Ele se mostrou cético embora afirmando que impossível não é. No fim as coisas se ajustam, mas isso depois de grandes sofrimentos.

Pois vi pessoas banguelas experimentando dentaduras na barraquinha da “Breganha”. As dentaduras mantidas dentro de copos com água saíam dali diretamente para a boca dos que queriam testá-las. Uma senhora experimentou algumas e por fim optou por uma delas. Não me recordo do preço. Sei que a pechincha é uma regra no lugar daí quem vende sempre pedir um pouco acima.

Até hoje me pergunto como deve se sentir alguém que carrega na boca a dentadura que serviu a outro. Disseram-me que boa parte das dentaduras vendidas na “Breganha” tinha pertencido a pessoas que morreram. Agora serviriam para ajudar a mastigação de outras pessoas fato que me fez raciocinar se nãos seria caso de dentaduras fazerem parte de espólios, passando de pais a filhos.

Sou levado a falar sobre a “Breganha” e dentaduras porque leio que cerca de 30 mil objetos foram esquecidos no metrô de São Paulo em 2013. Trata-se de objetos variados entre os quais figuram dentaduras. Não deixa de ser curioso o fato de que alguém consiga perder sua dentadura no metrô. Como isso pode acontecer?

Não tenho ideia de como andam as coisas no mundo das dentaduras. Quem sabe com o acesso a tratamentos dentários tenha diminuído a perda de dentes e as dentaduras já não sejam corriqueiras como no passado. Isso sem falar no implante de dentes.

Conheço um homem que usa dentadura e se diverte contando que, para dormir, a deixa dentro de um copo com água sobre o criado-mudo de seu quarto. Não sei se de fato isso acontece. Mas, me lembro de um rapaz, meu parente, que ganhou um reló é,comércio de dentaduras usadas, feir gio à prova d´água e toda a noite o colocava dentro de um copo com água durante as horas de sono. Fazia isso para utilizar o recurso agregado ao relógio. Esse rapaz tinha outros repentes, mas isso já é outra história.

Escrito por Ayrton Marcondes

30 outubro, 2013 às 11:16 am

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Postado em Cotidiano



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